Divanilton Pereira faz avaliação do processo eleitoral

Dois meses após ser proclamada a vitória de Dilma Rousseff nas urnas, as forças progressistas comemoram o clima favorável de crescimento econômico, mas para a CTB a classe trabalhadora deve elevar o tom pela disputa dos destinos do país. Por Jana Sá*

Divanilton Pereira
Neste cenário, o dirigente nacional da CTB e membro do comitê central do PCdoB, Divanilton Pereira, analisa o atual cenário político, as perspectivas para o próximo governo e a importância estratégica da classe trabalhadora no rumo que o país enfrenta em sua nova fase.

Vermelho – Como avalia o resultado do processo eleitoral de 2010?


Divanilton –
As eleições no Brasil ocorreram num momento muito importante dentro da realidade mundial. O povo conquistou, através de suas lutas, uma nova quadra internacional, onde o mundo não está mais polarizado por uma única potência, por uma única nação, ou seja, vive uma tendência multipolar. O Brasil integra este movimento e lidera um continente que tem um papel importante para que esta tendência se acelere ainda mais. Por isso, as eleições 2010 tiveram um papel estratégico não só para o Brasil, mas para o nosso continente. O seu resultado favorece e estimula a necessária integração política e econômica da América Latina.

O povo brasileiro, o grande protagonista político desse processo, descortinou mais uma vez seu futuro. Criou as condições para que nosso país alcance um novo padrão civilizacional.

No que pese a expressão dessa conquista, muita disputa política condicionará seus resultados. O novo centro formal de alianças do governo central e a crise capitalista intensificando-se na Europa – um terço de nossas relações comerciais advém desse continente – já tenciona o novo Governo por agendas e proposituras anti-trabalho.

Outro aspecto importante a registrar é o amadurecimento de nosso povo, rompendo preconceitos, primeiro escolhendo um operário para presidente da República, agora uma mulher para realizar a travessia desenvolvimentista que a nação almeja.

Vermelho – Como se deu a participação da CTB neste processo?


Divanilton –
As grandes mudanças e a sustentação dessas transformações dependem também da iniciativa dos movimentos sociais e sindicais. Nestas eleições, a CTB, consciente de seu papel, definiu com clareza o seu lado e sua posição apoiando a até então candidata Dilma Rousseff. A Central entendeu a importância de garantir a continuidade de um Governo Popular que mudou não só o cenário político, mas também possibilitou uma reconfiguração social no Brasil.

A CTB que teve um papel destacado na realização da CONCLAT – evento histórico que elaborou um documento propondo um novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho – ajudou a posicionar os trabalhadores nessa disputa eleitoral.
No que pese seu novo momento, os movimentos sociais no Brasil, com destaque para CTB, tem clareza ainda dos impasses e desafios estruturais e sociais que o país ainda enfrenta. Da mesma maneira que foram fundamentais para constituição dessa nova realidade, serão imprescindíveis para a conquista de novos e necessários avanços para o país.

Vermelho – Quais as perspectivas para o próximo governo?

Divanilton –
O principal desafio do governo Dilma é avançar no modelo de desenvolvimento iniciado por Lula. Para isso, Dilma tem um elemento importante que é o apoio institucional-parlamentar. Tivemos uma mudança da correlação de forças no Congresso Nacional mais favorável ao atual governo.

Mas temos, também, uma novidade, ou incerteza, o PMDB, que tem sido o pêndulo dos últimos resultados eleitorais no Brasil e que agora ocupa a vice-presidência. Diferente de um partido pequeno, o PR, como do ex-vice-presidente José Alencar.

Outro elemento novo é quadra macro econômica internacional. A crise capitalista, que se manifestou intensamente em 2008 e agora atinge mais fortemente a Europa, já vem criando maiores dificuldades e pressões ao governo Dilma Rousseff. Ameaças de cortes no orçamento, rebaixamento na valorização do salário mínimo, elevação taxas de juros, dentre outras ameaças a classe trabalhadora são uma prova disso.

Nesse cenário, como já disse, os movimentos sociais terão ainda mais um papel decisivo para que o êxito do Governo Dilma signifique conquistas políticas, econômicas e sociais para a classe trabalhadora brasileira.
Penso que a relação dos movimentos sociais com o Governo Lula deixou muitos ensinamentos, mais um é imprescindível para que algumas organizações sindicais façam uma auto-crítica: se perderem a independência política diante do Governo, inviabilizarão os avanços necessários para a nossa classe.

Vermelho – E qual sua opinião sobre a Petrobras sob o Governo Dilma?

Divanilton – A Petrobras sob o governo Lula voltou a ser um dos principais instrumentos da indução econômica nacional. Foi resgatada enquanto símbolo da soberania nacional. No entanto, ainda permanece diversas contradições no foco de sua gestão , nas relações trabalhistas, com destaque para o seu descontrolado nível e modelo de contratação dos serviços contratados.

A Petrobras com o advento do pré-sal torna mais complexa sua transição para uma grande empresa internacional de energia. O novo marco regulatório posiciona a empresa com enormes responsabilidades e desafios em nome do interesse nacional.

Nesse cenário a Petrobras no governo Dilma tende a ter a mesma continuidade estratégica, mas penso que teremos muito enfrentamento político para superarmos os gargalos gerenciais que ainda permanecem na condução da empresa. Caberá ao movimento sindical também a tarefa de enfrentá-los e garantir os interesses coletivos dos petroleiros.

Outra contradição que já vem repercutindo sobre as áreas consideradas maduras – com destaque para o nordeste brasileiro – é a concentração de investimentos para os grandes centros potenciais ou produtores. Penso que esse deva ser o foco maior de nosso enfrentamento estratégico com o governo e a empresa. Reconhecemos o complexo processo de financiamento do pré-sal, mas não podemos admitir que se transforme em justificativa para desmobilizar os demais ativos.

Vermelho – Como avalia a experiência na campanha como candidato a Deputado Federal?

Divanilton – Foi uma experiência nova, apesar de ter sempre uma participação ativa em todos os processos eleitorais. Foi uma candidatura definida quase as vésperas da convenção eleitoral do nosso partido, o PCdoB. Dentre outras nossas limitações, isso também condicionou o resultado alcançado.

Foi uma oportunidade de apresentar-me ao Estado como filho do trabalho e obcecado pelo desenvolvimento. A luz de um diagnóstico das carências estruturais do Rio Grande do Norte, sobretudo de sua infra-estrutura, que condiciona seu padrão de crescimento, apresentamos nossas propostas classistas para que o nosso estado se integre ao novo ciclo da realidade econômica regional e nacional.

Ter ocupado os mais variados espaços e ter relacionados com boa parte da diversidade social do povo potiguar, foi um grande aprendizado, um grande acúmulo. Busquei fazer a minha parte nessa tarefa que recebi.

Aproveito para agradecer a todas e todos que acreditaram e defenderam nosso projeto.


Vermelho –
Recentemente, você representou a CTB nacional durante encontro de ONGs na China. Como foi a reunião?

Divanilton – O evento revela o esforço do governo chinês em estabelecer intercâmbio buscando o aperfeiçoamento de sua democracia, apresentando as organizações convidadas a relação e a constituição das ONGs naquele país.

Respeitando as particularidades das nações, seus estágios de desenvolvimento, suas culturas e suas histórias, o intercâmbio local e internacional, também se apresentam como meios importantes para o avanço civilizacional sustentável. A diversidade da humanidade e os seus desafios contemporâneos exigem realizações como essa que participamos.

O encontro mostrou-se, a partir de seus propósitos programáticos, em fina sintonia com as demandas da nova realidade mundial.


Vermelho –
Quais os destaques?

Divanilton –
Em função de o evento ter uma caracterização focada nas ONGs, isso repercute sobre o conteúdo abordado e debatido. Desta forma, o roteiro e o conteúdo preparado pelas organizações chinesas permitiram um conhecimento da modelagem das ONGs na China, que impressiona pela sua múltipla diversidade de objetivos. Expressa o nível de organização da sociedade chinesa.

Tivemos atividades em que conhecemos um pouco mais a cultura e as tradições do povo chinês. As visitas às cidades e províncias como de atividades econômicas especiais, revelam a força das tradições do povo chinês e a capacidade de planejamento do sistema.

Outro destaque foi o seminário sobre Direitos Humanos na China, nele os presentes apresentaram suas definições conceituais e as realidades em seus países.

Vermelho – Qual avaliação da participação da CTB neste encontro?

Divanilton – Éramos uma delegação composta por 09 membros (um norte-americano, 02 indianos, 02 russas, 02 ingleses e uma vietnamita, além de mim pela CTB/Brasil). Em um encontro como esse e num país como a China, nós aprendemos mais do que repassamos. Mesmo assim, considero satisfatória nossa participação por ter levado a experiência política e organizacional da classe trabalhadora brasileira, sobretudo do período mais recente.

 *Jornalista
Entrevista realizada em 23/12/2010.