Ruth Cavalcante: Sobre o amor à liberdade

Ela é mais do que a primeira presa política do Ceará, uma perseguida pela ditadura e uma exilada política. Ela acredita que a educação é o caminho para a libertação do povo. O Vermelho/CE publica a íntegra da entrevista de Ruth Cavalcante concedida ao jornal O Povo nesta segunda-feira (10). Leia a seguir:

Ruth Cavalcante

Conversar com Ruth Cavalcante é fazer um passeio por boa parte dos momentos importantes da história da democracia do País. Mas não aquela história que a gente lê na bibliografia fundamental, não a história que nos é transmitida. Faço referência à história da qual a população participa, a história feita, vivida e interpretada. Ex-presa política, líder de movimentos estudantis e sociais, educadora, militante, hoje mãe de três, avó de uma, irmã de muitos, Ruth volta a editar cenas que marcaram as décadas de 1960 e 1970.

Encabeçou muitos títulos de vanguarda. Da época, foi a primeira mulher na diretoria do DCE. Também foi a única, no Congresso de Ibiúna, em 1968, que teve prisão preventiva. E ainda foi a primeira do gênero a ser presa no Hospital Militar – nem prisão feminina existia para preso político. E foi de lá, do hospital, que ela protagonizou uma das fugas mais faladas da história recente. Fez que era a irmã, ludibriando soldados de um quartel todo. Na trilha sonora, Gal Costa cantava Coração vagabundo. Ainda chegaram a dizer que era Jerry Adriani, mas era a voz fina da Gal que dava asa à Ruth: “Meu coração não se cansa / De ter esperança / De um dia ser tudo o quer quer / Meu coração de criança / Não é só lembrança / De um vulto feliz de mulher”.

Exilada, viveu no Chile e na Alemanha. Não folgou – sempre houve um jeito para exercer sua missão de educadora, mas ela aprendeu um bocado também. O detalhe é que a Ruth ativista também era a Ruth mulher, irmã de 19, nascida em uma família grande, que queria ter filho. Mesmo na Alemanha, mesmo no exílio. E nasceu a Mariana, que, com Síndrome de Down, mudou toda a história da mãe. Ruth deu um descanso na educação freiriana, foi estudar educação especial. Queria logo voltar ao Brasil, ficou na Alemanha para cuidar da filha. “Decidi ficar na Alemanha até que a Mariana tivesse condição de vir. Decidi emocionalmente ficar na Alemanha por causa dela”. Coisa de mãe.

Foi a Mariana quem inspirou o Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), que Ruth preside. O Centro oferece cursos de educação e saúde norteados pela educação biocêntrica. Atua também com a proposta de Paulo Freire, quando cuida da alfabetização de adultos. Na conversa a seguir, ela se lembra e nos lembra de valores essenciais a qualquer tempo. Dentre eles, destaco o que ela deixou mais marcado – a gratidão pela solidariedade dos tantos que a ajudaram. Parece que é isso o que move Ruth até hoje.

O Povo – Você é mais conhecida pela atuação contra a ditadura. Qual é a lembrança mais forte que você tem dessa época?
Ruth Cavalcante: Todas essas minhas participações vieram de uma consciência plena de querer estar presente. Nós somos de uma geração que tinha como premissa viver a vida coletiva. Isso era muito presente no movimento estudantil, nos movimentos sociais que a gente tinha. E eu sou movida pela vivência, pela convivência. Quando eu entrei pro movimento estudantil, eu já era uma profissional da educação. Eu trabalhava no Movimento de Educação de Base, já tinha experiência como educadora.

O Povo – Você tinha quantos anos?
RC:  Eu entrei na faculdade com 23 anos. Era mais madura que meus colegas, que tinham 18, 19… E eu já era uma profissional da educação. O Movimento de Educação de Base foi o movimento de grande profundidade com as massas populares. Era através do rádio, para as áreas subdesenvolvidas do País. E o Movimento de Educação de Base, o MEB, tinha como um dos assessores Paulo Freire. Eu fazia a assessoria do Paulo Freire. Essa visão do diálogo, da libertação principalmente, estava muito presente. O movimento estudantil pra mim foi uma consequência já desse meu engajamento social e político. Entrei na faculdade já naturalmente como uma liderança nesse sentido. Da diretoria toda do DCE, eu era a única mulher.

O Povo – Qual era seu cargo no DCE?
RC: Eu fui vice-presidente. O conselho do DCE tinha várias mulheres que eram presidentes de diretório; eu era presidente de diretório. Nós fomos eleitos para ser delegados no Congresso de Ibiúna. Foi minha primeira prisão no Congresso em Ibiúna. Foram presos quase mil estudantes, em 12 de outubro de 1968.

O Povo – Você imaginou que poderia ser presa?
RC: A probabilidade era alta de isso existir. Porque o congresso era semiclandestino, a União Nacional dos Estudantes já estava proibida. Nós éramos 30 delegados do Ceará. Desses 30, havia 10 mulheres. Dessas 10 mulheres, eu fui a única que tive prisão preventiva das mulheres.

O Povo – Por quê?
RC: Porque eles já rastreavam a história anterior. O Paulo Freire já tinha sido preso como um subversivo e eu já trabalhava no MEB dentro da proposta freiriana. Juntou a minha vida profissional com minha vida política e eu fiquei sendo mais perseguida.

O Povo – Quantos dias ficou presa?
RC: Nessa prisão em São Paulo, nós passamos todos uma semana presos. Foi toda uma mobilização nacional para soltar os estudantes, porque todas as lideranças do País estavam presas. Todas. E eu vim de lá com a prisão preventiva decretada. Eu estava aqui como vice-presidente do DCE dando um curso sobre o método Paulo Freire. A gente começou esse curso no fim de novembro. Em dezembro, veio o Ato Institucional número 5; foi no dia 13, uma sexta-feira. No dia 16, eu fui dar uma satisfação à turma. E, nesse momento, fui presa pela segunda vez. Como já tinha prisão preventiva vinda de Ibiúna, São Paulo, foi muito mais fácil para eles me localizarem. Eles (militares), nessa época, com o AI-5, podiam invadir a universidade e levar preso sem ordem de prisão.

O Povo – Foi presa quantas vezes?
RC: Duas. Em Ibiúna e essa daqui. Essa daqui, na hora em que eu fui presa, eu já entrei com a ideia de que eu iria fugir, de que eu não ia ficar.

O Povo – Já tinha algum plano?
RC: Eu lia muito Papillon, eu lia muito essas histórias de gente que fugia da prisão. Eu disse: ‘Eu não vou ficar’. E não foi tão complicado, porque não tinha prisão feminina pra presa política.

O Povo – Foi aí que você ficou presa no Hospital Militar.
RC: Foi. Preso político não é junto de preso comum. Tinha prisão pra preso político homem, e não tinha pra mulher. Me botaram no hospital por isso. Era novidade prender mulher.

O Povo – É aquela fuga espetacular?
RC: É, pois é, é famosa. (risos) Eles me botaram num quarto no último andar, um quarto isolado. Eu ficava só, com guarda na porta. Eu muito perigosa, né? (risos)

O Povo – Quanto tempo você passou presa?
RC: Passei quatro meses até fugir. Eu tinha toda uma organização. Comecei a conquistar as enfermeiras. À noite, eu dava curso sobre política para elas. Os soldados foram outros que eu conquistei até que eu pedi pra eles, na hora das visitas, eles não ficarem ali, porque eu queria falar com as minhas visitas de modo mais íntimo. Mas era pra eu combinar com minha família. Ela participou.

O Povo – Quem da sua família?
RC: Meus irmãos, que eram militantes também. Hoje, se sabe que 30 pessoas sabiam dessa fuga. Não sei como a polícia não ficou sabendo também. Tinha o pessoal do Partido, eu fazia parte da Ação Popular, os advogados que acompanhavam, tinha minha família, tinha o pessoal que me acolheu fora.

O Povo – Era muito fácil vazar.
RC: Era muito fácil vazar. Mas as pessoas estavam tão comprometidas que eles (Polícia) não ficaram sabendo, de jeito nenhum. Então, o plano foi o seguinte. Eu tenho uma irmã, a Neuma, que tem a mesma estatura minha. Ela entrou com uma peruca, uma roupa e com outra roupa que eu trocaria, porque minha roupa era lavada em casa. E eu vesti a roupa com que ela entrou. O personagem que entrou saiu, que era de peruca, de óculos bem grandes, vestido de manga comprida pra cobrir também porque eu tava muito branca. Aí, eu saí.

O Povo – E ela ficou lá no quarto?
RC: A Neuma entrou com o Oswald Barroso e o Fonsêca, que foram meus companheiros no Partido. Eles se arriscaram nessa missão. E eram mais duas irmãs no quarto. Eu saí com os dois e elas ficaram no quarto. Os mesmos quatro que entraram saíram. Eu tinha que pegar a identidade dela lá embaixo. Ela entrou com o Oswald e o Fonsêca e eu saí com eles dois. Só que a questão é que ficou uma pessoa a mais, uma visita a mais. Mas eu já tinha milimetricamente pensado em tudo. Eu saí do quarto cinco minutos antes de terminar a visita. E elas saíram cinco minutos após minha saída; era a hora que saía todo mundo, as visitas dos outros doentes. Elas se confundiram no meio da multidão.

O Povo – Você sabe que isso poderia ter dado errado e seria muito pior pra você?
RC: Poderia e foi isso o que o nosso advogado, o doutor Pádua Barroso, disse: ‘Todo preso tem direito a buscar a sua liberdade. Agora, o risco é ser pego em flagrante. Se ela for pega em flagrante, aí, complica demais a vida dela’. Mas aí eu não tive a menor dúvida de que eu tinha que fazer isso. Mas só fiz por causa de algo que existia naquela época, fortíssimo, que é a solidariedade. As pessoas, de fato, se arriscavam umas pelas outras.

O Povo – As pessoas se ajudavam por que sentido?
RC: Pelo sentido político, mas também pelo sentimento de solidariedade das pessoas, que era muito alto. Todas as pessoas que participaram desse fato se arriscaram. E não era risco qualquer. Era risco de vida. A pessoa que me emprestou o sítio quando eu fui depois, o motorista que me conduziu…

O Povo – Você saiu ao som de Jerry Adriani mesmo?
RC: Não (risos). Não era Jerry Adriani. O mais certo era ter sido a Gal Costa, com aquela música Coração vagabundo. Nos jornais, saiu que era Jerry Adriani. Tudo isso fazia parte também, porque eu botava a música bem alto na hora da visita pra ninguém escutar o que a gente estava conversando.

O Povo – Você foi pra onde?
RC: Eu passei 15 dias num sítio, aqui em Fortaleza, enquanto baixavam mais os boatos, porque todas as fronteiras foram cercadas.

O Povo – Você era considerada um perigo medonho.
RC: Ah, era perigosíssima. E saiu no jornal: Comunista fria e calculista. (risos) Era perigosíssima.

O Povo – Mas teve um tom frio e calculista aí.
RC: Que teve, teve. (risos) Eu fiquei nesse sítio enquanto as fronteiras eram liberadas. Aí, eu fui pra Recife, passei alguns meses lá. Foi quando o Partido me solicitou pra eu ir pra São Paulo. Fiquei fazendo ponto de contatos com a direção da Ação Popular, porque esse meu feito fez com que eu fosse uma pessoa merecedora de confiança. Eu era a pessoa que fazia contato com todas as lideranças de todos os setores com a direção nacional.

O Povo – E daí até o seu exílio?
RC: Depois, o cerco foi aumentando. Pra todos, não só pra mim. Prenderam a minha irmã, a Neuma, a que tinha me ajudado, pra que ela revelasse onde a gente estava. Foi quando a gente decidiu ir pro Chile. Eu já era casada com o João de Paula, o pai da Mariana, que também era perseguido. Nós chegamos no Chile em fevereiro. Quando foi em setembro, teve o golpe. Foi outro drama. Nós ficamos perseguidos. Só o fato de ser estrangeiro já era motivo pra você ser preso.

O Povo – Você fala do golpe de Estado no Chile, do Allende (Salvador Allende, em 1973).
RC: Sim, do Allende. Nós ficamos num refúgio durante quatro meses, era tipo uma prisão também, só que eram 600 pessoas. Foi uma experiência muito rica – conviver com 600 pessoas durante quatro meses numa situação de extremo estresse. Todos os setores se organizaram. Por exemplo, o pai da Mariana, que é médico, se organizou com um médico pra cuidar das doenças que apareciam ali. Nós, professores, íamos dar aula pros filhos pequenos dos que estavam ali.

O Povo – Tinha gente de onde ali?
RC: Tinha gente de toda a América Latina. Foi a primeira vez que eu me senti latino-americana na minha vida. E também vi a necessidade de aprender espanhol, porque nós somos o único país estrangeiro da América Latina. Nesse refúgio, vinham as embaixadas entrevistar as pessoas pra aceitar ou não nos seus países. A Alemanha me aceitou. Muitos países não me aceitaram, porque faziam primeiro uma pesquisa no Brasil pra ver como é que era. E eu com essa fama… (risos).

O Povo – Fria e calculista desse jeito, ninguém queria.
RC: Ninguém queria. Aí, a Alemanha na época tava numa situação muito complicada, de muita repressão, e ela estava querendo melhorar sua imagem no mundo. Então, abriu muitas vagas pros exilados no Chile. Aí, nós fomos pra Alemanha.

O Povo – Você também viveu um tempo muito rico lá.
RC: Lá também. Foram seis anos. Os outros países davam simplesmente o passaporte de entrada. Na Alemanha, davam passaporte de entrada, bolsa de estudo e uma casa pra morar. Por quê? Porque a gente entrou na lei dos refugiados da Alemanha Oriental. E é a lei da anistia melhor que tem no mundo.

O Povo – Como você lidava com a cultura, com a língua?
RC: A primeira coisa que a gente teve que fazer foi um curso de um ano pra depois fazer uma prova e entrar na universidade. E aí, eu fiz meu curso de psicopedagogia lá. Eu já estava casada há sete anos com o João de Paula, decidimos ter um filho. Foi quando a Mariana nasceu com Síndrome de Down.

O Povo – Vocês estavam com quanto tempo lá quando ela nasceu?
RC: Ela nasceu em 77, a gente estava com três anos lá. Mas a gente já era casado há sete. E eu sempre tive vontade de ter filho. O meu lado desse instinto materno é muito forte. Eu vim de uma família de muitos irmãos, a minha vontade de ter filho era muito grande e eu não podia por causa dessa circunstância toda.

O Povo – E foi o lugar ideal?
RC: Foi o lugar ideal, porque tinha toda a infraestrutura. A gente já estava vivendo em plena liberdade mesmo, fazendo os cursos que queria fazer e também foi ideal a condição para ela nascer. Porque, com a condição de Síndrome de Down dela, ela tinha acesso ao que tinha de mais moderno pra situação dela, nos ajudou muito.

O Povo – Foi quando você foi estudar educação especial.
RC: Foi, porque, antes, toda a minha direção de estudo era pra educação de adulto. Aí, quando a Mariana nasceu, eu resolvi entrar nessa e foi ela que inspirou o CDH.

O Povo – E você voltou logo que houve a anistia?
RC: Da Alemanha, voltei assim que houve a anistia.

O Povo – Você tinha vontade de voltar pro Brasil?
RC: Todos os dias, todos os dias.

O Povo – Mas você gostava da sua vida lá na Alemanha?
RC: Em termos. Pra estudo, é muito bom. O povo alemão, as amizades que nós fizemos, são amizades que duram até hoje. Porque são pessoas muito íntegras, muito comprometidas, mas é uma cultura muito diferente da nossa. Muito diferente. Então, isso toma de você um esforço diário pra você se adaptar. Mas, quando a Mariana nasceu, eu decidi ficar na Alemanha até que ela tivesse condição de vir, até que ela tivesse todos os tratamentos. Eu decidi emocionalmente ficar na Alemanha por causa dela.

O Povo – Você se arrepende de ter feito ou não ter feito algo?
RC: Não, não. Acho que fiz o que eu deveria ter feito. Eu fico gratificada comigo mesmo de ter tido essa ousadia de fazer o que eu fiz. As coisas que poderiam ser consideradas como erro eram circunstâncias da época.

O Povo – Como é a sua posição político-partidária hoje?
RC: Hoje, eu não sou filiada a nenhum partido. Mas sou uma militante da democracia, uma militante socialista. Sempre votei nos candidatos de esquerda e trabalho para eles. Tenho uma ligação muito grande com o pessoal do PCdoB, com o próprio pessoal do PT. PCdoB, porque historicamente eu fui do PCdoB.

O Povo – Acha que o Lula fez um bom governo?
RC: Acho. Acho que o Lula fez o que poderia se fazer. Eu acho que o Lula é um estadista como o Brasil nunca conheceu. No mundo capitalista em que nós vivemos, acho que o Lula fez o melhor governo que o Brasil já teve.

O Povo – Você se sente uma personagem importante na história da democracia?
RC: Importante não. Eu me sinto uma história que está viva, mexendo.


Prêmio Bertha Lutz, do Senado

Ruth Cavalcante é uma das cinco escolhidas para receber o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, prêmio instituído pelo Senado Federal, para agraciar mulheres que tenham oferecido relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher e questões de gênero no País. A entrega será em 8 de março, no Dia Internacional da Mulher. “É mais do que uma homenagem. É um reconhecimento não meu. Eu sou apenas uma representante da mulher. É um reconhecimento do espaço que a mulher tem hoje, de Brasil. Não sou eu, não é a minha história individual. Não é a Ruth, é o que eu represento como mulher”, justificou ela.

Momento simbólico

Ainda sobre o prêmio Bertha Lutz, Ruth acrescenta que é “muito simbólico” recebê-lo no momento em que o País elege a primeira presidente. “Isso só me estimula a continuar na construção de um País mais justo e na criação de oportunidades para homens e mulheres, excluídos de seus direitos”, destacou. A neta, de seis anos, perguntou à Ruth se, um dia, ela ganharia também esse prêmio. “E eu disse: ‘Com toda certeza, você vai ganhar esse prêmio, porque você vai ter essa visão que a vovó teve. Você vai estar do lado de quem precisa. É isso que eu espero de você. Por isso, você vai ganhar esse prêmio’”, contou Ruth.

Saiba mais

1979 Anistia –  Foi concedida em agosto; Ruth voltou ao Brasil em dezembro

1968 Ibiúna – Ruth foi presa no Congresso de Ibiúna no dia 12 de outubro

Perfil

Ruth Cavalcante tem 67 anos. É psicopedagoga, pela Escola Superior de Pedagogia Social de Colônia, na Alemanha. É fundadora e diretora do Centro de Desenvolvimento Humano (CDH) desde 1981. Presta assessoria a órgãos públicos e prefeituras, nas áreas de educação e de grupos de trabalho. É pós-graduada em Educação Biocêntrica e Psicologia Transpessoal. Nasceu em Pedra Branca, a 261 quilômetros de Fortaleza. Tem 19 irmãos. “Eu sou a 13ª do total e sou a quarta do segundo casamento. Eu tive muitos pais e muitas mães”, rememora. Casou, pela primeira vez, com o médico João de Paula Monteiro Ferreira, também ex-perseguido político. Com ele, teve a Mariana, de 33 anos. Do segundo casamento, vieram a Sara, de 28 anos, e o Davi, de 26. Tem uma neta, Mel, de 6 anos. O segundo marido de Ruth é Cezar Wagner de Lima Gois, professor do Departamento de Psicologia da UFC. Em 2001, ela recebeu a Medalha Paulo Freire, da Câmara Municipal, concedida a educadores que deram contribuição a Fortaleza. Ganhou por sua atuação na educação biocêntrica.

A conversa com Ruth Cavalcante foi tida na sede do CDH, no bairro Dionísio Torres, em uma tarde de dezembro. Logo depois, Ruth se preparava para ir a uma escola desenvolver um projeto piloto de disseminação da cultura de paz. Segundo ela, são altos os índices de violência escolar no local

O Movimento de Educação de Base, fundado em 1961, realiza ações diretas de educação popular no Norte e Nordeste.

A proposta pedagógica de Paulo Freire previa uma educação libertadora, em que não há um sujeito que domina o outro. Educador e educando trabalham para a transformação do mundo

O Centro de Desenvolvimento Humano (CDH) é presidido por Ruth. Sara, a filha do meio, trabalha com ela. São oferecidos cursos na área biopsicossocial, de dinâmicas grupais e de saúde mental, por exemplo. Há trabalhos também com alfabetização de adultos, dentro da proposta de Paulo Freire.

A educação biocêntrica é regida pelo princípio biocêntrico, em que a vida é a razão de ser de tudo, o que dá sentido a tudo.

“O ser biocêntrico precisa ser um ser transformador para que a vida seja vivida plenamente”, explica Ruth Cavalcante. Esse princípio se ramifica em todos os cursos

Fonte: O Povo