Protestos e muita animação marcam Festa do Bonfim em Salvador

“Quem tem fé vai a pé. Quem não tem vai também”. Assim poderia ser traduzido o que se viu nesta quinta-feira (13), durante o cortejo e a Lavagem do Bonfim, em Salvador. Música, irreverência e muitos protestos marcaram a caminhada de 8 km, que separam a Igreja da Conceição da Praia, no Comércio, e a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, no Bonfim. O bloco do PCdoB era um dos mais animados da festa, que contou ainda com a participação de autoridades, políticos e cerca de um milhão de pessoas.

PCdoB na Lavagem do Bonfim

O cortejo começou às 9 horas após uma cerimônia ecumênica. O governador da Bahia, Jaques Wagner, secretários de Estado, autoridades locais e dezenas de lideranças políticas puxaram a procissão de milhares de baianos e turistas que participavam da festa. O prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB) não compareceu ao evento.

Nas ruas e calçadas, o espaço era pequeno para quem queria acompanhar o cortejo. Bandas de sopro e de percussão animavam a caminhada, feita sob o forte calor do verão baiano. Se o cansaço bateu, ninguém reclamou. Afinal, esta é uma das festas mais democráticas que existem. O único critério para participar é ter disposição para seguir o cortejo, que pode ser regado a água mineral, de coco ou a cerveja e outras bebidas vendidas durante todo o trajeto.

“Aqui é sem dúvida um grande palco dos sentimentos do povo de Salvador e é impossível não misturar alegria com dor, com a realidade. Por isso, a festa do Bonfim foi sempre um misto de celebração, de homenagens ao Senhor do Bonfim e de protestos contra as injustiças sociais”, informou a deputada federal, Alice Portugal.

PCdoB na avenida

A Lavagem do Bonfim é uma grande festa onde o protagonista é o povo. Por isso mesmo, a critica política tem espaço garantido durante todo o cortejo. O alvo principal das críticas foi o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), que vive uma das maiores crises políticas da história da cidade.

Partido com a terceira maior votação na cidade nas últimas eleições, o PCdoB levou para o cortejo seu compromisso com a capital baiana. Puxado pelo slogan “Salvador merece mais”, o bloco comunista lembrou os principais problemas que afligem a população, como a tumultuada aprovação do PDDU, a máfia das Transcons, a demora do metrô, o caos no trânsito e a reprovação das contas da Prefeitura pelo Tribunal de Contas dos Municípios “Nós estamos aqui para fazer um protesto, mas também para dizer que Salvador pode mais, merece mais, quer mais e tem o direito de ter mais. O PCdoB é parte desta busca de solução para os problemas da cidade”, declarou o presidente estadual do PCdoB, deputado federal Daniel Almeida.

O presidente municipal do PCdoB, Geraldo Galindo, também reforçou as críticas à administração da cidade. “Nós queremos dizer que Salvador é uma cidade maravilhosa, uma cidade que atrai turistas de todos os cantos do mundo. No entanto, nós vivemos em uma cidade mal tratada, em que o prefeito não zela pela população, que só pensa nos interesses pessoais e comerciais de seus parceiros, então esta cidade merece muito mais, merece coisa melhor e o PCdoB está se preparando para dirigir esta cidade”, acrescentou Galindo.

As vereadoras Aladilce Souza e Olívia Santana também acompanharam o cortejo e reafirmaram a disposição da bancada comunista de votar pela rejeição das contas de João Henrique, além de convocarem o movimento social a cobrar o mesmo posicionamento dos demais vereadores.

Outra liderança política que prestigiou o evento foi a deputada estadual eleita pelo PCdoB, Kelly Magalhães. “É a primeira vez que eu venho à Lavagem do Bonfim e estou achando a festa linda. É uma preparação para o início do mandato, uma forma de me sentir mais próxima, de entender melhor os problemas e anseios do povo baiano”, declarou Kelly, que é de Barreiras, no Sudoeste baiano.

Sagrado e profano

Enquanto uns protestavam, muita gente só queria mesmo era aproveitar a festa, que tem seu lado sagrado e o profano. A parte religiosa começa no início de janeiro com as novenas ao Senhor do Bonfim, as orações e missas em homenagem ao padroeiro dos baianos. Na segunda quinta-feira do mês acontece a procissão, na qual os fiéis levam a imagem da Igreja da Conceição da Praia até a Colina Sagrada, no Bonfim, aí termina a parte católica do evento.

Mas, graças ao sincretismo religioso, que é preponderante na Bahia, começa aí uma nova fase das homenagens, com as baianas, com seus trajes tradicionais, lavando as escadarias com muita água de cheiro. Esta água serve também para abençoar os adeptos das religiões de matrizes africanas e todos que quiserem garantir bons fluidos durante o resto do ano. Depois da Lavagem, tem início à parte mais longa do evento: a festa de rua, que não costuma ter hora para acabar.

De Salvador,
Eliane Costa