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Regime pró-EUA de Mubarak agoniza: protesto reúne 2 milhões

Parece que os dias do regime ditatorial de Hosni Mubarak estão contados. A manifestação convocada pela oposição pela democratização do Egito reuniu cerca de 2 milhões de pessoas nesta terça-feira (1) na Praça Tahrir e em seus arredores, no centro do Cairo, ultrapassando a meta de 1 milhão estabelecida pelos organizadores, de acordo com a TV árabe Al-Jazeera.

Por Umberto Martins

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Houve protesto também em Alexandria, segunda maior cidade do país, e Suez. As forças de oposição marcharam unidas e negaram o diálogo proposto pelo governo (sempre sob orientação dos EUA), depois de se sentir encurralado e verificar que o recurso à repressão acabou se revelando um tiro pela culatra.

Um povo sem medo

A ONU estima que 300 pessoas foram mortas e mais de 3 mil ficaram feridas ao longo dos últimos dias em que a ira contra o ditador invadiu as ruas. São os mártires da rebelião. O governo também censurou a TV Al-Jazzera, prendeu jornalistas, decretou toque de recolher proibiu a internet e praticou outras patifarias.

Mas nada disto foi suficiente para impedir a massiva adesão popular à “marcha de 1 milhão”, que para agradável surpresa dos organizadores e desespero de Mubarak praticamente dobrou de tamanho. O povo não teve medo. Ignorou o toque de recolher e continuou ocupando as ruas do Cairo. O governo mudou de tática e o Exército se comportou com civilidade desta vez. Fiel aos conselhos de Washington, não reprimiu o protesto e provavelmente evitou o pior com isto.

EUA de saia justa

O imperialismo estadunidense ficou numa tremenda saia justa diante do infortúnio do seu fiel e submisso aliado no Oriente Médio. O mesmo se pode dizer em relação a Israel, cujo governo enviou nervosas mensagens a Barack Obama implorando apoio ao ditador do Egito, que faz o jogo sujo dos algozes do povo palestino na região.

Os EUA cultivam a falsa imagem de defensores da democracia e dos direitos humanos no mundo. Não ficaria bem se Obama fizesse declarações públicas em defesa aberta do aliado ditador. Daí as manobras algo desesperadas e dúbias de Washington, com pressões de bastidores e declarações moderadas que reclamam mais democracia e menos repressão, sem retirar o apoio ao ditador. Ao mesmo tempo, registra-se uma grande fuga de cidadãos norte-americanos residentes no Egito, receosos de virar alvo fácil da ira popular, como ocorreu no curso da revolução iraniana de 1979, apesar das circunstâncias diferentes.

Manobras do imperialismo

A última ordem do império para o regime, anunciada nesta terça-feira, no calor da manifestação dos 2 milhões, determina que Mubarak não deve se candidatar à reeleição na próxima eleição presidencial, que deve ocorrer em setembro. Obediente, o ditador anunciou à noite que não mais disputará a presidência. Populares que permaneciam concentrados no centro da capital comemoraram a novidade, mas deixaram claro que querem Mubarak fora imediatamente e que a luta continua.

A oposição já havia anunciado repetidamente que não aceita outra solução fora da renúncia imediata do presidente, criação de um governo de transição e a convocação de eleições livres, refletindo com fidelidade o anseio popular. “A única coisa que aceitaremos dele (Mubarak) é que pegue um avião e se vá”, disse o advogado Ahmed Helmi, de 45 anos, um entre os dois milhões de egípcios entrevistado na Praça Tahrir pela Al-Jazzera.

Novo Oriente Médio

A onda de protestos contra o presidente Hosni Mubarak começou no dia 25 de janeiro, na sequencia da rebelião que derrubou o ditador da Tunísia, Ben Ali, outro fiel aliado do imperialismo americano e europeu.

Tanto na Tunísia quanto no Egito o imperialismo já perdeu os anéis e manobra dia e noite para preservar os dedos. Como pano de fundo dos acontecimentos em curso no chamado mundo árabe não é difícil perceber a decadência e crise da hegemonia dos EUA no globo.

Os acontecimentos atuais pavimentam o caminho para mudanças profundas numa região que é rica em petróleo e em recursos naturais, e apontam na direção de um Novo Oriente Médio que não está em sintonia com os projetos do imperialismo americano e europeu. A nova ordem que a rebelião popular desenha nas ruas é motivo para fortes dores de cabeça em Washington e Telaviv.