Milhares de manifestantes vão às ruas em apoio ao governo no Irã
Em uma manifestação realizada na Praça Azadi, em Teerã, centenas de milhares de pessoas reiteraram seu apoio ao atual governo e repúdio ao protesto realizado na última segunda-feira (14) pela oposição, ainda uma sequela das eleições presidenciais de 2009, quando o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad foi reeleito para mais quatro anos de mandato, enquanto a oposição ia às ruas contra supostas fraudes no processo eleitoral.
Publicado 18/02/2011 19:57
Os manifestantes gritaram palavras de ordem contra a oposição, dirigida por Mir Hussein Mousavi, ex-primeiro-ministro, e Mehdi Karroubi, ex-presidente do Parlamento.
Na última quinta-feira (17), Sadegh Larijani, chefe da Justiça iraniana, afirmou que os oposicionistas são "apoiados pelos sionistas, pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido" e assegurou que o poder impedirá aos "líderes da sedição que publiquem suas declarações".
Em uma carta publicada no site Kaleme.com, Mousavi criticou as autoridades e manifestou satisfação pelas manifestações de segunda-feira. Karroubi e Mousavi se encontram sob prisão domiciliar de fato desde as manifestações de segunda.
Comparações infundadas
A mídia ocidental tenta comparar as manifestações realizadas no Irã esta semana com as que derrubaram o ditador Hosni Mubarak do poder no Egito há uma semana. As comparações são infundadas, visto que as manifestações no Egito procuravam derrubar um regime ditatorial que há pelo menos 30 anos é completamente submisso ao imperialismo americano.
A revolução iraniana de 1979, que eclodiu também em 11 de fevereiro, derrubou a ditadura do Xá Reza Pahlevi, um monarca instalado no poder pelos estadunidenses e britânicos após um golpe de Estado desferido contra o regime democrata de Mohamed Mossadegh.
Ainda na década de 1940, Mossadegh elaborou uma política denominada "equilíbrio negativo", que se opunha à dominação britânica das instalações petrolíferas do sul do país e à cessão de uma concessão petrolífera à União Soviética no norte.
Quando consegue nacionalizar a exploração do petróleo, em 1951 e inicialmente com o cínico apoio dos Estados Unidos, torna-se alvo preferencial dos britânicos e estadunidenses, por ter se tornado um exemplo ameaçador para as grandes empresas de petróleo americanas e britânicas no Oriente Médio.
Londres recorreu a todos os meios para derrubar o governo mais democrático que o Irã usufruía. Mossadegh resistiu por meios legais e pacíficos no âmbito nacional e internacional. No entanto, foi um golpe concebido pelos serviços secretos britânicos e executado pela CIA que o tirou do poder em 1953.
Pilar de sustentação
Sua derrubada é considerada um dos fatores que gerou a revolução de 1978-1979. De forte conteúdo anti-imperialista, a revolução iraniana seguiu um curso ditado pelos religiosos islâmicos, o que originou grandes deturpações no que se refere aos direitos humanos, por exemplo.
Ainda assim, a revolução iraniana detém grande apoio popular, que pode ser visto toda vez que o regime convoca manifestações. Algo impensável em regimes ditatoriais subalternos ao imperialismo, como o Egito, Arábia Saudita, Bahrein e Iêmen, entre outros. O forte conteúdo anti-imperialista da revolução é um dos pilares de sustentação desse apoio popular.
Da mesma forma, qualquer manifestação de "ocidentalização" é vista com olhares desconfiados por parte da maioria da população. O regime de Reza Pahlevi alinhou-se totalmente com o imperialismo e a principal riqueza do país foi retirada das mãos dos iranianos e entregue às grandes empresas petrolíferas dos Estados Unidos e do Reino Unido.
A atual rebelião no mundo árabe pode ser comparada, em parte, ao processo revolucionário que o Irã viveu em 1978 e 1979, de cunho anti-imperialista e democrático. O Irã é vítima, hoje, do mesmo processo de dilapidação ao qual o regime democrático de Mossadegh foi submetido por Estados Unidos e Reino Unido.
Os iranianos conhecem amplamente a ação deletéria da CIA, que na década de 1940 despejou milhões de dólares no país para comprar religiosos e políticos para agirem contra Mossadegh, no processo que levou ao golpe de Estado de 1953.
Da redação