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Sorrentino: Neuton Miranda, o caboclo destemido, íntegro, honesto

Na homenagem que me coube prestar à memória de Neuton Miranda, ex-presidente estadual do PCdoB do Pará e membro do Comitê Central, fiz minhas as palavras de todos os oradores que honraram essa memória e o PCdoB. Leila Mourão, camarada e viúva de Neuton, deu-nos uma síntese da trajetória dele, o tempo em que emocionante vídeo foi projetado no evento.

Por Walter Sorrentino*

Em nome da direção nacional, inclinei a bandeira quase nonagenária do PCdoB em tributo a Neuton. Não mais como luto, apesar da nostalgia e da falta, mas já como espírito de superação que marcou o ano transcorrido, sob o impulso do exemplo que ele deixou. Foi um ato vibrante, cheio de perspectivas para a luta dos paraenses e dos comunistas.

Porque Neuton se foi num momento em que o Brasil já houvera sido posto nos trilhos de um projeto nacional de desenvolvimento, ainda contraditório e inicial, retomando a construção nacional. Ele foi parte dessa luta, e ela frutificou. Sem ele, é um pouquinho mais difícil pôr a locomotiva em movimento nos trilhos, mas o caminho está traçado.

Homenageei um brasileiro, um patriota. O caboclo destemido, íntegro, honesto. O democrata consequente, perseguido por sua luta pelas liberdades, desde a UNE, o decreto-lei 477 que lhe foi aplicado, a clandestinidade. A generosidade solidária que sempre o caracterizou. E particularmente sua capacidade, destacado que foi em tudo que realizou, inclusive à cabeça do Serviço de Patrimônio da União, em que lhe coube prêmio de menção honrosa entre todos os projetos em desenvolvimento na área.

Homenageei um comunista na mais completa acepção da palavra. Um cara que deixou frutos, o maior deles em seu partido do Pará, um partido de comunistas real, temperado que foi em meio a terríveis vicissitudes na luta pelas liberdades, contra o latifúndio, pelo progresso material e espiritual do povo.

Homem lúcido, que compreendia a fundo o rumo socialista a descortinar no Brasil, tendo por caminho a luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento, soberano, solidário, popular, de integração com os vizinhos sul-americanos.

Acima de tudo, homenageei o homem de partido. Junto com sua simplicidade, talvez sua mais marcante característica. Neuton é dessa geração que se projetou e realizou por meio da projeção e realização de seu partido, o PCdoB. Sua trajetória reflete mais o comportamento e os condicionantes do PCdoB que suas próprias virtudes as quais, como já disse, foram de muita capacitação pessoal. Porque ele se guiou por uma perspectiva transformadora que julgava irrealizável sem o concurso de um partido revolucionário. Uma vez mais se demonstrou isso: o vídeo em sua homenagem é um vídeo de homenagem ao PCdoB, onde ele se inseriu.

Nós homenageamos os nossos. Neuton se foi abruptamente. Pessoas assim não são mártires, mas heróis do povo brasileiro. O Brasil tem uma infinidade de herois, eventualmente martirizados, e nós os lembramos pelos exemplos que deram. Gente assim se vai, mas não morre. Viram estrelas que se incorporam ao firmamento dos herois do povo, estrelas que alumiam e assim servem de referência à navegação dos pósteros, rumo a novo estágio civilizatório da humanidade. Foi se guiando pelas estrelas que os ancestrais descortinaram ciência; assim será para as futuras gerações. Neuton Miranda forma a constelação dos paraenses ao lado de Paulo Fonteles, Expedito, Canuto, Amazonas, tantos mais…

*secretário de Organização do PCdoB