Polícia reprime protesto pacífico dos trabalhadores em Atenas

A polícia grega entrou em confronto com trabalhadores durante um protesto pacífico na capital grega nesta quarta-feira. Dez pessoas teriam sido presas. O governo, parlamentarista, é liderado pelo social-democrata George Papandreou, que aplica uma dura receita neoliberal à economia do país.

Pela primeira vez neste ano, o movimento sindical lídera uma greve geral contra o pacote de arrocho aplicado pelo governo, que na verdade foi imposto ao país pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e a cúpula da União Europeia, em troca de uma “ajuda” estimada em 110 bilhões de euros, feita para evitar a moratória e garantir o pagamento da dívida externa do país, contraída principalmente junto a bancos franceses e alemães.

Quem paga a dívida

Nem um só tostão desses bilhões será destinado a minorar a penúria do povo. Pelo contrário, o ônus do empréstimo, traduzido nas condições impostas pelo FMI, foi jogado sobre os ombros da classe trabalhadora. Houve corte de salários, aumento da idade da aposentadoria, elevação de impostos e redução de direitos. O sacrifício é o meio de economizar dinheiro para pagar os juros da dívida, ou seja, garantir o lucro dos banqueiros.

O pacote do FMI deprime o consumo e resulta no aprofundamento da crise econômica e social que atormenta o país e gera instabilidade política. A Grécia caminha em 2011 para o terceiro ano seguido de recessão, em contraste com outros países da União Europeia, que já ensaiam uma tímida recuperação.

No último trimestre do ano passado, a produção caiu 6,6% em relação ao mesmo período de 2009. A taxa de desemprego, uma das mais elevadas do velho continente, está em torno de 14%. A revolta entre os trabalhadores é grande. No ano passado, foram realizadas 15 greves gerais contra o pacote de arrocho.

Repressão

Nesta quarta feira, em meio à greve geral, cerca de 35 mil ativistas saíram em passeata pelas ruas de Atenas, em direção ao Parlamento, num protesto pacífico que foi duramente reprimido pelo governo. Policiais da tropa de choque lançaram gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral contra os manifestantes. Segundo a polícia, um jornalista foi levemente ferido por uma bomba incendiária.

Lojistas fecharam as portas e os serviços públicos pararam em toda a Grécia durante a greve. Os hospitais ficarão 24 horas funcionando apenas em esquema de emergência. As escolas fecharam e os transportes foram afetados. Voos emergenciais foram autorizados apenas entre 10h e 14h (7h às 11h em Brasília), e os navios passaram todo o dia atracados nos portos. Jornalistas aderiram ao protesto, levando a TV estatal a transmitir documentários, e as rádios a tocarem músicas.

Onda de protestos

"Esta greve inicia uma onda de protestos neste ano com a participação de trabalhadores, pensionistas e desempregados. Somos contra essas políticas que certamente estão causando pobreza e levando a economia a uma profunda recessão", disse à Reuters Ilias Iliopoulos, secretário-geral do sindicato Adedy, que reúne funcionários públicos.

Os credores estrangeiros da Grécia aprovaram neste mês uma nova remessa de US$ 15 bilhões, que retorna a eles na forma de pagamento dos juros, mas aproveitaram a deixa para impor metas mais rígidas de arrecadação com privatizações e pediram mais “reformas” neoliberais. Entre outras coisas, eles exigem um compromisso do governo com privatizações no valor de 50 bilhões de euros até 2015.

“Não agüentamos mais”

Os manifestantes se reuniram no centro de Atenas. "Não aguentamos mais. Estou procurando trabalho há muitos meses, enquanto outros comem com colheres de ouro", disse Thanos Lykourias, de 27 anos.

No ano passado, o resgate à Grécia foi seguido de outro pacote de ajuda, de 85 bilhões de euros, à Irlanda, que também aplicou medidas draconianas contra os trabalhadores. A perspectiva não é boa para os gregos. O próprio governo informou que espera o aprofundamento da recessão (e com ela do desemprego), com a economia encolhendo mais 3% ao longo deste ano. A crise da dívida externa na Europa guarda muitas semelhanças com a crise da dívida na década de 1980 no Brasil e em outros países da América Latina, que nos custou mais de duas décadas perdidas em termos de desenvolvimento. Os protestos tendem a aumentar na Grécia e em outros países europeus.

Da Redação, com agências