Rei saudita oferece migalhas ao povo para evitar protestos

Enquanto centenas de pessoas aderiram a uma campanha no Facebook pela realização de um "dia de fúria" no mês que vem na Arábia Saudita, o rei saudita, Abdullah, anunciou uma série de benefícios para a população, no valor de US$ 35 bilhões. A medida lembra o reajuste concedido a funcionários públicos e aposentados pelo regime do ex-ditador egípcio Hosni Mubarak dias antes de sua renúncia.

Abdullah anunciou o pacote para atender às reclamações da população antes de retornar nesta quarta-feira (23) à Arábia Saudita, após três meses de tratamento médico no exterior. Os benefícios incluem recursos para compensar a inflação em alta, ajudar jovens desempregados e financiar estudos no exterior.

O país, dirigido com mão de ferro pelo rei, é um dos mais fiéis aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio e o maior produtor de petróleo da região. As classes dominantes não estão dispostas a mudar o regime, que até agora não foi alvo de maiores protestos. A situação, porém, tende a mudar.

Sem mudanças políticas

A oferta do rei não prevê reformas políticas no regime do país – uma monarquia absolutista e reacionária -, tais como eleições municipais, que vêm sendo uma exigência de grupos de oposição e políticos liberais. O reino não tem Parlamento eleito e não tolera dissidentes políticos.

Abdullah, que estaria com 87 anos, viajou para os Estados Unidos em novembro para tratamento de uma hérnia de disco. Nas últimas quatro semanas ele estava se recuperando no Marrocos de uma cirurgia realizada em Nova York.

Sauditas organizam pela internet protestos para exigir eleições, liberdades para as mulheres e libertação de presos políticos. Até esta quarta-feira de manhã, mais de 460 pessoas haviam aderido no Facebook ao protesto convocado para 11 de março no reino, que é o maior exportador mundial de petróleo. É impossível verificar, no entanto, quantas dessas pessoas estão na Arábia Saudita.

Revoltas populares derrubaram os ex-ditadores da Tunísia e do Egito foram iniciadas por jovens que se mobilizavam por redes sociais, mas ativistas na Arábia Saudita disseram que uma recente convocação pela internet para protestos em Riad não conseguiu levar ninguém às ruas. No mês passado, uma manifestação em Jidá, depois de uma inundação na segunda maior cidade saudita, foi rapidamente dissolvida.

Reivindicações

Ativistas do Facebook reivindicam "que o governante e os membros do Conselho Shura (consultivo) sejam eleitos pelo povo", que haja um Judiciário independente, liberdade de expressão e reunião e que sejam libertados os presos políticos.

Eles pedem também um salário mínimo de 10 mil rials (US$ 2.700 dólares), mais oportunidades de emprego, criação de um órgão de combate à corrupção e revogação de "impostos e taxas injustificados".

Há ainda pedidos de reconstrução das Forças Armadas, reforma do clero conservador sunita e "abolição de todas as restrições ilegais sobre as mulheres".

Apesar da sua riqueza petrolífera, a Arábia Saudita enfrenta um índice desemprego que chegou a 10,5% em 2009. O reino oferece benefícios sociais a seus 18 milhões de cidadãos, mas estes são considerados menos generosos que os de outros países petrolíferos do golfo Pérsico.

Com agencias