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Jaime Sautchuk: “Oito Horas” e “Seu Chico, por favor”

O jornalista, escritor e colunista do Vermelho, Jaime Sautchuk, participa da edição desta semana do Prosa, Poesia e Arte com duas novas poesias. Em forma de versos, Sautchuk relata a dura a luta dos trabalhadores por seus direitos, em especial a jornada de trabalho, e fala da beleza e da imensidão das águas do Rio São Francisco, o Velho Chico.

Oito Horas 

Por Jaime Sautchuk

É no trabalho
Desde menino
Por castigo divino
Que habituamos viver

Nas festas ou baralho
Os grupos das cortes
No tanger dos chicotes
Nos deixavam crescer

Veio o capitalismo
Escravo virou profissão
E de armas na mão
A briga por oito horas

Ora bolas!

Conquista efetivada
Não adiantou nada
Pois quatro horas gastamos
Nos meios de condução

 

14 de março de 2010

Velho Chico

Por Jaime Sautchuk

Seu Chico, por favor
Posso navegar com o senhor?

Cruzar Minas, Bahia e chegar ao Oceano
Fazer de um vapor o meu ninho
Curvar suas curvas, mesmo que em sonho
E passar pela eclusa de Sobradinho
 
Seu Chico, por favor
Posso sonhar com o senhor?
Fingir que ainda passam vapores
Tam-tam, tam-tam, tam-tam, tam-tam
Juazeiro, Bom Jesus e Pirapora
Ouvir os batacotôs da velha clã
 
Seu Chico, por favor
Posso nadar com o senhor?
Ao menos isso ainda é possível
Dar braçadas e mais braçadas
Tentar ser apenas um surubim
De vivências desgraçadas

 

Seu Chico, por favor
Posso esperar com o senhor?
Ficar assim, feito besta
Olhando de margem pra outra
Sem ver trânsito nenhum
O contrário da Via Dutra
 
Seu Chico, por favor
Posso ficar com o senhor?
Assim mesmo, desse jeito
A caatinga minguando, escorrendo
As praias sumindo, o rio mudando
Mas coragem ainda estamos tendo
 
Seu Chico, por favor
Posso brigar pelo senhor?
Junho de 1990