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Alcarajo o imperialismo, ou resposta ao fantasma perquiridor

Os dias de março são perigosos e ariscos. Primavera no Norte do planeta, suposto outono aqui, onde, se for a Bahia, começam as torrentes que tudo arrastam – as águas de março. Este ano temos um março de guerras de agressão do imperialismo contra um país norte-africano, sob a invocação de pretextos humanitários.

Por Selenia Granja*

Carajo! Em tal ambiente estava tranqüila nas minhas cogitações, deitada na rede, dançando meu balé, festejando o tudo e o nada, até uma máscara veneziana usava supondo eterno o Carnaval, quando um estranho fantasma entrou pela minha janela.

Queria saber, o indiscreto perquiridor, que diria eu da luta anti-imperialista. Ora, logo ele, professor catedrático, PHD e a putaquepariu mais no assunto, perguntar a mim, e ainda me pedindo dissertação digitada em Word e impressa em A-4?!

Mas, acontece que eu sou baiana e acontece que ele não é. Sou guerreira, fantasma. Com bandeiras brancas enfiadas em pau forte, mas também panos vermelhos da revolução e palavras abrasivas, te responderei como uma torrente de março. Pois nada temo, a não ser, quem sabe, a ti, que nem uma foto me facilitou pra saber ao menos quem eras. Anota aí, mestre, digo, fantasma, mas fica de sobreaviso, pois pra mim palavra é arma, escrita é combate. Esquece a gramática. As minhas são palavras torrenciais, pois é março e o imperialismo declarou guerra à humanidade.

Não escrevo bem, fantasma, minha forma de expressão preferida, ou por talento, é a palavra falada, dita, gritada, sussurada, macia, densa, poética, contralto-baixo-grave-feminino. Lâmina-navalha-punhal. Aí manejo bem. Mando! Silêncio também me convém.

Logo tu, fantasma, homem cruel, coração gélido, me inquirir sobre o imperialismo nefando? Especialista na questão, queres me zoar, né? Mais uma de tuas maldades. Zoemos, pois.

Imperialismo? A maior e mais bem equipada potência capitalista do planeta, não precisa ser pronunciada, por óbvio. Tenho nada a dizer não, apenas que sou implacavelmente anti-imperialista. Me causa espécie que tantos ideólogos neoliberais e até mesmo alguns intelectuais, analistas "de esquerda" muitas vezes não interpretam corretamente a luta anti-imperialista, perdendo-se portanto em questões políticas pontuais, sem a clareza teórica e rigor nas ações a serem promovidas no combate aos crimes do Estado imperialista, de modo a dissipar as energias e reservas políticas a serviço da luta anti-imperialista, estas sim, forças motrizes a promover a solidariedade com as nações e povos oprimidos.

Perdem-se no ponto crucial, o fulcro portentoso, extraordinário, alavanca maior da luta pela libertação dos povos, e o combate aos algozes do mundo. Para mim, fantasma, Alcarajo com esses boçais, reformistas de composição química, prafraseando ao revés aquele alemão inventor do reformismo – o pragmatismo é nada, a luta anti-imperialista tudo.

Sem subestimar o cotidiano, as questões das etapas político-eleitorais, etc., é isto que vale. Só que tudo está vinculado, quando falta pão na minha mesa, há fartura em outra. Existe ou não ainda o materialismo dialético?

Imperialismo? Indico: a luta internacionalista contra o odioso monopólio em todos os terrenos e gavetas da vida do povo, por parte dos países opressores e agressivos. Criminosos.

Imperialismo? O rastro genocida que os países imperialistas, notadamente os Estados Unidos, o país terrorista número um, vêm deixando impressa na humanidade, penso que já nos colocou para além da barbárie. Há uma crise de humanidade. Não sou pessimista, fantasma, sou mulher, militante, guerreira, viva, vivo o povo. Não sou pequeno-burguesa, fiz uma opção de classe.

Imperialismo? Domínio econômico, cultural, invasões e guerras contra os povos de todo o mundo. Beligerantes, psicopatas, assassinos infames dos nossos sonhos de viver com dignidade.

Sem capitalismo, não há imperialismo, aprendi que é a fase superior do citado e igualmente criminoso capitalismo.

Sou visceralmente anti-imperialista, por ser comunista de carteirinha, capa-preta-miudinha aqui no meu canto. Revolucionária.

Imperialismo? Os crimes perpetrados pelo Estado imperialista não são expostos e quando são, por si mesmos, uma parcela infeliz da humanidade não enxerga.

Imperialismo: porões do horror da anti-humanidade, de um mundo que continua dividido em classes e não entre fumantes e não fumantes, tal nos querem fazer crer. Para os senhores da guerra, a ordem é perseguir, silenciar, torturar, eliminar massivamente até mesmo qualquer sopro de verdade que não lhes convenha. Luta de poder. A diplomacia dos EUA é azeitada à base de mentiras, manipulações grosseiras, perigosas, nefastas e destruidoras das nações.

No entanto, sem as condições subjetivas, aqui enquanto consciência política, el pueblo, se atola até o pescoço na "modernidade".

Caro fantasma, se o que te escrevo aqui já não for moda, sinto muito, estou fora de moda e gosto. Dizem que a moda é a única coisa que cai de moda. Li muito os respeitáveis senhores Karl Marx e Friedrich Engels. São uns caras que inventaram o materialismo histórico e dialético, ainda está em voga? O socialismo científico, postulado pelos dois meninos…

O imperialismo europeu, o imperialismo ianque, tecem mentiras, guerras de domínio dos países e povos, para inviabilizar por todos os meios a liberdade e a auto-determinação das nações. Fantasma, não me perguntes mais. Dá um tempo, vou abrir a geladeira.

Alcarajoelimperialismo.

* Geógrafa, especialista em auditoria e qualidade ambiental na Bahia