PCdoB: A serviço da democracia, dos trabalhadores e do socialismo
O ambiente era o Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento, o aniversário dos 89 anos do mais antigo partido político em funcionamento contínuo no país: o Partido Comunista do Brasil.
Por Renato Rabelo, em seu blog
Publicado 26/03/2011 08:43
Que, ao mesmo tempo, se apresenta como o mais jovem, pela composição social de suas fileiras e pelas ideias que defende. De fato, nesta oportunidade, desencadeamos os preparativos para a comemoração com data redonda, como se diz, dos 90 anos de trajetória política do nosso Parido, o PCdoB. Várias lideranças políticas e do movimento social lá estiveram presentes e se pronunciaram homenageando o Partido.
Aproveitamos a data, também, para lançar uma edição da série “Perfis Parlamentares” com a compilação de discursos e intervenções de João Amazonas, durante a Constituinte de 1946.
Na ocasião, fiz o seguinte pronunciamento:
“Quase todos os anos comemoramos o aniversário do Partido neste espaço cedido pela Câmara dos Deputados: o Salão Nobre. Mas a cada ano, a comemoração da existência do PCdoB reflete e expressa a atualidade do curso político que atravessamos, a situação em evolução no Brasil e no mundo.
Neste ano de 2011 — em que saudamos os 89 anos de luta do PCdoB – atuamos sob as condições da terceira vitória das forças democráticas, progressistas, populares e de esquerda em nosso país. Esta vitória consagra um feito histórico: a primeira mulher eleita para a presidência da República. Trata-se da continuidade possível da construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, voltado para a consolidação da soberania nacional, para a erradicação da miséria, para a ampliação da democracia e dos direitos dos trabalhadores.
Acrescento que este fato ocorre num contexto de um mundo instável – marcado por grandes desequilíbrios macroeconômicos. Resistências, no entanto, aparecem, assim como revoltas populares, no quadro internacional em que estão em curso vários conflitos armados e despontam novos focos de guerra.
O Brasil, por sua vez, vive condições favoráveis e até inéditas em sua história. Reacende a esperança de se alcançar condições de um país democrático, soberano, de progresso social e integrado com seus vizinhos do continente. Entretanto – fato que para nós comunistas representa um grande acontecimento no ensejo desta comemoração do octogésimo nono aniversário – é que começamos a partir de hoje os preparativos para o evento do nonagésimo aniversário de existência do Partido Comunista do Brasil. Por si só, os 90 anos de vida de um Partido Comunista no Brasil já carrega um significado profundo na história política brasileira.
É algo incomum. Afinal, nenhum outro partido no país alcançou essa longevidade de forma contínua. Qual seria a razão de tal fenômeno? Para durar este período todo, um Partido precisa representar os interesses materiais de determinados grupos sociais, vinculado a um Programa e a uma ideologia. Precisa ter uma base teórica e ideológica definida. O Partido comunista do Brasil faz parte da corrente fundada por Karl MARX e Friedrich ENGELS. Consideramos que essa é a nossa teoria-guia, assim como seus métodos de análise.
A obra econômica, política, social e filosófica empreendida por Marx teve sua aplicação depois de seu tempo. É atual em nossos dias. Claro que toda a teoria exige desenvolvimento. Neste sentido avaliamos que o leninismo (o pensamento de Vladimir Ilich Lênin) é o maior desenvolvimento da teoria marxista. Na recente crise econômica e financeira do capitalismo, Marx voltou a ser amplamente lido e estudado. Está entre os autores mais procurados na atualidade. Esta semana esteve no Brasil o professor alemão Rolf Hecker, que trabalha na edição das obras completas de Marx e Engels. Ele pergunta: “Nós já sabemos tudo sobre Marx?” E responde: “Sim e não!” Ou seja, enquanto houver material novo envolvendo esse imenso patrimônio, essa pergunta ficaria em aberto.
A questão é que o marxismo tem de ser aplicado a cada realidade nacional. É com este esforço que o PCdoB vem construindo seus Programas e definindo seus princípios. A longevidade do Partido depende igualmente da nossa capacidade de tirar ensinamentos dos erros e revezes. E também da nossa determinação em conhecer a realidade de nossa história e da formação da Nação, das particularidades econômicas e sociais e da alma do povo. Somente assim, o marxismo pode ser “nacional” para alcançarmos um Programa e um projeto de transformação de nosso país em uma grande Nação, democrática, moderna e solidária. Temos em nosso Programa um rumo e um caminho. O rumo é o socialismo e o caminho é a luta incessante pela construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, soberano e democrático.
O PCdoB não alterou sua identidade comunista e socialista. É um partido de princípios, voltado para nossos dias e orientado por uma tática flexível. Não é um partido fundamentalista, nem sectário ou extremista. Diante do horizonte dos seus 90 anos tem a convicção que é preciso resgatar ainda grande parte de sua memória. Um povo — uma classe, um partido sem memória, sem identidade e sem projeto político — estará sempre fragilizado para a concretização de um grande empreendimento de futuro.
O PCdoB esteve envolvido nas principais lutas e conquistas nacionais e populares no Brasil, sendo por isso mesmo uma das organizações mais perseguidas pelos regimes ditatoriais. Dos 89 anos de existência, o Partido Comunista conheceu nem 28 anos de legalidade apenas. Muitos dos seus documentos foram destruídos, dispersos e perdidos e de 1980 para cá foram escritas inúmeras monografias e teses sobre a história do Partido, tanto produção acadêmica como militante. Por isso o PCdoB resolveu constituir um Centro de Memória e Documentação (CDM) junto à Fundação Maurício Grabois, encarregado de coletar, preservar, organizar e disponibilizar para o grande público o material partidário e depoimentos de antigos militantes. Porque sem um Partido forte as vitórias são improváveis e os êxitos, efêmeros".