Sem categoria

George Goehl: Encontramos o dinheiro; e ele está em Wall Street

Deve ser glorioso. Você derruba a economia, é resgatado com o dinheiro do contribuinte e distribui bônus recorde. Você é menos popular que o Congresso e tem todos os motivos para estar na defensiva, mas na prática consolida seu poder econômico e expande sua já esmagadora influência política.

Por George Goehl, no The Nation

Você então coloca políticos de sua escolha nos cargos públicos e lança um ataque feroz contra as famílias trabalhadoras, mirando direto na última barreira que o separa do triunfo total: os trabalhadores organizados. E você tem o prazer de assistir ao desenrolar de sua obra-prima em um iate ou clube de campo, martíni em punho. Um roteirista de Hollywood teria dificuldade para bolar um enredo tão bizarro, mas trata-se de uma história real, forjada na baixa Manhattan.

Neste momento de incerteza para a maioria dos norte-americanos, os conservadores vendem à força uma história que aponta o governo como o problema. No entanto, quando observamos o âmago da crise, encontramos corporações gigantes e irresponsáveis diminuindo os salários e aumentando os custos do seguro-saúde, transferindo vagas de trabalho para o exterior e deixando de contribuir com sua parte para o fisco. O governo não é o problema, e sim o prêmio, e no momento ele pode ser visto em uma estante de troféus em Wall Street.

Em Populist Moment, célebre relato sobre a revolta agrária norte-americana no final do século 19, Lawrence Goodwyn descreve pontos de virada, quando as massas adquirem um senso de "autoconfiança coletiva". Ele explica como essa certeza coletiva crescente permite que os membros do movimento experimentem um "novo nível de possibilidade social". Embora seja exagero dizer que chegamos a esse ponto nos Estados Unidos hoje, a incrível demonstração de força e espírito em Wisconsin (assim como no mundo árabe) trouxe uma sensação de que podemos transformar nossa política – se trocarmos os dedos no teclado pelos pés nas ruas. Assim, enquanto defendemos as finanças dos cidadãos, precisamos entender claramente que, por trás de cada Scott Walker ou John Boehner, estão elites corporativas dando as cartas. E se temos uma obrigação de desafiar os políticos diretamente, também precisamos fazer mais do que desafiar retoricamente os executivos corporativos que comandam o espetáculo.

Precisamos descer à raiz do problema dos orçamentos – enfrentamos uma crise de receitas. Simplesmente não há dinheiro suficiente em nossas cidades e estados para apoiar os investimentos necessários para reconstruir a classe média norte-americana. A boa notícia é: sabemos onde o dinheiro está. E embora os políticos possam lhe dizer outra coisa, ele não está na pensão da vovó. Não está nas casas das famílias que lutam contra a execução da hipoteca. E não está nos bolsos dos estudantes ou professores das escolas norte-americanos. Ele está em Wall Street.

Jacob Lew, diretor do Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca, disse ao New York Times que os "cortes fáceis" já ficaram para trás. "Cortes fáceis" são aqueles que afetam os pobres e menos poderosos. Os cortes difíceis – aqueles tão difíceis que poucos nas assembleias estaduais e em Washington tocam no assunto – significariam o fim dos incentivos fiscais e outros privilégios para Wall Street e as corporações que esta financia. Esses cortes são difíceis não porque atingem as pessoas comuns, mas porque obrigariam os dirigentes eleitos a enfrentar as elites econômicas que financiam suas campanhas. E como poucos políticos têm estômago para essa briga, está claro que teremos de enfrentá-la sozinhos.

Para isso, precisamos responsabilizar os dirigentes eleitos e questionar diretamente os abusos morais das grandes potências corporativas. Temos problemas quando fazemos apenas uma coisa ou outra e perdemos metade da briga. Neste exato momento, a mistura está desequilibrada. É por isso que precisamos parar de gastar toda nossa energia com os fantoches da classe corporativa e ir direto a quem dá as cartas. Imagine se, toda vez que organizássemos um protesto em uma assembleia estadual ou no Capitólio, também marchássemos até um banco ou a sede de uma corporação que estivessem impedindo a recuperação econômica para as famílias norte-americanas. É fundamental promovermos essa mudança, pois, se a batalha simplesmente colocar o povo contra os políticos, ela permitirá que os detentores do verdadeiro poder fiquem de fora e se livrem de qualquer responsabilidade concreta.

Ao mesmo tempo, precisamos promover grandes ideias nas prefeituras, nas assembleias estaduais e no Congresso – ideias que reformulem nossa relação com as corporações e produzam as receitas necessárias para reconstruir os Estados Unidos. Embora a sensação seja a de que estamos completamente ocupados nos defendendo, precisamos promover novas propostas assertivamente sobre regulação e receitas. Isso forçará o outro lado a gastar energia se defendendo e ajudará a posicionar nossas ideias para aqueles momentos em que tivermos o poder de fazê-las valer. É uma dança delicada, mas enquanto não fizermos as duas coisas, estaremos brigando com uma das mãos atada às costas.

Alcançar esse equilíbrio é exatamente o objetivo das organizações comunitárias norte-americanas que lançaram, no dia 7 de março, a campanha Make Wall Street Pay (Faça Wall Street pagar). Em vez de trabalhar à margem de um debate sobre cortes de gastos, os cidadãos comuns estão prontos para ir até onde o dinheiro está e colocá-lo em seu devido lugar com propostas sobre a geração de receitas para cidades, estados e a nação. Contribuintes no país todo lançarão campanhas para garantir que Wall Street e outras potências corporativas tornem-se membros plenos do público pagador de impostos. Podemos mudar o foco do debate substituindo os cortes de gastos que eliminam empregos e prolongam a crise econômica por ideias geradoras de receita, como impostos estaduais sobre execuções hipotecárias de grandes bancos ou um imposto federal sobre transações financeiras. Com isso, obrigaremos os dirigentes eleitos de ambos os partidos a fazer uma escolha publicamente: apoiar o povo norte-americano ou defender os CEOs de Wall Street.

Estamos partindo para a ofensiva para mudar o debate. Junte-se a nós na marcha que vai das sedes dos bancos até as assembleias estaduais, Wall Street e as grandes corporações por trás dos ataques contra o povo norte-americano.

(*) Diretor Executivo da National People's Action, organização que se autodenomia uma comunidade dedicada ao avanço da justiça econômica e racial.

Fonte: Opera Mundi