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Descontente com Ana de Hollanda, diretor se demite do MinC

Os ventos da crise parecem soprar de forma perene no Ministério da Cultura. Demitiu-se na quarta-feira (6) o secretário Executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura, José Castilho Marques Neto, que estava desde 2006 à frente do colegiado. O cargo não era remunerado e Castilho não era ligado ao governo.

Marques Neto enviou carta à ministra, na qual faz uma lista dos motivos que o levaram a sair. Falta de diálogo com a nova gestão é o primeiro item da lista, além de acusações de centralismo, ataque à autonomia do órgão e interrupção do diálogo interministerial com o Ministério da Educação (parceiro na definição de políticas do setor), entre outros.

Doutor em filosofia política (preside a Editora da Unesp e foi diretor da Biblioteca Mário de Andrade), José Castilho Marques Neto diz na carta que vem tentando uma interlocução direta com a ministra desde o dia 3 de janeiro, sem sucesso. "Senhora ministra Ana de Hollanda, quem escreve essas linhas não é um adversário ou opositor de ocasião", diz o secretário, acrescentando que a crítica é essencial para o convívio democrático e que "ocultar divergências é deslealdade que não serve aos bons governantes".

Atualmente, 19 países ibero-americanos têm planos nacionais de leitura. Segundo Marques Neto, o governo Dilma optou por um decreto para aprovar uma legislação do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), que não teria peso de lei.

Outro problema é a "concentração de toda a gestão da política de leitura na Fundação Biblioteca Nacional, inclusive com a transposição da estrutura do MinC para aquela autarquia". A interferência na autonomia do PNLL, para Marques Neto, "esvazia suas características de pacto social". Para o ex-dirigente, isso tudo configura retrocesso.

Além de postura ambígua sobre o direito autoral, o ministério sofre críticas desde fevereiro por sua falta de resposta a atrasos de pagamentos. O ministério argumentou que atrasos em repasses de verbas seriam fruto de um eventual "rombo" no seu orçamento – secretários usaram essa desculpa na recente reunião do Conselho Nacional de Políticas Culturais.

Seriam "restos a pagar" da gestão anterior, e com isso o MinC acena com a interrupção dos Fundos Setoriais e do ProCultura. Mas o argumento não faz sentido. Restos a pagar não são debitados do orçamento previsto para o ano seguinte. "Essa é uma das mais elementares regras da execução orçamentária", diz um produtor. "Restos a pagar nada têm a ver com o orçamento atual."

O orçamento do MinC para 2011 é quase igual ao de 2010: cerca de R$ 2 bilhões. Ou seja: mesmo se o MinC aceitasse o contingenciamento de R$ 766 milhões que recebeu (sem protestar), restaria mais de R$ 1 bilhão (orçamento expressivamente maior que o de 2009). E os pagamentos de parcelas com Pontos de Cultura e obras do PAC das Cidades Históricas comprometem apenas R$ 180 milhões, menos de 10% de toda sua verba.

Da Redação, com informações do O Estado de S.Paulo