José Cícero – José Lins do Rego: 110 anos de nascimento

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Uma sentença de granito! Uma exigência a que todos nós pobres mortais interioranos haveríamos de conceber por nosso próprio íntimo e desejo: Ler um livro. Outros vários… Muitos e muitos outros. Milhares e milhares de escritos pela vida a dentro.

Até quem sabe, nos fartar de todos os saberes infinitos e o lirismo do mundo. Dos acontecimentos históricos, das divagações românticas dos sábios e dos loucos. Das belas e maravilhosas invenções dos literatos. Algo somente possível aos malucos e maravilhosos sonhares embriagados pelo talento e pela arte: poetas do superlativo absoluto, abstrato e concreto. Colossal surrealismo dos deuses, somente ao alcance dos grandes e grandiloquentes escritores, vates universais do estro…

Monstros sagrados da escrita que nos afaga o tempo todo o ego. Âmago instintivo de tudo aquilo que é sagrado ou profano, mas que também, às vezes, nos queimam com seu fogo alucinante e ardente o nosso tédio e o nosso senso fraco de vencidos. Mágicos literários. Escribas insaciáveis a construir com seus sonhos desvairados e gestos mirabolantes novos universos de tudo o mais que é belo e insensato, simplesmente porque por muito não pode ser compreendido no seu todo. Poeticamente a pulular nosso cérebro de estória e heroísmo. Imersos em seus magnetismos de gigantes. Eternos 'Pormetus' a embelezarem a vida e o mundo de coisas novas e utopias possíveis. Criadores de todas as metáforas contidas entre seus balaios repletos de idéias e outros absurdos dos mais fantásticos. Cânforas, flores, absinto a elevar nossos sentimentos mais altivos…

Meu Deus que martírio dos mais tristes! Saber que a maioria esmagadora dos brasileiros e, por pura gravidade, dos nordestinos. Jamais ouviram falar sequer um dia e, por conseqüência óbvia, nunca leram absolutamente nada do grande imortal escritor e romancista-mor do nosso regionalismo José Lins do Rego. Um paraibano dos mais importantes na arte da escrita. Irrequieto e inventivo homem das letras semeadas e colhidas sob o sol escaldante do eito. Da árdua lida cotidiana dos canaviais, caatingas e engenhos de cana dos sertões do mundo.

Magno criador do verdadeiro romance plasmado sob a sinergia do melhor do regionalismo brasileiro. Belo gênero literário que encantou por seus méritos os grandes escritores do globo, mas que infelizmente, nem tanto os brasileiros. Não por falta de talento, porém pela mais absoluta falta de bom-gosto de todo o resto. Mas, como diria Borges, não será pela indiferença de um povo, que uma grande obra deixará de ser o que ela é verdadeiramente.

José Lins do Rego, pela primeira vez tirou dos recônditos escondidos do Nordeste os belos valores historiográficos dos oprimidos no ciclo da economia canavieira. Foi por tudo isso, um romancista dos mais conceituados. O verdadeiro criador maior do autêntico gênero regionalista. A chave que abriu espaço para que o romance regional pudesse enfim, adentrar de uma vez por todas, os até então, indiferentes palácios das elites, a partir das mais saborosas narrativas de fatos e acontecimentos memorialistas que, a um só tempo, conseguiram concentrar no seu bojo a realidade social de um país quase desconhecidos pela burguesia. Uma feliz novidade. Uma literatura made in Nordeste carregada de verdade, beleza e encantamento. Um grito adornado pela estética mostrando em carne viva toda uma nação de esquecidos.

Grandes histórias e estórias que também denunciavam ao resto do Brasil e até do mundo todo o abandono em que estava submetido o valente e forte povo sertanejo. Afinal de contas quem, por acaso, conseguiu ler sem se emocionar obras primas de Do Rego, tais como: Menino de Engenho, Fogo Morto, Usina, Bangüê, O moleque Ricardo, Doidinho dentre outras verdadeiras pérolas da nossa literatura. Algo que por nenhum motivo, os brasileiros, notadamente a sua juventude, não deveria encarar com tamanha indiferença e desconhecimento. Afinal, a quem interessa tudo isso?

Coisa que também vale, sobretudo para os nossos professores e por via de conseqüência, aqueles que adoram ser chamados de intelectuais e formadores de opinião, bem como os nossos políticos.

“A obra de Zé Lins caracteriza-se, particularmente, pelo extraordinário poder de descrição. Reproduz no texto a linguagem do eito, da bagaceira, do nordestino, tornando-se por tudo isso, o mais legítimo representante da literatura regional nordestina.”

Na Academia Brasileira de Letras (ABL) José Lins do Rego ocupou a Cadeira nº 25, sendo eleito em 15 de setembro de 1955, sucedendo Ataulfo de Paiva apresentado pelo grande Austregésilo de Athayde, em 15 de dezembro de 1956.Além de romancista José Lins do Rego, foi também cronista e jornalista. Tendo nascido em 1901, no Estado da Paraíba (fazenda Pilar). Morreu no ano de 1957 no Rio de Janeiro. Contudo, passou boa parte da sua vida em Recife.

José Cícero é professor, poeta e escritor

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