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Acidente nuclear de Chernobyl completa 25 anos

O acidente nuclear de Chernobyl (Ucrânia), o maior da história, completa 25 anos nesta terça (26). A catástrofe é relembrada justamente em um momento em que a ameaça da energia nuclear volta a assombrar o mundo, após os acidentes ocorridos na central de Fukushima, no Japão.

Era o começo da manhã de um sábado quando o sistema do reator nuclear da usina de Chernobyl falhou, resultando numa explosão que destruiu seu teto. O balanço de perdas humanas em ainda hoje suscita controvérsia. O comitê científico das Nações Unidas que estuda os efeitos das radiações não reconhece mais de 31 mortos – trabalhadores da central e bombeiros – em consequência direta da catástrofe nuclear. Por outro lado, entidades falam de pelo menos 100 mil mortos em consequência da contaminação radioativa.

No dia do desastre, os funcionários que trabalhavam na sala de controle do reator 4 perceberam que havia algo errado, embora não tivessem percebido a grande explosão na sala principal, que ficava a poucos metros de distância de onde estavam.

A explosão de 26 de abril de 1986 espalhou uma nuvem de partículas radioativas que ultrapassou os limites da União Soviética e atingiu parte da Europa. Estima-se que mais de 350 mil pessoas que viviam nas áreas contaminadas na Ucrânia, Bielo-Rússia (hoje Belarus) e Rússia firam forçadas a partir em retirada de suas casas.

O acidente liberou mais radiação que a bomba atômica lançada na cidade japonesa de Hiroshima, em agosto de 1945. Milhares de pessoas ficaram doentes. A floresta virgem e as fazendas da região ficaram seriamente contaminadas.
 
A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 600 mil pessoas foram gravemente expostas à radiação e que houve mais de seis mil casos de câncer de tiróide em pessoas que na época da explosão eram ainda crianças. Acredita-se que mais de 4 mil pessoas morram prematuramente em virtude da explosão.

Apesar dos anos que distam do acidente, sobre a Ucrânia e Belarus ainda paira o fantasma da catástrofe nuclear, e são muitas as vítimas que relembram a tragédia. "Sofri muito com a radiação. A minha tiróide aumentou de tamanho. Tenho muitos problemas de saúde. O que deixei lá? Tudo. Perdi tudo. O meu dinheiro, a minha vida, a minha saúde. O meu cabelo ficou totalmente branco quando tinha 25 anos. Agora pinto-o uma vez por mês, mas aos 25 ficou branco. O cabelo da minha filha demorou muito tempo a crescer, só apareceu aos 5 anos", desabafa uma das vítimas de Chernobyl.

As marcas de uma promissora central nuclear ainda perduram. "Ninguém fala do problema, mas ele continua. É exatamente o mesmo que há 25 anos por causa dos danos da radiação. Danos esses que perduram nestas novas gerações", diz Valentin Chernyakevich, da associação de crianças de Chernobyl.

Na época do acidente, o silêncio oficial e, em seguida, uma tentativa de minimizar o ocorrido para não causar pânico contribuíram para a radiação prosseguir se espalhando. A URSS só reconheceu o drama nuclear ao final de dois dias, depois de a Suécia ter detectado uma nuvem radioativa.O presidente russo Dimitri Medvedev afirmou, nesta segunda (25), que “dizer a verdade” foi a principal lição a tirar de Chernobyl.

Agora, mais recentemente, o acidente na central nuclear de Fukushima, no Japão, veio reavivar o medo e as memórias de quem, 25 anos depois, ainda tem muitas marcas. Depois do sismo e do tsunami que abalaram o Japão e provocaram explosões sucessivas na central nuclear de Fukishima, os japoneses já não acreditam nessa energia limpa, que de um momento para o outro pode deixar um país num estado deplorável, longe da realidade anterior.

A realizadora japonesa Mayuko Sadasue diz que "as pessoas da minha geração foram abençoadas, porque apesar de saberem que a energia nuclear é perigosa, nunca sofreram por causa dela". "A minha geração ignorou esses perigos e agora sente que tem de fazer algo pelo futuro".

Se no Japão se olha agora o futuro com preocupação, na Ucrânia o presente tem ainda marcas de um passado muito próximo, sobretudo para quem trabalhava no reator 4.

Exemplo disso é Ivanovic Dmitry Bluvok, funcionário da central de Chernonyl, que recorda o acidente: "O desastre nuclear deixou-me marcas profundas. Nunca na minha vida vou esquecer. Naquela noite não estava a trabalhar, estava em casa. A minha tia veio à minha casa contar-me que algo de mau se passava no reator. Pensei que fosse apenas um simples acidente, ninguém tinha ideia do que era uma fuga nuclear", conta.

O presidente da Ucrânia, Victor Yanukovich, afirmou esta terça-feira que a catástrofe nuclear de Chernobyl é um "desafio de magnitude planetária", para o qual só pode haver uma resposta com a comunidade mundial unida.

"A Ucrânia esteve muito tempo praticamente só frente à tragédia de Chernobyl. Felizmente, hoje não estamos sós. Antes de 26 de abril de 1986, o mundo tinha uma ilusão de segurança. Depois dessa data, já ninguém pode ter garantias de segurança no amanhã. Os eventos na central japonesa de Fukushima confirmaram esta amarga verdade", ressaltou

O primeiro-ministro ucraniano, Nikolai Azarov, estimou em US$ 180 bilhões as perdas causadas pela catástrofe na usina nuclear de Chernobyl. "O percentual de despesas destinado a esse fim (superar o acidente) chegou a representar 10% do orçamento anual da Ucrânia", assinalou Azarov em mensagem divulgada pelas agências ucranianas.

Azarov detalhou que por causa da explosão "145 mil quilômetros quadrados dos territórios da Ucrânia, Belarus e Rússia foram contaminados". "Cerca de 2,2 milhões de pessoas na Ucrânia receberam o status de vítimas de Chernobyl", disse.

Apesar disso, Azarov reiterou que a Ucrânia é capaz de assumir as despesas da planta, fechada no ano 2000, mas que ainda abriga toneladas de combustível nuclear. Em declarações à Agência Efe, Azarov garantiu na véspera que "renunciar às tecnologias nucleares é como proibir os computadores".

Pesquisa divulgada na semana passada revela que quase 70% dos ucranianos são contrários à construção de novas usinas nucleares e 39,4% consideram que as atuais plantas são perigosas.

Com agências