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Adalberto Monteiro: há 30 anos a razão de ser de Princípios

Hoje, embora majoritariamente urbanos, todos nós brasileiros temos vivência com a cultura do interior, do campo, do mundo da agricultura. E bem sabemos que quando as colheitas são fartas as festas se realizam. Estamos, neste momento, num ato comemorativo que celebra uma farta colheita no âmbito das ideias: os trinta anos de circulação da revista Princípios.

Por Adalberto Monteiro*

- Fundação Maurício Grabois
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Princípios nasceu em 1981, engajada na luta pela liberdade. Foi fundada no começo do fim da ditadura militar, quando a frente oposicionista preparava a ofensiva final pela democracia. Seu idealizador, João Amazonas, foi um destacado marxista, liderança histórica da esquerda e dos comunistas brasileiros. Neste ano a revista completa 30 anos de circulação ininterrupta. São 112 edições voltadas, principalmente, à elaboração de ideias para um novo Brasil.

Considero que na era da dominância do monopólio midiático, a revista tem fomentado o pensamento crítico e um olhar revolucionário sobre os temas da atualidade. Nosso esforço editorial é oferecer a nossa comunidade de leitores e leitoras uma análise dos problemas contemporâneos sob outra perspectiva, diversa daquela veiculada pela grande mídia em suas coberturas tendenciosas e superficiais.

A coleção de Princípios conta com mais de 8 mil páginas. Seu índice remissivo demonstra o precioso rol de intelectuais, pesquisadores, jornalistas, cientistas, artistas, lideranças políticas e sociais que, ao longo do tempo, voluntariamente ofereceram e oferecem suas contribuições. Representando esse rol de professores, professoras, pesquisadores, pesquisadoras, de várias universidades e instituições, temos em nossa mesa a professora Cristina Pecequilo.

Seu foco é o desenvolvimento do Brasil

Nossa revista se autoconceitua como um periódico de “teoria, política e informação” e sua temática é diversa, mas seu foco é o desenvolvimento do Brasil.

Ela buscou, ao longo de seu percurso, interpretar o Brasil: sua história, sua pujança, suas deformações e potencialidades. Em suas páginas encontram-se retratadas as lutas pela democracia, pela afirmação da soberania nacional e pelo fim das desigualdades sociais.
Nos anos 1980, engajou-se na redemocratização e buscou influenciar os debates da Assembleia Constituinte. Na década seguinte dedicou-se a desvendar, de um ponto de vista ao mesmo tempo teórico e político, o caráter nefasto do neoliberalismo e os caminhos para seu enfrentamento e superação.

A revista participa, hoje, da elaboração de um novo projeto nacional de desenvolvimento, cujos primeiros passos foram dados no positivo período de 8 anos em que Luiz Inácio Lula da Silva esteve à frente do governo da República. Agora, o mandato da presidenta Dilma Rousseff tem a desafiadora missão de fazer avançar esse processo. A revista segue, assim, travando o bom combate contra as ideias e os blocos políticos que tentam frear ou impedir as mudanças. Atuamos para que, neste novo momento, o Brasil ingresse numa nova etapa de seu progresso econômico e social, baseada na ampliação da democracia, na afirmação da soberania e na integração solidária com a América Latina.

Convicta de que a luta popular é a força-motriz das mudanças, a revista aprofundou a discussão sobre bandeiras importantes das diversas entidades dos trabalhadores e dos movimentos sociais. O desenvolvimento pelo qual luta é direcionado à valorização do trabalho e à elevação da qualidade de vida do povo.

Princípios já analisou as temáticas da macroeconomia, do sistema político-partidário, da energia, da ciência, tecnologia e inovação, do meio ambiente, da educação, da comunicação, da cultura e do esporte. Nessas áreas, como em várias outras, ela conseguiu pautar questões importantes, muitas delas essenciais à luta por reformas democráticas. No próximo período seguiremos aprofundando esses e outros conteúdos, todos eles caros à edificação de um novo projeto nacional.

Sua teoria é o marxismo e sua perspectiva, o socialismo renovado

Diante da crise do socialismo no início da década de 1990, Princípios enfrentou o vendaval anticomunista, sublinhando o legado da União Soviética à humanidade. Simultaneamente, examinou os erros e condicionantes que levaram à sua derrocada. Nesse debate, contribuiu para reafirmar o socialismo em bases novas. Os artigos, entrevistas, resenhas, estudos e pesquisas publicados ajudaram a desenvolver e enriquecer a teoria marxista. Nesse mesmo compasso, a revista se dedica hoje, com especial interesse, a debater e divulgar a nova luta pelo socialismo que brota dos paradoxos do capitalismo, como também da consciência e da luta dos povos.

No que respeita ao capitalismo contemporâneo, tem feito um meticuloso trabalho visando a apontar suas singularidades hodiernas, o que inclui o exame da atual crise econômica mundial – fonte de instabilidade, ameaças e alterações no sistema internacional. Ante a guerra imperialista, nela são publicados libelos em defesa da paz. A luta dos povos contra o imperialismo e pelo direito ao desenvolvimento e à autodeterminação tem sido outro tema frequente – destacado, inclusive, na edição que aborda as recentes revoltas ocorridas nos países árabes.

Enfim, percorrer as mais de 8 mil páginas de sua coleção é fazer uma viagem ao itinerário da elaboração teórica e política do pensamento marxista e progressista. Uma revista aberta, plural e de princípios definidos. Suas páginas são um espaço de encontro do pensamento avançado. Sua evolução registra os aportes analíticos e teóricos que ofereceu ao movimento transformador e, obviamente, os dilemas, equívocos e crises por que passou. Esse rico acervo é, agora, disponibilizado também em DVD. Nele se encontram reunidos mais de 1700 textos produzidos por quase 500 colaboradores, abordando os mais diversos temas.

Princípios, uma obra coletiva

Alguém pode perguntar qual o segredo da longevidade de Princípios, posto que infelizmente muitos periódicos com esse mesmo perfil, no geral, têm vida breve. Eu respondo: primeiramente, pela fertilidade das ideias que dissemina. Segundo, porque se trata de uma obra coletiva à qual, ao longo do tempo, se dedicaram várias equipes de trabalho. Quero aqui registrar, sempre com o risco de algum esquecimento, alguns expoentes dessas equipes que ao longo tempo viabilizaram nossa revista. Ronald Freitas, o responsável por suas primeiras edições; Bernardo Joffiliy, colaborador permanente a quem devemos o nome de batismo – Princípios esse nome tão significativo; José Reinaldo de Carvalho, um dos primeiros editores, hoje editor do portal Vermelho; Rogério Lustosa, que promoveu uma renovação editorial e gráfica da revista; Olival Freire, que recebeu o desafio de substituir Rogério Lustosa ao qual perdemos intempestivamente. Olival soube compor uma equipe valorosa, constituída pelo José Carlos Ruy, pelo Pedro Oliveira. Além dos dois, um talentoso jovem, Edvar Bonotto, que foi secretário de redação por um largo período, ao qual, infelizmente, perdemos precocemente.

Bom, desde 2002, recebi essa tarefa, bem além de minhas humildes capacidades, de ser o responsável pela revista. Recorri ao que chamamos de “sabedoria do coletivo”. Nos primeiros tempos dessa etapa que se inicia no ano de 2002, ela, na prática, foi editada por Adalberto Monteiro, Pedro de Oliveira, José Carlos Ruy e Edvar Bonotto. Logo a seguir, a ela se engajaram Augusto Buonicore e Aloísio Sérgio Barroso. E recentemente, passou a fazer parte da comissão editorial, Fábio Palácio. Atuou, também, conosco, por uma temporada Elias Jabbour. Quero sublinhar o dedicado e frutífero trabalho de Carolina Maria Ruy como secretária de redação, durante dois pares de anos. E o de Ana Paula Bueno, nossa atual secretária de redação. Quero, também, agradecer ao trabalho de três profissionais muito importantes: Maria Lucília Ruy, dedicada e competente revisora da revista; e dois talentosos profissionais da área de designer gráfico: Laércio D’Ângelo Ribeiro, que concebeu o atual projeto gráfico e que atualmente é o diagramador e Flávio Nigro, há anos o responsável por algo muito notado nas pessoas e nas revistas: o rosto, a capa. Aproveito para anunciar que, em breve, nossa equipe será reforçada com a incorporação do experiente e talentoso jornalista, Claudio Gonzalez que será o editor executivo.

Desde o seu primeiro número, Princípios é uma publicação da Editora Anita Garibaldi, também responsável por sua comercialização e distribuição. Então, nossa homenagem aos profissionais que lá trabalharam durante essas três décadas. Permitam-me uma reverência especial a Divo Guisoni, criador da editora e que, com a bravura de um pai, sustentou as atividades dessa empresa – o que foi decisivo pela longevidade de Princípios. Agradeço a Ana Paula Bernardes pela temporada em que atuou na Editora e no departamento comercial da revista. Nosso reconhecimento, nosso aplauso ao trabalho incansável de Zandra de Fátima Baptista, hoje a responsável pela editora e diretora comercial da nossa revista.

Finalmente, faço um registro especial. Nada disso terá sido possível sem o incentivo, o apoio decidido de Renato Rabelo, presidente do PCdoB, um colaborador que nos oferece artigos tão férteis quanto frequentes.

Seu lema é renovar-se e melhorar sempre

Ao completar 30 anos, Princípios busca renovar-se a cada publicação. Sua longevidade e o papel que desempenha na imprensa democrática implicam mais e maiores responsabilidades. Temos, a esta altura, o desafio de torná-la um veículo cada vez melhor, capaz de responder aos problemas políticos e teóricos de nosso tempo, com base no marxismo e com a colaboração de outras correntes do pensamento avançado.

Publicação de caráter plural, a revista seguirá colhendo contribuições de vasto leque de colaboradores do campo progressista. Continuaremos perseguindo o mesmo propósito que, em 1981, moveu João Amazonas a criá-la: atuar na luta de ideias pelo fortalecimento da nação e pela conquista do socialismo no Brasil.

A fase atual exige ainda melhorias relacionadas à circulação e à divulgação. Nosso sonho é fazer de Princípios um instrumento ascendentemente dinâmico. Convidamos a todos os amigos e colaboradores para se juntarem a nós na realização dessa tarefa.

São Paulo, 5 de maio de 2011

*Adalberto Monteiro é o editor da revista Princípios e presidente da Fundação Maurício Grabois.