Gilvan Paiva – Fortaleza e o passo do desenvolvimento

Segundo o IBGE, Fortaleza é a terceira capital do País de maior influência regional, ficando atrás somente de São Paulo e Rio de Janeiro, como uma das 12 redes-polo que mais exercem influência sobre municípios de diferentes estados, no atendimento de diversos serviços. Recentemente, também superou Salvador e se tornou o destino turístico mais visitado no nordeste.

E, agora, como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, inclusive com perspectivas de receber partidas decisivas, terá oportunidade de atrair muitos investimentos e obras de grande impacto.

Mas qual o legado dessas obras? Qual a relação desses trabalhos com o desenvolvimento da cidade para os próximos anos? Como aproveitar esse posicionamento e vencer os desafios de gestão para que a capital cearense se consolide como metrópole regional e possa avançar oferecendo infraestrutura adequada, serviços e qualidade de vida aos seus habitantes e visitantes?

Esse bom debate deverá ocupar o centro das atenções nos próximos anos. Penso sempre que responder a essas questões passa inicialmente pelas oportunidades que a cidade precisa abraçar com o objetivo de se preparar melhor para as necessidades de seu desenvolvimento.

Plano Diretor

Enquanto Fortaleza segue vibrante em seu crescimento, espalhando-se desordenada sobre vasto território adensado, possui ainda grandes desafios. Um deles, certamente, interfere diretamente na gestão da cidade: a falta de regulamentação do Plano diretor (PD), que pouco se discute, mas que tem um enorme peso na capacidade de o Poder Público influir na vida da cidade. Principalmente na mediação dos interesses das forças sociais e econômicas, que disputam o território urbano. Sem instrumentos que regulem a função social da cidade, pouco se assegura para a ampla maioria da população, em geral privada dos melhores serviços.

O PD iniciou sua atualização em 2002, já na era Estatuto da Cidade. Suas diretrizes foram revisadas em 2008. Mas o Plano ainda está por ser regulamentado em 2011. Se a atual administração concluir, em 2012, esse processo, teremos praticamente levado 10 anos para essa atualização. O que estamos perdendo com isso?

Em primeiro lugar, a possibilidade de se pensar a cidade em sua totalidade, assegurando ao Poder Público os meios necessários para mediar a produção real da cidade, que, hegemonizada pelo poder econômico, promove quando quer e quando pode intervenções urbanas, nem sempre a serviço da maioria da população.

Mesmo os grandes equipamentos poderiam ser mais bem aproveitados se Fortaleza contasse com os instrumentos do Estatuto da Cidade contidos no atual Plano Diretor. A ausência de uma matriz legal atualizada e regulamentada de Planejamento inviabiliza até o próprio Instituto de Planejamento de Fortaleza, desativado há 11 anos, e que está prestes a ressurgir, caso vença tramitação na Câmara de Vereadores.

Mobilização

É urgente a mobilização da comunidade acadêmica, das entidades profissionais e das lideranças da sociedade civil na luta para agilizar esse processo, para que a cidade conquiste um lugar ao sol na superação desses obstáculos, concluindo a regulamentação do PD em regime de urgência, abrindo espaço para o debate dos caminhos de desenvolvimento da cidade para os próximos 30 anos. Não é demais lembrar como certas obras de infra-estrutura levam décadas para sua efetivação. O Metrofor e o Transfor que o digam…

Outra questão relacionada e de impacto concreto é a mobilidade urbana da cidade, hoje esgotada, lenta e aguardando soluções de fôlego e de longo prazo nos principais corredores da capital. Procuram-se nos buracos os problemas da cidade, mas vejo que o abismo que temos pela frente é a falta de planejamento da mobilidade urbana. Ninguém se desloca sem atraso, diante de filas infindáveis, sem alternativas e vias rápidas. A vida – profissional, educacional, social – na cidade de mostra em crescente processo de aridez e estrangulamento. Horários se tornam impossíveis de cumprir, compromissos são perdidos, prejuízos são gerados. De quebra, o prazer de viver a cidade – de nela circular e de dela se apropriar, como espaço de sociabilização, reconhecimento e escrita da própria história de cada elo desse coletivo – se vê gravemente comprometido.

A proximidade das eleições produz muitos pretendentes ao cargo principal da cidade. É natural. O que não é normal é o desaparecimento de um debate qualificado e em torno de projetos. É essencial a construção de uma Plataforma para o desenvolvimento no Século XXI. Fortaleza ainda não adentrou este século com as obras e os empreendimentos necessários, que podem consolidá-la como uma das mais pujantes capitais brasileiras. A capital cearense precisa de uma gestão mais empreendedora, que vislumbre esses desafios e tome as medidas para sair dos impasses em que se envolveu. Voltaremos a essa discussão.

Gilvan Paiva é Sociólogo e Secretário de Educação de Maranguape