Congresso da UBM/SP reúne 400 mulheres na Capital

A União Brasileira de Mulheres (UBM), que está em seu 8º Congresso Nacional, realizou uma vitoriosa etapa estadual em São Paulo, reunindo mais de 400 mulheres (e alguns homens, muito bem vindos) em seu congresso estadual no último sábado (14/5). No foco do debate: a eleição de uma mulher à presidência da República, o novo projeto nacional de desenvolvimento e o papel das políticas públicas para as mulheres, com eixo em seu empoderamento.

Congresso da UBM-SP - R30 - Ricardo dos Reis

Vitorioso: assim foi o 8º Congresso Estadual da UBM/SP. A plenária final da etapa estadual condecorou um rico processo de mobilização e reestruturação da entidade no estado iniciado na último congresso, há 4 anos. Desde então, a UBM se enraizou e construiu núcleos com funcionamento permanente em mais de 30 municípios em todo o estado, e por isso, tem assento hoje em conselhos municipais da mulher, de saúde, de juventude, além de conquistar ainda mais prestígio entre as organizações do movimento social e feminista.

Prova disso foi o representativo ato político de abertura, onde saudaram a UBM os deputados estaduais pelo PCdoB Leci Brandão e Pedro Bigardi; o vereador pelo PCdoB da Capital Jamil Murad; o presidente da UNE, Augusto Chagas; o secretário-geral da CTB/SP Wagner Rodrigues; Liége Rocha, representando a Executiva Nacional da UBM; Regina Strepecks, do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo (que cedeu o espaço do congresso), Cremilda Bastos representando a UGT (União Geral dos Trabalhadores); Cristina Rezende representando a UNEGRO (União de Negros e Negras Pela Igualdade); Sandra Costa do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz); e Nádia Campeão, presidente estadual do PCdoB/SP.

Homenagem à Lílian Martins

No primeiro congresso da entidade após o falecimento da companheira Lílian Martins (1951-2009), a UBM dedicou um minuto de silêncio à memória daquela que foi uma das fundadoras da UBM em 1988 e do feminismo emancipacionista. Líder feminista, professora, sindicalista, dirigente partidária, Lílian deu inestimável contribuição à luta pela emancipação da mulher e à construção do socialismo. Sua memória será sempre reverenciada pelas ubemistas.

A luta das mulheres e o novo projeto nacional de desenvolvimento (NPND)

A primeira mesa de trabalho, ainda pela manhã, contou com Nádia Campeão abordando o papel das mulheres no NPND, democrático e soberano. Nádia falou das 6 reformas estruturais necessárias para colocar o Brasil definitivamente em um novo ciclo civilizatório, que abra caminho para o socialismo com feições brasileiras. São elas as reformas da Educação; Tributária; Agrária; Urbana; Reforma da Comunicação; e Reforma Política, sendo que a conquista de uma Reforma Política democratizante é estratégica para que se atinja uma maior representação feminina nos espaços de poder e decisão.

A inédita eleição de uma mulher para o mais alto posto da nação também foi bastante valorizada e comemorada em todas as mesas, sobretudo pelo campo político em que Dilma Rousseff está situada. Contudo, também foi alertado que é necessária mobilização popular para garantir o êxito do governo Dilma e que, se este fracassar, haverá retrocesso nos avanços obtidos e nos direitos das mulheres. Portanto, é central para a UBM a luta engajada no impulsionamento do governo no sentido das mudanças de que o Brasil precisa para entrar definitivamente no rumo do desenvolvimento soberano com distribuição de renda.

A luta pelos direitos das mulheres e seu empoderamento

A secretária nacional da mulher trabalhadora da CTB, Raimuda Gomes (Doquinha), expôs sobre a luta da mulher trabalhadora e a centralidade da redução da jornada de trabalho sem redução dos salários e a aprovação do PL da Igualdade (que institui salário igual para trabalho igual entre homens e mulheres). A trajetória das mulheres no movimento no sindical também foi lembrada. Segundo Doquinha, os sindicatos ainda são ambientes bastante masculinos e as companheiras da CTB vêm trabalhando em parceria com os sindicalistas no sentido de sensibilizá-los para a questão da mulher. Mereceu destaque também a necessidade de construção de creches e outros equipamentos públicos que aliviem a carga da dupla jornada de trabalho das mulheres — no caso das mulheres militantes, tripla.

Em seguida, Nereide Saviani, professora universitária e doutora em educação, abordou como a educação ainda reforça os estereótipos de gênero e a divisão das aptidões por sexo. Ao mesmo tempo, valorizou a educação como produto humano e o papel que ela pode desempenhar no emancipação das consciências e no empoderamento dos que adquirem conhecimento. Não por acaso as mulheres foram mantidas fora dos bancos escolares por séculos a fio. Portando, garantir o acesso e permanência das mulheres ao estudo e à qualificação profissional, bem como uma reforma curricular que tire as mulheres da invisibilidade e desconstrua a idéia da divisão sexual do trabalho, é essencial para alçar as mulheres brasileiras a novos patamares profissionais, nos espaços de poder e produção do conhecimento.

Ginecologista e obstetra há 30 anos, Fátima Duarte foi a terceira palestrante e abordou a questão da saúde das mulheres como um direito essencial não respeitado. Segundo a médica, “98% das mortes de mulheres ocorrem em decorrência de causas totalmente preveníveis”. Fátima também trouxe dados alarmantes sobre a saúde das mulheres negras e o descaso e despreparo sistema de saúde em atendê-las em suas especificidades, em flagrante caso de racismo institucional. O mesmo se pode dizer em relação à mortalidade materna e a criminalização do aborto: o preconceito moral — geralmente de origem religiosa — contra a interrupção voluntária da gravidez faz com que muitas mulheres ainda morram por recorrer aos abortos inseguros e clandestinos. A aclamada exposição também abordou a monstruosidade dos altíssimos índices de violência sexual e doméstica contra as mulheres (a cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil). Ou seja, é necessário garantir os direitos também na vida, não só na lei. Lutar pela implementação integral do SUS e pela aplicação da Lei Maria da Penha (com ampliação dos horários de funcionamento das Delegacias de Defesa da Mulher, que atualmente funcionam em horário comercial!) ainda são desafios constantes que devem perpassar toda a luta das mulheres.

Políticas públicas para as mulheres (PPM)

A terceira e última mesa de debate do congresso contou com a paranaense Elza Campos, coordenadora-geral da UBM, que falou sobre a trajetória de lutas da UBM ao longo de seus 23 anos, o papel das PPMs e a necessidade de transformar nossas necessidades cotidianas e estruturais em bandeiras e campanhas. Elza ainda falou da tarefa que se impõe de lastrear ainda mais a UBM entre as mulheres, sobretudo entre as trabalhadoras e as jovens, como setores estratégicos da luta pela construção do novo Brasil. Nessa mesa de debate também foram elencadas as principais campanhas e bandeiras que nortearão a entidade no próximo triênio, sistematizando as propostas apresentadas pelas delegadas ao longo de todo o dia.

UBM/SP (2011-14)

Coroando o rico processo do congresso estadual, a plenária elegeu as 70 delegadas ao Congresso Nacional da UBM, a ser realizado entre 10 e 12/6 no município de Praia Grande (SP). A plenária, em festa, elegeu também a nova coordenação estadual da entidade, que passou a ser composta por 39 nomes, e não mais 31. A advogada Rozina Conceição de Jesus foi reconduzida à coordenação-geral da UBM de São Paulo, com a tarefa de enraizar e solidificar ainda mais a UBM entre as mulheres de São Paulo.

De São Paulo, Mariana de Rossi Venturini.