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EUA reajustam política intervencionista no Oriente Médio

Em discurso pronunciado no começo da tarde desta quinta-feira (19), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou as linhas gerais da reprogramação política que a diplomacia norte-americana deverá empregar em relação ao Oriente Médio. O reajuste se dá após a administração ter avaliado a política anterior como fracassada, depois do levante praticado pelos povos árabes contra regimes opressores aliados dos Estados Unidos na região.

Em um discurso no Departamento de Estado, em Washington, Obama utilizou como pretexto para anunciar a nova política a retórica de que o futuro dos Estados Unidos "está ligado ao Oriente Médio e o norte da África" por aspectos econômicos, históricos, de segurança e de "destino".

O pronunciamento desta quinta-feira marca uma nova fase do intervencionismo imperialista no mundo árabe e muçulmano, após Obama declarar a morte de Osama bin Laden, o líder da al-Qaida, a "rede terrorista" criada pela CIA para lutar contra a ocupação soviética no Afeganistão na década de 1980, e no meio de um levante popular pró-democracia em vários países da região.

Desde o início dos protestos, ainda no fim do ano passado, Obama é alvo de protestos e críticas pela incoerente posição que assumiu em relação a aliados históricos, como o Barein e o Iêmen. Os regimes destes países praticaram crimes contra a humanidade e não foram alvo de sanções ou quaisquer ameaças, como as que têm sido feitas contra a Líbia – que vive uma agressão quase sem limites por parte do braço armado do imperialismo, a Otan – e a Síria, cujo presidente foi recém-lançado na lista de pessoas sancionadas pelo governo dos Estados Unidos.

No discurso, o presidente norte-americano anunciou medidas de ajuda a países da região. Obama disse que os Estados Unidos pediram ao Banco Mundial e ao FMI que apresentem um plano para a "estabilização" e a "modernização" das economias da Tunísia e do Egito.

Anunciou também um pacote de ajuda econômica ao Egito que inclui US$ 1 bilhão em alívio de dívidas e US$ 1 bilhão em empréstimos.

Recuo tático

Em relação à questão palestina, Obama anunciou pela primeira vez que as fronteiras entre Israel e um futuro Estado palestino devem se basear naquelas de 1967. Em contrapartida, afirmou que deseja ver um Estado palestino desarmado, cuja segurança dependerá, pelo que indica em suas palavras, do atual ocupante e agressor.

"As fronteiras de Israel e Palestina deveriam se basear naquelas de 1967, com trocas mútuas e acertadas, de forma que fronteiras seguras e reconhecidas sejam estabelecidas nos dois Estados", disse Obama em um discurso longo sobre o Oriente Médio.

"A retirada completa e em etapas das forças militares israelenses deve ser coordenada com a pretensão da responsabilidade de segurança palestina em um estado soberano e não militarizado", acrescentou. "A duração deste período de transição precisa ser acertada e a efetividade de arranjos de segurança precisa ser demonstrada", concluiu.

A declaração reflete um recuo tático na retórica norte-americana e uma vitória da resistência e dos movimentos de solidariedade aos palestinos. Os EUA defendiam até hoje que a demanda palestina pelos territórios ocupados deveria ser "reconciliada" com a intenção de Israel em contar com "um Estado judeu de fronteiras seguras".

Ao mesmo tempo, Obama dispara pequenos torpedos, quando anuncia que "os esforços palestinos para não legitimar Israel fracassarão" e quando desqualifica o esforço atual dos governantes palestinos ao dizer que "atos simbólicos na ONU" não criarão um "Estado independente". Obama refere-se à intenção da Autoridade Nacional Palestina de obter o reconhecimento do Estado palestino na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro próximo.

Indo além, Obama ressaltou várias vezes que a "segurança" de Israel é uma prioridade dos EUA, mesmo assim, o discurso certamente será criticado por Israel, cujo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, visitará em breve a Casa Branca.

A retórica de Israel é afirmar que as fronteiras do Estado palestino devem ser definidas "através de negociação", mas na prática o estado israelense tem aumentado a colonização nos espaços ocupados, além de ignorar sanções e resoluções da ONU contra a construção de novas colônias na Cisjordânia ou contra a construção do chamado Muro da Vergonha, que separa israelenses de palestinos e rouba mais territórios dos últimos.

Além de torpedear as últimas ações do governo palestino, Obama ainda decretou que não haverá diálogo com o Movimento de Resistência Islâmico (Hamas). A realização no início do mês de um acordo entre 13 movimentos políticos e militares palestinos, no Cairo, irritou profundamente os governos de Israel e dos Estados Unidos, que veem a unidade palestina como uma trava às pretensões imperialistas na região.

Contra os inimigos, a lei

Sem mudar o discurso de ocasiões passadas, Obama condenou o que chamou de "violência do regime da Síria" contra os supostos manifestantes oposicionistas e fez ameaças ao presidente do país, Bashar al-Assad, dizendo que ele deve "liderar a mudança" ou "sair do caminho". Caso Assad não inicie um diálogo verdadeiro com os oposicionistas, "continuará sendo questionado de dentro e pressionado de fora", ameaçou.

O Departamento do Tesouro dos EUA anunciou na quarta-feira a imposição de sanções contra Al-Assad e outros seis funcionários do governo sírio. Essas sanções também foram seguidas por pedidos de ações semelhantes em países como Alemanha e Suíça e aumentaram as especulações sobre nova pressão internacional pela derrubada do presidente sírio.

Rússia e China condenaram as sanções, afirmando que elas não contribuirão para a estabilidade da região. A Síria afirmou que as medidas "não vão afetar a postura síria" em referência à atuação das forças de segurança na repressão ao que o governo do país chama de "ações incitadas por grupos armados terroristas".

A Síria denuncia também que as sanções são mais um elo da cadeia de pressões das distintas administrações americanas contra o país e acrescenta que, em última instância, as sanções servem aos interesses israelenses.

A Síria acusou também a administração Obama de aplicar a política de um peso e duas medidas, ao fazer propaganda contra a morte de supostas vítimas dos protestos no país, ao mesmo tempo que é responsável pela morte de dezenas de civis no Afeganistão, no Paquistão, no Iraque e na Líbia. Além disso, os sírios responsabilizam também a administração Obama por omissão em relação às ações criminosas das forças armadas de ocupação israelenses contra os palestinos, que só nesta semana mataram mais de 20 manifestantes no chamado Dia da Nakba.

Da Redação, com agências