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Foro de SP homenageia Nicarágua e 32 anos da Revolução Sandinista

A 17ª edição do Foro São Paulo, em Manágua, Nicarágua, entra nesta quinta-feira (19) em sua segunda jornada, dedicada a promover reflexões e analisar os desafios comuns dos povos latino-americanos e caribenhos. Os debates ocorrem em 13 mesas de trabalho.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que não esteve presente, fez questão de enviar uma mensagem ao chefe de Estado da Nicarágua, Daniel Ortega, por meio do chanceler Nicolás Maduro. Nela, o líder venezuelano enfatizou os “50 anos de uma causa popular”, referindo-se à fundação da FSLN.

“Que honra e que compromisso tão grande para você, Daniel, ter Augusto César Sandino como um luminoso exemplo. Seguir os passos do general dos homens livres é sentir, pensar e atuar sob a lucidez e a combatividade”, declarou Chávez.

Estão inscritas no evento 279 lideranças de delegações de 42 partidos, representando 32 países. Além de países da América Latina, estão presentes lideranças da Alemanha, Finlândia, França, Itália, Japão, Vietnã, Saara Ocidental, China, Suécia e embaixadores na Nicarágua da Líbia e Palestina.

A delegação do PCdoB é constituída pela vice-presidente da legenda, deputada federal Luciana Santos, pelo secretário de Relações Internacionais, Ricardo Alemão Abreu, por Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois, por Liége Rocha, Secretária da Mulher, e pelos membros da Comissão de Relações Internacionais, Ronaldo Carmona e Rubens Diniz, e por Ticiana Alvarez, diretora de Solidariedade Internacional da União da Juventude Socialista (UJS).

O foro surgiu na cidade de São Paulo, no Brasil, em 1990, motivado pela necessidade de buscar uma alternativa para o modelo neoliberal promovido e imposto pelos Estados Unidos.

Esta edição coincide com o 116º aniversário de Augusto Sandino e com o 50º aniversário da fundação da Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN).

Ambos os acontecimentos foram evidenciados na última noite pelos seis oradores que discursaram na cerimônia inaugural, presidida pelo secretário-geral da FSLN e pelo presidente da Nicarágua, Daniel Ortega.

Estiveram presentes na cerimônia a líder indígena da Guatemala, prêmio Nobel da Paz e candidata à presidência do país, Rigoberta Menchú, e o vice-presidente do Partido Comunista do Vietnã, Nguyen Manh Hung. Também discursaram no encontro o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, e o presidente do Parlamento Cubano e membro do Partido Comunista de Cuba, Ricardo Alarcón.

O último a se pronunciar foi Daniel Ortega, que destacou a importância de continuar com a integração e a união latino-americana, conquistando espaços na luta contra “a hegemonia do imperialismo e o capitalismo global sobre nossos povos”.

Em seu discurso, o líder sandinista ressaltou os avanços alcançados na região após a reunião realizada no ano passado em Cancún, no México, onde se consolidou a criação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que será constituída no próximo mês de julho em Caracas, na Venezuela.

“Com a criação da Celac, o sonho supremo de Bolívar começa a se consolidar, retomado depois da revolução de Sandino por uma América Latina unida”, lembrou o chefe de Estado da Nicarágua.

Ortega e outros participantes enfatizaram ainda o papel da Revolução Cubana ao longo de meio século de resistência diante das agressões norte-americanas. Os participantes criticaram o bloqueio econômico que Washington mantém contra a ilha e exigiram a liberação dos cinco heróis cubanos presos nos Estados Unidos.

A solenidade foi coordenada por Valter Pomar, da direção do PT, que é o Secretário Executivo do Foro, e por um representante da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Do Brasil estão presentes quatro partidos: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Pátria Livre (PPL).

Chávez lembra Bolívar e Sandino 

Chávez citou em sua mensagem uma declaração de Sandino à imprensa da época. O líder da Nicarágua afirmou que não viveria muito tempo, mas, para dar sequência à luta, “teremos esses jovens, capazes de realizar grandes feitos”.

O presidente da Venezuela afirmou que o Foro de São Paulo tem uma importância crucial. “Somos obrigados a estabelecer uma estratégia comum para frear e derrotar o contra-ataque da direita que pretende reverter as mudanças da época”, declarou Chávez.

Por fim, Chávez, representado pelo chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, lembrou as palavras de Simon Bolívar no século 19, mas que, segundo ele, eram adequadas e oportunas naquele momento. “A opressão está reunida em massa e se a liberdade se dispersa, não pode haver combate. Por essa falta absurda, criminosa, mil opressores da Europa moderna têm subjulgado extremamente o mundo”.

“O grande sonho de Bolívar ainda continua em perspectiva, os grandes ideais. Todas as ideias têm suas etapas de concepção e aperfeiçoamento até sua realização. Eu não sei quando isso poderá se realizar, mas nós seguiremos colocando as pedras nos lugares. Tenho a convicção de que este século assistirá a coisas extraordinárias”.

Debates

Os debates ainda em curso no Grupo de Trabalho de Foro de São Paulo em torno da declaração do 17º Encontro sublinham que prossegue e ganha força crescente o ciclo progressista aberto em 1998 com a Revolução Bolivariana.

Os partidos do Foro governam um número razoável de países, e já ocorrem vitórias onde já houve um primeiro mandato de governo, como é o caso, por exemplo, da Venezuela, Brasil, Uruguai, Argentina. A presença da esquerda latino-americana se amplia, ainda, em governos locais e nos parlamentos. O Foro proclama o apoio às candidaturas presidenciais em eleições que ocorrem em 2011: Rigoberta Menchú, Guatemala; Comandante Daniel Ortega, na Nicarágua; Ollanta Humala, Peru; Cristina Fernández de Kirchner, Argentina.

As discussões também ressaltam os difíceis anos da década de 1990, quando as legendas do campo do Foro tiveram que empreender a resistência à avalanche neoliberal. Por isto ressaltam a importância da perspectiva, da estratégia. Ou seja, criar convergência em torno do projeto alternativo ao neoliberalismo, dos caminhos da superação dele, e a que rumo se chegar. É neste âmbito que aflora com força a bandeira do socialismo. Sem modelos, tampouco sem recorrer a cópias, como ressaltou Ricardo Alarcon, de Cuba, em seu pronunciamento na abertura oficial do evento. “ Depois de uma época de dificuldades, de longo tempo escuro, negro, desponta um socialismo que brota da diversidade, da singularidade de cada país, algo como um arco-íris.” Um socialismo de muitas cores, arremata.

Contudo, as reflexões recusam qualquer abordagem triunfalista. Desde modo, também, assinalam que o imperialismo empreende um “contra-ataque” em conjunto com a direita e as velhas oligarquias, tal como ocorre, neste momento, onde a reação, com entusiasmo, busca eleger Keiko Fujimori no Peru.

Um espelho da esquerda da América Latina

O Foro é produto da resistência ao neoliberalismo e das vitórias alcançadas sobre ele. Reflete a força e as virtudes das legendas progressistas e de esquerda que lideram este processo, bem como seus dilemas, lacunas e desafios. Percebe-se que avança a maturidade em lidar com as diferenças e mesmo divergências e valorizar os conteúdos e atitudes que proporcionam a unidade dos diferentes “troncos” da esquerda latino-americana. Dois exemplos. Um vem dos governos. Brasil e Paraguai, depois, de muito debate, construíram um acordo a respeito de Itaipu.

No âmbito no Foro há partidos que lideram distintos processos de integração, como é o caso do Mercosul e da Alba. Mas, o que vem à tona hoje, é que ambos os campos valorizam o Foro e, simultaneamente, têm entusiasmo pela Comunidade Latino-americana de Nações (Celac). É uma articulação que tende a crescer e elevar seu significado e alcance político. Ganha vigor porque é uma necessidade da luta anti-imperialista e também porque aumenta a clareza de que nenhum povo poderá vencer sozinho. Na atualidade, a realização dos projetos nacionais demanda a formação de blocos regionais. No caso da América Latina, isto se manifesta num conceito do qual o Foro é entusiasta: a integração solidária.

Da Redação, com informações da Prensa Latina e da delegação do PCdoB em Manágua.

Atualizada às 11h18 para acréscimo de informações