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Netinho critica ausência do Estado para jovens da periferia de SP

O vereador e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PCdoB, Netinho de Paula, criticou no último sábado (21) a ausência de ações do Estado para jovens que vivem na periferia da cidade. “O braço do Estado não alcança a periferia, então, ela passa a agir com suas próprias normas, suas leis e seus próprios meios de cultura”, explicou o parlamentar ao comentar o Mapa da Violência, estudo que coloca o Brasil na 6ª posição em taxas de homicídio.

Elaborado pelo Instituto Sangari, em parceria com o Ministério da Justiça, o estudo traz um diagnóstico sobre como a violência tem levado à morte um grande número de brasileiros, especialmente os jovens, nos grandes centros urbanos e também no interior.

Netinho, que antes de começar a carreira política atuou como líder comunitário na periferia, explica que, além das mortes causadas pela atuação da polícia, esses dados se dão pelo enfrentamento de grupos que disputam espaço nessas regiões. “Esse levantamento é a mostra de que não há um controle social do Estado, nem políticas públicas pensadas para essa camada social. É uma perda de talentos e oportunidades”, reflete o vereador.

Durante o encontro, “São Paulo pela Juventude” – que reuniu parlamentares, diferentes tipos de lideranças juvenis e movimentos sociais para uma sessão plenária que visava a elaboração de uma pauta com as principais demandas da juventude –, Netinho ressaltou que jovens que querem discutir política não estão apenas em universidades.

“É um engano tentar formar lideranças de juventudes só nas faculdades. Existe um número enorme de jovens que não conseguem nem terminar o primeiro grau. Eles estão na periferia e, se não liderarem para o bem, vão liderar para o mal”, alerta ele. “Nossa principal função é trazer esses jovens para movimentos politizados”.

O encontro “São Paulo pela Juventude” discutiu ao longo de todo o dia as principais necessidades da juventude e, segundo o organizador do evento e presidente da União da Juventude Socialista (UJS), Osvaldo Lemos, deverá ser criada uma carta com todas as propostas de políticas públicas para jovens, pensadas e discutidas ao longo das mesas de debates. Em uma semana, garante ele, a carta será entregue ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, junto ao pedido de criação do Plano Nacional para a Juventude pelo governo municipal.

Além dos temas relacionados ao trabalho, à educação, à violência e ao acesso a internet, Netinho ressaltou a necessidade da representação dos jovens no Parlamento. “No que se refere à Reforma Política, acredito que a quantidade de políticos que nós temos com menos de 30 anos de idade, seja na Câmara, na Assembleia, ou na Câmara Federal é ínfima”, acredita.

“Nós não temos representação e os líderes que falam pela juventude, quando chegam ao Parlamento, já deixaram de ser jovens. Perderam o linguajar, o costume e a necessidade que esses jovens têm. O movimento estudantil tem que promover seus líderes. Os jovens que estão na periferia que precisam se eleger”, defende Netinho.

Demandas juvenis

O presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), Gabriel Medina, elencou as cinco prioridades do Plano Nacional de Juventude. Para ele, no que se refere à educação, a principal necessidade é a expansão do Ensino Médio. “Embora, tenhamos acompanhado um crescimento quantitativo, a qualidade não acompanhou esse ritmo. O índice de pessoas fora do Ensino Médio ou com algum tipo de atraso é de 40%”, ressalta.

Além da educação, o acesso à internet, o uso de drogas, a violência e o trabalho aparecem como as outras quatro principais demandas da juventude. Entretanto, Gabriel alerta que, a prioridade é promover um levantamento amplo e completo sobre as condições sociais e políticas em que vivem os jovens da cidade. “Precisamos fazer um grande esforço nacional para ter indicadores que revelem como vivem e quais são os principais problemas dos jovens hoje”, enfatiza.

De acordo com pesquisas, o trabalho ocupa um dos temas centrais na juventude atual. Nesse sentido, Gabriel explica que as agendas da educação e do trabalho devem dialogar entre si, mas também devem se relacionar com as formas de lazer que estão à disposição dos jovens. “É fundamental termos espaços públicos para fluição cultural, espaços para convívio, bibliotecas públicas e alternativas para o uso do tempo livre”, defende Gabriel.

“Esse tempo livre não é garantido pela jornada de educação e trabalho que, muitas vezes, impede que o jovem da periferia de ter oportunidade de participar e de construir espaços tão importantes para os cidadãos”, acrescenta.

Em relação ao acesso à internet – tema recorrente durante o debate, uma vez que vem se consolidando como mais uma das formas de mobilização e organização política –, Netinho explica que além de oferecer o acesso, por meio de lan-houses, é necessário entender que tipo de conteúdo os jovens da periferia buscam na internet. “Geralmente, são realizadas pesquisas para venda de produto, temos que elaborar pesquisas que levantem o tipo de conteúdo que os jovens têm interesse”.

Governo federal

A secretária adjunta da Secretaria Nacional de Juventude, Ângela Guimarães, também presente no evento, explicou que as pautas relacionadas à juventude só foram incorporadas à discussão em âmbito nacional a partir de 2005. “Vivemos muitas décadas no Brasil sem a juventude ser considerada um segmento relevante para as políticas públicas. Hoje queremos consolidar essa temática”.

Porém, Ângela reconhece que até hoje não existe um atendimento satisfatório das demandas juvenis. Uma das razões pelas quais o Brasil ainda apresenta muitas lacunas na execução de políticas públicas para a juventude, apontadas pela secretária, é a dimensão continental do país e a consequente diversidade dessa camada social. “Ainda não temos uma concepção homogênea sobre a juventude, suas demandas e seus direitos. Há muitas contradições nesse panorama. Estamos batalhando para colocar a juventude no centro do debate”.

“Sabemos que ainda estamos longe de alcançar isso”, admite. “Temos promovido muitos diálogos com diferentes estados e muitas articulações com os governos para começar a mudar a situação”, afirma ela.

Ângela, que compôs uma das mesas de discussão do encontro para representar o governo federal, enfatiza a responsabilidade do estado de São Paulo no debate. “É o maior estado do país em números, o segmento jovem é muito ativo, muito significativo. Portanto, é impossível atender essas demandas sem um Estado indutor, sem que ele exerça seu papel de protagonista, delimite orçamentos, crie instrumentos para monitorar as ações já desenvolvidas”, acredita.

Ao destacar a relevância dos próximos encontros políticos para a juventude – as Conferências Municipais e Nacional –, a secretária lembra que foi durante o governo Lula que esse espaço foi aberto. “Até então, o Estado era um ente que não se abria para o diálogo. Desde 2003, vivemos um ciclo totalmente novo e a tendência com o governo da presidente Dilma é aprofundar esse trabalho”, explica Ângela.

De São Paulo,
Fabíola Perez