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Às vésperas da convenção, FHC tenta salvar a pele de Serra

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foram incumbidos de negociar com o ex-governador José Serra o espaço que lhe caberá no comando do PSDB. Neste sábado (28), os tucanos realizam a convenção nacional que elegerá os novos dirigentes da legenda.

Uma das alternativas para conter a crise tucana é a criação de um Conselho Político, para definir linhas de ação do partido daqui para a frente. Uma vez fortalecido, o conselho teria papel na atualização do programa e na elaboração de estratégias partidárias.

Diante da resistência do grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) a ceder a Serra a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV) – cargo para o qual a bancada do Senado convidou o ex-senador Tasso Jereissati (CE) –, FHC e Alckmin devem propor a Serra que ele assuma a presidência do Conselho Político.

Teriam assento no órgão o próprio FHC, os ex-candidatos do partido à Presidência (Serra e Alckmin), um representante dos governadores (o nome mais cotado é o de Goiás, Marconi Perillo) e outro do Congresso, que poderá ser Aécio, além do presidente da legenda, o deputado Sérgio Guerra (PE). A princípio, o Conselho seria presidido por FHC – mas o ex-presidente preferiu abrir mão da indicação para tentar resolver o impasse.

As primeiras sondagens junto a aliados de Serra, porém, indicaram que a proposta não foi muito bem recebida. Como resposta, FHC propôs que os paulistas fiquem, além do comando do conselho, com duas vice-presidências da executiva nacional – um indicado por José Serra e outro por Alckmin.

O nome posto nas conversas pelos serristas e aceito pelos demais é o do ex-governador Alberto Goldman, enquanto o indicado de Alckmin é o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, Emanuel Fernandes, deputado federal e ex-prefeito de São José dos Campos. Estas são as últimas propostas em negociação pelos grupos paulista e mineiro, na tentativa de acordo para evitar um racha na convenção nacional.

As ameaças dos tucanos paulistas de boicotar a convenção caso Serra seja preterido na indicação para o ITV ainda não surtiram o efeito esperado. A fundação do partido é responsável pela realização de seminários, pesquisas e estudos de conjuntura. Sgeundo sondagens internas, a indicação de Serra para o ITV não tem apoio de maioria dos convencionais do partido.

Candidato à reeleição, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), trabalha para evitar uma disputa aberta entre os dois principais diretórios do partido, o de Minas e o de São Paulo. Segundo ele, o partido não pode ficar preso apenas à briga porque tem representações fortes em muitos outros estados como Paraná, Pará e Goiás.

“Claro que não há solução sem São Paulo, mas não estamos emparedados por isso, não. O partido não é só São Paulo e Minas. Não podemos ficar reduzidos a essa discussão bipolar, caso contrário, não chegaremos a lugar algum”, afirmou Guerra, que tenta costurar um acordo.

Neste sábado, em Brasília, os delegados tucanos vão eleger o diretório nacional, que tem 213 integrantes, para o qual a chapa é única. A falta de acordo entre os grupos mineiro e paulista ameaçava levar a definição da executiva para um confronto.

Apesar da pressão paulista, até quinta-feira era descartada pelos aecistas a possibilidade de recuo na indicação de Tasso para a presidência do ITV. Essa solução foi tentada por Alckmin, interessado em evitar conflitos com Serra. Mas Tasso foi convidado publicamente pela bancada no Senado, aceitou, e virou fato consumado.

Para os tucanos que defendem a candidatura de Aécio a presidente, Serra transformaria o ITV num espaço para fazer campanha pessoal. Além disso, temem que, num cargo com essa projeção, Serra estabeleça um duplo comando do PSDB, disputando com Sérgio Guerra. Guerra, por sinal, é um dos mais preocupados com o confronto entre Aécio e Serra. Ele é visto como aliado do mineiro, mas está interessado em manter o partido unido.

Com a disputa pela formação da executiva, o PSDB conseguiu, na prática, antecipar para 2011 o confronto previsto para 2014 entre Serra e Aécio, pela vaga de candidato do partido a presidente. Serra já foi derrotado duas vezes (2002 e 2010), mas ainda alimenta expectativa de disputar.

A avaliação majoritária no partido é que a vez é de Aécio, por vários motivos, como a maior capacidade de agregar politicamente e os erros atribuídos a Serra na campanha de 2010. Mesmo assim, é consenso que o peso político de Serra não pode ser descartado pelo partido e que é prematuro definir agora uma candidatura. O perfil ideal dependerá de vários fatores, entre eles do desempenho do governo Dilma Rousseff e da coesão – ou não – de sua base de sustentação.

Mesmo adversários de Serra defendem um acordo, para evitar que ele saia humilhado e o partido, definitivamente rachado. O receio é que Serra seja transformado no "Kassab do PSDB", numa referência à saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do Democratas, levando um grande número de filiados para o novo partido, o PSD. "Todo mundo está procurando uma forma de Serra não ser vencido", define uma liderança envolvida nas conversas.

Por enquanto, Aécio tem vencido todos os rounds. Primeiro, com uma mobilização de apoio à reeleição de Guerra na presidência do partido, barrando uma articulação de aliados de Serra para conduzi-lo ao cargo. Depois, conseguindo apoio à permanência do deputado Rodrigo de Castro (MG), seu aliado, na secretaria geral do partido. Os paulistas queriam substituí-lo.

Por fim, o senador mineiro antecipou a formalização do convite a Tasso para assumir o ITV, rebatendo a articulação de Alckmin para levar Serra ao comando do órgão. Tucanos de São Paulo disseram que se tentava destruir e humilhar o ex-governador. Os dirigentes discutem a redefinição de alguns papéis de cargos da executiva, entre eles o da vice-presidência, ocupada pelo ex-ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira, cujo cargo absorveu boa parte do poder da secretaria-geral do partido.

Da Redação, com agência