Sem categoria

Tonho Crocco: rompendo as fronteiras do rap

Tonho Crocco

Dentre os personagens da história recente da cena alternativa em Porto Alegre, Tonho Crocco pode ser considerado como um dos nomes mais importantes. Desde o início da sua caminhada musical, com a banda Ultramen – com quem lançou cinco trabalhos -, Tonho sempre despontou com sua voz de timbre único e bem afinada. Até pelo coral da famosa OSPA, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, ele andou. Mas não foi pelos palcos enormes dos teatros, nem com o acompanhamento de orquestras que ele fez sua caminhada, mas sim por palcos acanhados, casas de shows intimistas, a companhia de amigos e parceiros de noite e muito, muito calor humano.

Assim, das aulas de flauta doce, passando pelo coral do colégio, as fitas K7 com o rap do Run DMC e pelas rodas de beatbox nas esquinas das noites da capital gaúcha, surge o poeta, rimador, ativista, músico e compositor, Tonho Crocco. Num breve bate-papo com o portal Central Hip-Hop/BF ele nos fala de sua trajetória, momentos marcantes e outras histórias mais…

CHH: A música rap, o canto rimado, foi o seu berço como artista ou você já desenvolvia outros trabalhos, em outros segmentos da música? Como o hip-hop surgiu pra você?

Tonho Crocco: No começo dos anos 90 estavam surgindo vários grupos, bandas e artistas de rap, bem como grafiteiros, B-boys e DJs. Era a cultura hip-hop chegando com força em Porto Alegre. Quem começou a função foram as equipes de som e crews de break dance, como Mário Pezão, Nezzo, Jara Musisom, Mano Délcio, Gê Powers, entre outros. Mas quem eu devo creditar a minha influência é ao Edu-K (vocalista da banda Defalla). Foi um choque ver e ouvir aquela mistura! A atitude do rap aliada a rebeldia do rock.

CHH: A música rap, o canto rimado, foi o seu berço como artista ou você já desenvolvia outros trabalhos, em outros segmentos da música? Como o hip-hop surgiu pra você?

Tonho Crocco: Começei tendo aulas de música no primário (flauta doce) e depois entrei no coral do colégio. Já o rap veio através dos amigos, através de fitas K7. "Escuta isso cara!"; alguém da turma mostrou uma mixtape com Run DMC com a faixa "Mary, Mary", Thaide e DJ Hum ("Minha mina") e Os Metralhas ("Rap da abolição"). Foi amor a primeira vista.

CHH: E a partir daí, como surgiu na cena o MC Tonho Crocco? Quais foram os teus primeiros trabalhos com a música?

Tonho Crocco: Minha primeira banda foi a Ultramen. Eu tinha 17 anos e conhecia uns caras do Julinho (Colégio Júlio de Castilhos), que estavam fazendo um som meio Public Enemy, Faith No More, Red Hot Chilli Peppers, etc. No primeiro ensaio me pediram pra rimar e não pra cantar (risos). Já na primeira fita demo gravamos uma música que se chamava "Hip-hop, Beatbox, com vocal e James Brown". Acho que é meu primeiro registro versando.

CHH: Fale pra gente de todos os anos de trabalho com a banda Ultramen, grupo que o projetou na cena gaúcha. Os bons momentos, os momentos difíceis. Que bagagem ficou?

Tonho Crocco: Prefiro lembrar as coisas boas. As barreiras e preconceitos que superamos. O descaso e críticas negativas por parte de alguns segmentos da mídia só fizeram melhorar nossos passos e nossas composições. Foi muito digno ter praticamente a mesma formação da banda por 18 anos… E o que mais me dá orgulho foi ter feito e criado uma música autêntica e a frente do seu tempo, não só para Porto Alegre, mas para o Brasil.

CHH: Esse assunto envolvendo os preconceitos da mídia tradicional é muito debatido entre os artistas do meio alternativo, em especial no hip-hop. Você acha que essas barreiras estão caindo ou ainda há muita ignorância da mídia quando o assunto é rap/hip-hop?

Tonho Crocco: Não é ignorância o problema, é um câncer que atinge quase todos os setores da mídia: a comercialização da arte. As rádios são sustentadas por gravadoras multinacionais. Os jornais sempre dão mais destaque às atrações estrangeiras e a TV brasileira só promove seus atores e produtos. A internet ainda é a ferramenta mais democrática para os artistas independentes. Tenho fé que mude isso! Sonho com o dia em que as pessoas acordem pra toda essa manipulação que sofremos. As grandes corporações não podem ditar o que devemos vestir, escutar ou comer!

CHH: Quantos discos a Ultramen tem gravado (cite os nomes) e qual foi uma apresentação inesquecível pra você?

Tonho Crocco: Meu primeiro álbum gravado foi com a banda Defalla, chamado Top Hits (1996, Cogumelo Records). Daí vem os cinco com a banda Ultramen: Ultramen (1998), Olelê (2000), O Incrível Caso da Música que Encolheu e Outras Histórias (2002, Sum Records), Acústico MTV – Bandas Gaúchas (2005, Sony music), Capa Preta (2007, Antídoto). E tenho o meu agora, em CD e vinil: O Lado Brilhante da Lua (2011, MoMo King Records).

Momento inesquecível: o show no primeiro Fórum Social Mundial, em 2001. As letras faziam sentido naquele momento. O dia estava lindo. As pessoas interessadas em política e cultura…

CHH: Dentre os trabalhos que você realizou como rapper, cantor e músico, quais seus preferidos? Aqueles que você sempre traz na memória e considera músicas marcantes…

Tonho Crocco: Difícil dizer um. Existem dois momentos sublimes pra mim: quando acabo de escrever uma música ou letra e quando ouço aquilo que foi gravado. É quando alguma coisa sai de dentro e é materializada.

CHH: Voltando ao tema mídia. Até onde vai o poder da internet? No exterior a gente sabe que ela já é uma excelente ferramenta de vendas e promoção, mas em terras tupiniquins, nesse aspecto, ela parece ainda engatinhar. Talvez os brasileiros tenham medo de comprar pela web ainda, não sei… Você acredita que esse meio de comunicação irá um dia tornar-se realmente mais poderoso do que as lojas tradicionais de CD no que diz respeito ao comércio do "produto" música no Brasil?

Tonho Crocco: Eu tenho certeza disso! O selo Dap Tones, da Sharon Jones e Budos Band, só vende pela web. Isso evita atravessadores entre o artista e seu público, além de baratear o produto. Também estou fazendo isso. Vendo camisetas, CD e vinil pelo meu site, nos shows e em lojas de vinil.

CHH: Desse mesmo tema vem outra questão… Muitos dizem que a venda de CDs, materialmente falando, está condenada. E que, com o advento do download gratuito e da pirataria, são poucas as pessoas que compram CDs hoje em dia. Qual sua opinião a respeito?

Tonho Crocco: Acho o formato CD e DVD muito ruim. Pula, arranha, é caro para o consumidor e tem uma vida útil baixa. Prefiro vinil, mas compro CDs nacionais e independentes. Não sei se desaparecerá, mas o mp3 e arquivos digitais vieram pra ficar.

CHH: Estilos como o MPB, pagode, forró, sertanejo, funk carioca e tantos outros, tem um apelo popular fortíssimo. As pessoas parecem não ter de fazer força alguma pra ganhar dinheiro com eles. Já nos Estados Unidos e na França, por exemplo, a música rap tem seu mercado consolidado e movimenta milhões. Afinal, o que falta ao rap brasileiro?

Tonho Crocco: A música popular é um reflexo do povo e do enorme mercado destes gêneros. Dos milhares de cantores sertanejos apenas dez estão em evidência. E os outros? Não são bons? Não tem público? Com o rap é a mesma coisa. Existem poucos grupos e artistas nas "cabeças" e um exército independente esperando sua vez.

CHH: Atualmente você caminha mais pela praia da MPB, do Samba Rock e original funk, sempre com uma pitada bem brasileira. E o rap? Num passado recente você fez alguns trabalhos colaborativos como grupos e artistas da cena gaúcha. Você pretende voltar a realizar trabalhos com o estilo?

Tonho Crocco: Claro! Canto rap a mais de vinte anos, mas queria gravar um disco de música brasileira. De outras influências que tenho, como Banda Black Rio, Tim Maia, Pau Brasil e Luís Vagner… Meus últimos trampos com o rap foram com o Big MC Tchê e o protesto "Gangue da Matriz", que pode ser baixado gratuitamente no meu site.

CHH: Conte pra gente sobre seus projetos e deixe seu salve.

Tonho Crocco: Ir pra estrada divulgar meu vinil. Já passei pelo Rio de Janeiro. Junho será em São Paulo – 11/6, no Urban Lounge e 14/6 no SESC Pompéia. Em julho é a vez de Porto Alegre. Além disso tenho mais alguns vídeos pra lançar ao longo do ano.

Meu salve fica pra todo povo do rap e do hip-hop brasileiro, engajados na cultura e na criatividade! Acreditem, nossas palavras podem melhorar o mundo! Paz e justiça.

Fonte: http://centralhiphop.uol.com.br