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Jorge Semprun: A memória da resistência

O escritor Jorge Semprun viveu as contradições políticas do século, que registrou em seus livros. Ele, que foi a memória da resistência, despediu-se da vida no dia 7, em Paris

Por José Carlos Ruy

A vida de Jorge Semprun, o escritor e militante político que deixou de viver no dia 7 de junho, aos 87 anos de idade, transcorreu principalmente entre a Espanha onde nasceu e a França que escolheu para viver. E fez dele um notável “ator nesse período histórico” (como ele próprio se referiu certa vez à sua luta contra a ditadura franquista na Espanha) crucial que foi o século 20.

Nascido em uma família burguesa e ligada à cúpula do estado espanhol, ainda era criança quando foi morar na Holanda e, depois, na França. Militante comunista (filiado ao Partido Comunista Espanhol) desde 1942, fez parte da Resistência que combateu os nazistas ocupantes da França; preso pela polícia política dos invasores, foi enviado ao campo de concentração de Buchenwald, onde ficou confinado durante 16 meses, até ser libertado após a derrota nazista, em 1945.

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Militou no PCE nas décadas seguintes, chegando a ser eleito para o Comitê Central. Em 1964, por opor-se à fidelidade dos dirigentes comunistas à orientação de Moscou, foi expulso do partido e passou a dedicar-se exclusivamente à literatura orientação, produzindo obras onde as contradições políticas e a denúncia do nazismo pulsam com força. Foi também um crítico severo daquilo que considerava como o autoritarismo das direções comunistas, como no livro “Autobiografia de Frederico Sánchez” (1977). Mais tarde, de 1988 a 1991, foi ministro da Cultura no governo socialista de Felipe Gonzáles. Além da literatura, foi roteirista de inúmeros filmes, entre eles dois de Costa-Gavras – “Z” (1969) e “A Confissão” (1970).

Já nos anos 60, quando foi expulso do PCE, Semprun defendia a via pacífica para o socialismo, afastando-se da defesa da revolução como um método de mudança social e política. Continuou pensando assim nos anos seguintes, mas manteve seu ponto de vista socialista e crítico do capitalismo, como deixou claro em uma de suas últimas entrevistas. “A necessidade de transformar a sociedade segue viva”, disse então. E o fracasso da experiência soviética (que ele designou como “leninismo”) “não faz do sistema capitalista uma sociedade justa”, sugerindo a necessidade de se manter a utopia da necessidade de “reformar a sociedade”. O mercado, disse, não é Deus e, se ficar inteiramente livre, “será nefasto para a sociedade”.

Alguns livros

1963 – A grande viagem

1969 – A segunda morte de Ramón Mercader

1977 – Autobiografia de Frederico Sánchez

1980 – Aquele domingo

1981 – A algaravia

1983 – Biografia de Yves Montand

1986 – A montanha branca

1994 – A escrita ou a vida

2001 – Viverei com seu nome, morrerá com o meu

2003 – Vinte anos e um dia