Daniel Lima: um cearense talentoso que anima o cinema

De férias no Ceará para visitar a família e dar um workshop na Art&Cia, o animador do estúdio americano Blue Sky, Daniel Lima, conversou com O POVO sobre a sua trajetória de sucesso

Daniel Lima, cearense no Cinema - Sara Maia

Ele ainda guarda os traços do menino nerd que foi, quando ainda usava óculos estranhos, tinha um rosto pueril e era um aficionado por coisas eletrônicas e arte e que a família chamava de cientista maluquinho. Ele mantém os gostos e o frescor, mas os aros grossos foram aposentados depois de uma cirurgia que deu fim a miopia e o deixou com os olhos ressacados quando está trabalhando e esquece de piscar de tão concentrado que fica. Quem o vê, logo a primeira vista, nota que Daniel Lima, apesar dos 31 anos e das conquistas, continua o garoto que gostava de computador e que, aos 12 anos, descobriu que era aquilo que queria para o resto da vida.

Hoje, o cearense Daniel mora em Nova York e é um dos três brasileiros – os outros dois são o diretor carioca Carlos Saldanha e o gaúcho Renato Falcão – que trabalham no estúdio de animação Blue Sky, o braço de animação da Fox, responsável pela franquia Era do Gelo e pelo sucesso Rio.

Em visita ao Ceará para rever a família e dar um workshop sobre a produção de filmes em 3D, Daniel trabalha há um ano e meio nos filmes do estúdio. No começo da carreira, ele foi um generalista e fazia todas as etapas de uma animação, desde a concepção do personagem até o produto final. Na Blue Sky, um dos três maiores estúdios junto a Pixar e a DreamWorks, Daniel cumpre uma etapa pré-animação, menos concorrida que a animação em si justamente por ser mais técnica: o rigging.

É o rigging o responsável por fazer com que os movimentos de uma animação sejam os mais naturais possíveis. “O rigger constrói o personagem para o animador, faz a deformação dos músculos. Por exemplo, quando o braço dobra, ele mantém a volumetria. Isso é o rigging, um trabalho bem artesanal, que as pessoas acham chato, mas que eu sou apaixonado”, explica Daniel.

Apesar de ainda ser muito jovem, Daniel diz já ter chegado onde queria em 12 anos de carreira, que começou sem nunca ter feito concluído nenhum curso, nem no Brasil nem no exterior. Aos 12 anos, interessado pela feira de ciências da escola, entrou no projeto de construir um carro elétrico “de verdade”. Para isso era preciso patrocínio e uma boa apresentação. Então, construiu o carro em 3D no computador, usando o 3DStudio, um software doado por um professor, mas que ele aprendeu “fuçando sozinho”. “O projeto não deu em nada. O que ficou foi a certeza de que eu tinha encontrado algo que eu queria de verdade.

Naqueles anos, 1994 e 1995, Parque dos Dinossauros e Toy Story eram lançados e Daniel se viu apaixonado por animação no cinema. “Quando misturou isso de querer aprender arte com o cinema, só deu num caminho que é trabalhar com computação gráfica”. O artista ainda começou a cursar Engenharia Elétrica, mas aos 19 anos, por causa do Argus, um alienígena verdinho que criou para um concurso, foi chamado para trabalhar com 3D em uma produtora de São Paulo. Sete anos depois e já casado, a animação o levou para Vancouver (Canadá), onde realizou um dos seus trabalhos mais importantes.

Daniel fez parte da equipe de quatro animadores que fizeram Distrito 9, um filme dirigido por Neil Blomkamp e produzido por Peter Jackson, o diretor dos três O Senhor dos Anéis. Distrito 9 é um filme com alienígenas e a cena final de 15 segundos foi toda ela feita por Daniel. “Quando me deram a cena, não sabia que ia ser a última. Ela era a ‘menina dos olhos’ do diretor e eu tive de refazê-la quatro vezes. Mas foi ótimo”, conta.

Distrito 9 foi o último trabalho de Daniel como animador. Depois dele, o artista enviou currículo para ser rigger na Blue Sky e, após uma entrevista, ele foi imediatamente contratado. “Na entrevista, eu falava de animação como se fosse a coisa mais importante da minha vida, depois da minha família era aquilo. Eu tenho o Maya (software de animação) na minha cabeça, abria e fechava, e mexia com ele na minha cabeça”, brinca.

Quando chegou na Blue Sky, Rio estava em fase final, mas Daniel ainda trabalhou com os riggings das cenas do desfile da escola de samba na Sapucaí. “O mais bacana de Rio foi conhecer o processo do filme, ver as animações saindo do forno e conhecer os caras que faziam as animações mais geniais. Eu olhava uma cena no preview, depois ia conversar com quem fez e pra mim ele é tipo uma estrela do rock”, revela. Agora, o artista acabou de finalizar a pré-animação de A Era do Gelo 4 e de outro longa que deverá ser lançado em 2013, ainda sem título confirmado.

Inspiração para animadores brasileiros que sonham fazer o mesmo percurso, Daniel enumera alguns requisitos: “É preciso saber um pouco de inglês, ter alguém que o apoie (no caso de Daniel, é a esposa Andréa), perseverar, ser muito determinado, traçar metas e se desafiar sempre. Os cursos de animação servirão para acelerar o processo, mas o mais importante é saber que o artista nasce com a arte nele, na alma, no coração”.

Fonte: O Povo