Construção civil: 3 acidentes em 2 meses e 10 mortes em 15 dias

Muitos acidentes estão acontecendo nos canteiros de obras em Fortaleza e não chegam ao conhecimento do sindicato ou da imprensa.

Acidentes construção civil Ceará

No dia 29 de abril, o jornal Diário do Nordeste publicou uma matéria que denuncia: “A estimativa é de que a subnotificação dos acidentes de trabalho nos serviços de saúde chegue a 95% no Brasil, ou seja, somente 5% dos casos são registrados como tal”.

O cronograma acelerado por conta das obras da Copa de 2014 e do aquecimento da economia tem mobilizado intensamente o mercado da construção civil. Segundo a Pesquisa de emprego e Desemprego do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), desde o mês de abril de 2011, a construção civil corresponde a 6,3% da mão de obra da região metropolitana de Fortaleza.

“A contratação em massa para seguir os cronogramas da Copa e de outras obras, se não forem seguidas as condições de segurança, podem levar a novos acidentes”, declara o Coordenador Geral do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza (STICCRMF), Nestor Bezerra.

Acidente mata 8 operários

Na manhã do dia 23 de maio de 2011, um acidente CE-090 revelou a precariedade no transporte de funcionários na Construção Civil do Ceará. A colisão matou na hora 5 operários, um a caminho do hospital e resultou em mais duas mortes nos dias 26 e 31 maio. Ao todo foram 8 mortes e 4 operários feridos. O veículo era conduzido por outro operário da obra, e levava funcionários da empresa Cameron e de uma terceirizada.

Em choque, os companheiros de trabalho que atuam na construção do Condomínio Breezes no Cumbuco, tentaram ajudar em vão os companheiros feridos no local do acidente.

As condições de transporte dos operários da Construção Civil da Região Metropolitana chamam atenção. O STICCRMF alertou sobre as condições de transporte de operários para as obras do Beach Park das empresas SCOPA, Cameron, J Simões, Construtora Castelo Branco, Manhatan, dentre outras.

Segundo Nestor Bezerra, Coordenador do STICCRMF, “as condições dos ônibus e a superlotação, no qual estão sendo transportadas pessoas em pé, podem levar a outro acidente. Estamos solicitando às construtoras que estruturem a frota”.

Notas de uma tragédia

Poucos dias após o acidente, o filho do operário, Antônio Ferreira da Silva, morto no acidente, nasceu e a viúva não conseguiu ter condições de se deslocar até a sede do sindicato para realizar a homologação do esposo.

Acidente no Consórcio Galvão/Andrade Mendonça mata 2 operários

No dia 10 de junho, outro acidente, mata mais 2 operários. Desta vez, da construção do Centro de Feiras e Convenções, localizada na Avenida Washington Soares em Fortaleza. Os operários do Consórcio Galvão/Andrade Mendonça trabalhavam em cima de uma laje que desabou e morreram a caminho do hospital.

O Sindicato solicitou a paralisação da obra, mas segundo o diretor do STICCRMF, José Ribamar, “apesar de termos solicitado a suspensão da obra, em razão ao falecimento dos companheiros, quando chegamos no dia seguinte, encontramos a estrutura de almoço para os operários já preparada, aí entramos em contato com a empresa e voltamos a solicitar a paralisação dos trabalhos”. Mesmo assim, os operários do setor da Construção Pesada, trabalharam normalmente, por fazerem parte de outro sindicato.

Queda de laje na Imobiliaria Ary

No dia 14 de abril de 2011, um acidente na Imobiliária Ary com características parecidas aconteceu no Centro de Convenções levou ao Instituto José Frota, 5 operários e um sexto ao Gonzaguinha da Parangaba. O acidente também aconteceu devido a uma queda de laje, que cedeu e foi parar em cima de um trator.

SINDUSCON/CE não se pronuncia sobre os acidentes

Segundo o STICCRMF, o Sindicato patronal não se pronunciou sobre os acidentes que aconteceram no período de dois meses, além da precariedade de condições de trabalho do setor.

O STICCRMF pede que os trabalhadores comuniquem os acidentes para combater a subnotificação. O sindicato também quer uma posição do SINDUSCON/CE sobre o combate aos acidentes no setor.

Outra ação do sindicato foi solicitar que todas as homologações de vítimas fatais sejam realizadas na sede do sindicato e se dispõe a ajudar as famílias na obtenção das verbas rescisórias.

De Fortaleza,
Marina Valente