Capistrano: O PIG volta com todo gás

  “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente sobre mim. Não me acusam, insultam, não me combatem, caluniam e, não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes…”.

globo
Esse é o início da Carta-testamento deixada pelo presidente Getúlio Vargas no trágico amanhecer do dia 24 de agosto de 1954, um documento contundente contra as elites reacionárias que, historicamente, tentam impedir os avanços sociais e as reformas de base, fatores basilares para o desenvolvimento do nosso país.

Os governos de Juscelino e de Jango foram vítimas da mesma mídia que levou o presidente Vargas ao suicídio, principalmente o governo do presidente João Goulart, herdeiro direto das bandeiras nacionalistas do getulismo. Jango foi deposto em 1º de abril de 1964, por essas mesmas forças, com o apoio dessa mesma mídia.

O mês de março de 1964 foi decisivo na vida política do nosso país, as forças fascistas, os grupos oligárquicos e a parcela reacionária da Igreja Católica, com os seus poderosos meios de comunicação, partiram para o tudo ou nada, incentivaram o golpe com as suas marchas, usando a religião, a propriedade privada e o anticomunismo como bandeiras de luta. Mentiras, calúnias e incentivo ao golpe eram as manchetes dos principais jornais da época.

O famoso discurso de Jango no dia 13 de março na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, diante de mais de 100 mil trabalhadores, é outro importante documento histórico, nele, Jango, mostra contra quem o PIG – Partido da Imprensa Golpista e os seus aliados, as elites do nosso país, articulavam, só não era em defesa da democracia.

Com o golpe de 1964, aí sim, se instalou no Brasil uma verdadeira e violenta ditadura, suprimindo os direitos constitucionais dos cidadãos, prendendo, torturando e assassinando milhares de pessoas Foram 20 anos de arbitrariedades, de subserviência aos interesses internacionais, consolidação do poderio midiático da direita.

Fazendo um estudo comparativo das manchetes de apenas três órgãos da grande mídia, que hoje denominamos de PIG, o Globo, o Estadão e a Tribuna da Imprensa, durante os governos Vargas, Juscelino e Jango, vamos encontrar uma semelhança muito grande com as manchetes desses mesmos meios de comunicação com relação ao governo Lula. Os interesses são os mesmo, os motivos também.

Existe uma campanha orquestrada com o objetivo de desqualificar o governo progressista e popular eleito no Brasil em 2002 e que teve continuidade com a eleição da presidenta Dilma em 2010. Governo esse que, apesar das amarras do nosso sistema legislativo e da falta de apoio da grande mídia, elevou o nosso país a condição de Nação respeitada na comunidade internacional, colocando-a no centro das grandes decisões internacionais, sem contar os avanços sociais que tiraram milhões de pessoas da miséria e da pobreza colocando-os no mercado consumidor, com isso elevando o número de empregos e de salários pagos à classe trabalhadora.

O PIG continua pautando a nossa imprensa, quem está nos salvando é a internet. Mesmo assim, o PIG ainda tem muita influência na sociedade brasileira. O seleto grupo dos detentores dos meios de comunicação sabe utilizar a informação dentro dos seus interesses de forma competente. Eles são aliados incondicionais do grande capital.

A CNN/FOX e outras redes norte-americanas e europeias pautam o PIG e, através desse, os meios de comunicação de todo o país. Saiu na rede Globo, Veja, Folha e no Estadão, se espalha por todas as redações do país, às vezes as matérias são simplesmente copiadas sem nenhum comentário, sem visão crítica da notícia, sem ver o outro lado da informação.

Essa onda vai e volta. Agora, a grande mídia acabou “a lua de mel” com o governo Dilma, tomando o seu rumo de sempre, basta ler os jornais e ver a Globo. Dois casos: os dos ex-ministros Palocci e Alfredo Nascimento são manchetes iguais as muitas dos casos criados no governo Lula. São crises fabricadas que ganham conotação de escândalos, depois vão para o arquivo morto. Atingiu o governo, pronto, encerrado o assunto. Quantos “escândalos” essa mesma mídia levantou nos últimos anos? Perdi a conta! Foram muitas manchetes durante algumas semanas e depois desapareceram?

No dia 24 de agosto do ano em curso, completa 57 anos do suicídio do presidente Vargas, momento oportuno para uma reflexão sobre o papel da nossa mídia. Tema que deve ser encampado por toda sociedade brasileira. A aprovação de uma nova lei democratizando a mídia é imprescindível para o estado democrático de dierito.

 

Antonio Capistrano foi reitor da Uern e é filiado ao PCdoB.