Tristezas e “cabralidades”
O assassinato de Facundo Cabral produziu uma comoção nacional tanto pela brutalidade e irracionalidade do fato quanto pelo estado em que a vítima foi encontrada. Um autor de obra de grande personalidade e sustentada ao longo de décadas – na qual convivem amor, humor, brutalidade e ternura.
Publicado 14/07/2011 16:02

A vocação libertária transformou Facundo Cabral em um companheiro de viagens incansável. Por isso, no Centro Cultural de Torriente Brau – território onde têm estado presentes durante esses anos todas as gerações e tendências da nova poesia cubana –, condenamos a brutalidade e a irracionalidade desse crime de lesa-cultura, de lesa-humanidade e de lesa-imaginação.
No aspecto pessoal, se isso existe, também compartilhei a surpresa, a angústia, a raiva e a comoção que o assassinato desse artista ocasionou. Desfrutei e refleti a partir de suas canções, desde muito cedo. Chegaram, então, gravações passadas de mão em mão, em cópias de cópias que os poetas e trovadores amigos haviam conseguido dessa mesma maneira.
Como no caso de Les Luthiers, conhecemos a importância da beleza e da inteligência de suas obras sem ter visto o rosto de seu criador.
Rigoberta Menchú afirmou que o fascismo matou Facundo Cabral. No país onde se cometeu o crime, investiga-se a situação para esclarecer os fatos. Afirma-se que o crime não tinha intenções de atingir o cantor e compositor.
Em todo caso, a barbaridade do assassinato, a impunidade com que foi tratado a as condições em que o corpo foi encontrado conferem a este crime o significado de metáfora do nosso tempo.
Em um mundo onde a vida tem perdido todo o valor em muitas regiões, o assassinato de Facundo Cabral se apresenta como uma triste metáfora da nossa época. A beleza e a inteligência são arrasadas pela violência e pela barbárie.
Facundo Cabral cantou também sua paixão libertária contra essas formas de barbárie. Ele e suas canções representavam e representam a vida. Por isso, na verdade, Facundo Cabral era e continua sendo do campo e da busca pela justiça.
E por esse caminho seguirá, inclusive depois dos fuzis que o emboscaram durante o assalto. Seguimos, agora, entre tristezas e cabralidades, cantarolando suas canções memoráveis, admirando e compartilhando sua paixão libertária.
Fonte: Cuba Debate