Sem categoria

Panetta: “EUA têm de ficar no Iraque, para combater o Irã”

Os EUA podem empreender ação militar unilateral contra as milícias xiitas armadas pelo Irã, se continuarem a atacar soldados dos EUA – disse Leon Panetta, novo secretário de Defesa dos EUA, dia 10/7, em visita ao Iraque. A ameaça marca uma escalada na longa batalha por influência no Iraque, entre Washington e Teerã, que se arrasta desde a derrubada de Saddam Hussein em 2003.

Por Patrick Cockburn, no Counterpunch

Há muito tempo os EUA acusam o Irã de fornecer armas a grupos de militantes xiitas, os mesmos que, agora, os EUA consideram responsáveis por ataques nos quais já morreram 18 soldados norte-americanos desde o início de junho. Washington também gostaria de manter de 8.500 a 10 mil soldados no Iraque depois do fim do ano, apesar do acordo segundo o qual todos os soldados já deverão ter deixado o país naquela época.

“Estamos muito preocupados com o Irã e as armas que continuam a fornecer a extremistas aqui no Iraque” – disse Panetta aos soldados dos EUA em Bagdá. “Em junho perdemos muitos americanos, nesses ataques. E não podemos simplesmente ir embora e permitir que isso continue”. Os EUA deram por oficialmente encerrados os combates no Iraque em agosto passado. Ontem, Panetta ameaçou fazer “unilateralmente, o que tivermos de fazer”.

O empenho dos EUA em manter presença militar no Iraque – ao contrário do que dispõe um acordo SOFA (Status of Forces Agreement) assinado pelo presidente George W. Bush em suas últimas semanas no poder em 2008 – vem aumentando conforme aumentam as dificuldades para confrontar o Irã depois da Primavera Árabe. Para um importante político iraquiano, “A queda de Mubarak implica que os EUA já não contam com seu principal aliado contra o Irã. Então, os EUA estão obrigados a atuar mais diretamente no Iraque”.

Ainda há 46 mil soldados norte-americanos no Iraque, embora estejam praticamente inativos. A política iraquiana está profundamente dividida em comunidades étnicas e religiosas, algumas sectárias, os partidos políticos e políticos individualmente conhecidos e poderosos. “Digam o que disserem em público, os políticos iraquianos querem que os EUA mantenham soldados no país para protegerem interesses daqueles próprios políticos” – diz ele. Outros iraquianos entendem que haverá limites à oposição que o Irã faz à presença de soldados dos EUA no Iraque. Kamran Karadaghi, comentarista da política iraquiana, diz que acha que “acabarão por chegar a algum acordo, para que soldados dos EUA permaneçam no Iraque. Afinal de contas, os iranianos são objetivos e pragmáticos.”

O primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki também parece desejar que os EUA permaneçam no Iraque, como contrabalanço ao poder de influência do Irã.

Mas há várias tendências na política iraquiana, e alguma disposição contra a permanência de soldados dos EUA no país não impedirá que grupos xiitas controlados por iraquianos ataquem os norte-americanos. Ontem, foram lançados três foguetes Katyusha contra a Área Verde, em Bagdá.

A Arábia Saudita está desempenhando papel importante no Iraque nas últimas semanas, enquanto o conflito entre muçulmanos sunitas e xiitas agrava-se no Oriente Médio. Os sauditas e as monarquias do Golfo vivem sob o temor paranóico de serem atacados pelo Irã. Para eles, os iranianos orquestraram a tomada do poder pela maioria xiita no Iraque, e as manifestações dos xiitas que exigem democracia e o fim da discriminação contra eles no Bahrain.

Em comentário surpreendente, que faz desaparecer qualquer suposta real diferença entre as políticas dos governos Bush e Obama, no que tenham a ver com o Iraque, Panetta disse aos soldados: “Estamos aqui porque os EUA foram atacados dia 11/9”.

Panetta já começou a repor em circulação pela mídia o velho mito, tão explorado pelos neoconservadores norte-americanos, segundo o qual haveria uma aliança entre Saddam Hussein e a al-Qaida antes de 11 de Setembro – apesar de haver muitas provas de que essa aliança jamais existiu.

Fonte: Redecastorphoto