Dias de Amor e Tensão

Por Walter Medeiros*

Os anos 70 tiveram uma característica marcante na história recente do Brasil, por tratar-se de uma década decisiva para a superação do período ditatorial e o estabelecimento da democracia. Naquele tempo tivemos desde os pesados combates da Guerrilha do Araguaia à defesa das idéias de distensão (Detente), até a decretação da Anistia Política, embora ainda com a manutenção de alguns partidos na clandestinidade.

Os movimentos operário e estudantil tiveram um papel de valor incalculável para a conquista da liberdade. Como se sabe, era um tempo em que o Direito de Reunião era cerceado, como era censurada a Imprensa e até Habeas-Corpus tinha limitações autoritárias, tudo sob a alegação da vigência da famigerada Lei de Segurança Nacional.

Em meio àquelas lutas diárias, dos aparelhos clandestinos, dos sindicatos às salas de aula e corredores dos campi, encontrávamos bravos lutadores que hoje não estão mais entre nós e merecem reconhecimento e homenagem pelo que fizeram – cada um a seu modo e em suas funções. São os casos, entre outros, de Sérgio Dieb, Goretti Lucena, Manoel do Vale, Juraneide Silva, Ceres Gomes, Rogério Cadengue, Petrextato Cruz.

Neste 26 de julho de 2011 faz 21 anos que o Rio Grande do Norte foi surpreendido pela triste notícia da morte de Glênio Sá e Alírio Guerra, dirigentes do Partido Comunista do Brasil – PC do B, que estavam em campanha política pelo interior e foram vítimas de um acidente com o fusca em que viajavam à altura da cidade de Jaçanã. A referência mais forte de que me recordo foi do Diário de Natal, que estampou: “Morrem os caminhantes dos sonhos”. Glênio foi guerrilheiro no Araguaia e Alírio foi membro da Aliança Popular – AP. A liberdade era o sonho deles.

Também neste dia o Estado brasileiro realiza, em Xambioá/TO, trabalhos de busca dos corpos de desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia. As atividades são acompanhadas por equipe técnica pericial, familiares dos mortos e desaparecidos da guerrilha e representantes do Ministério Público Federal. O Grupo de Trabalho Araguaia foi criado pela Portaria Interministerial N. 01/2011. É coordenado conjuntamente pelos ministérios da Justiça e Defesa e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). As atividades na região prosseguirão até o dia 4 de agosto. Amanhã (27), a Ministra de Estado Chefe da SDH, Maria do Rosário, estará no local para acompanhar a expedição.

Em vista dessa necessidade de resgate histórico e humano, fazemos aqui esta homenagem, através da lembrança e divulgação de fatos e nomes importantes para compreensão daquela época da nossa história. E a partir de agora vamos divulgar artigos sobre a nossa vivência naquela época com aqueles revolucionários que fizeram a sua parte com coragem e bravura. A participação de todos eles contribuiu para que o Brasil saísse daquele período negro de ditadura e passasse a decidir seu destino com as sonhadas e conquistadas liberdades democráticas.

*Walter Medeiros é Jornalista em Natal/RN