Provocações de Jobim e denúncias na Agricultura põem PMDB no alvo
A presidente Dilma Rousseff está em rota de colisão com o segundo maior partido da base aliada — o PMDB. A intolerância com auxiliar denunciado em reportagens por envolvimento em corrupção ou que se exponha pública e gratuitamente em entrevistas obriga Dilma a pensar no futuro de dois ministros peemedebistas — Wagner Rossi (Agricultura), indicado pelo vice-presidente Michel Temer , e Nelson Jobim (Defesa), herança do ex-presidente Lula.
Publicado 01/08/2011 14:44
Num gesto de vingança explícita, Rossi foi acusado de corrupção por um ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) demitido recentemente por praticar ato considerado irregular. Rossi foi alvejado pelo ex-diretor financeiro da Conab Oscar Jucá Neto.
Irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), Jucá Neto ficou só um mês no cargo. Foi demitido dia 27 de julho, depois de uma reportagem dizer que ele havia pagado uma dívida da Conab de R$ 8 milhões contestada pelo ministério a quem a companhia se subordina, o da Agricultura. E usando dinheiro destinado a outra finalidade. Tudo para favorecer o credor.
Consumada a exoneração, Oscar Jucá deixou-se localizar pelo órgão de imprensa que publicara a história que lhe custara o cargo (a revista Veja) e disparou contra Wagner Rossi, que não teria se esforçado para segurá-lo no cargo. Em nota oficial divulgada no último sábado (30/07), Rossi rebateu as denúncias.
O assunto deverá ser explorado por adversários do governo no Congresso, que volta ao trabalho nesta segunda-feira (1º) depois de duas semanas de recesso. As bancadas de PSDB, DEM e PPS já têm reunião marcada para esta terça-feira (2) para discutir uma estratégia que leve à criação de uma CPI dos Transportes. A denúncia sobre desvios na Agricultura podem ajudar a oposição a achar senadores governistas descontentes que topem criar embaraços para Dilma.
O serrista Jobim
Já Nelson Jobim, num gesto explicitamente gratuito e sem ter um plano para anunciar ou defender, deu uma entrevista a um portal na internet apenas por interesse político. O destaque de seu depoimento foi a revelação de que votou no adversário de Dilma nas eleições presidenciais de 2010, José Serra (PSDB). Nesta segunda-feira (1), o ministro voltará a dar uma entrevista (a um programa de TV), e o assunto tem tudo para ser explorado.
Jobim não hesitou em abrir o voto publicamente. Para um jurista e político experiente como Jobim, não teria sido difícil driblar a pergunta argumentando, por exemplo, que voto é secreto. O desconforto do Planalto e de Dilma foi explicitado pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, neste domingo (31). Ao deixar uma reunião do PT, Carvalho disse a jornalistas que esperavam o fim do encontro que a declaração de Jobim havia sido “desnecessária”.
A declaração de Jobim soma-se a uma outra situação criada recentemente por ele e as quais, juntas, deixam no Planalto a impressão de que o ministro está a cavar a demissão. No mês passado, em sessão do Senado em homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jobim disse que tem de tolerar "idiotas", expressão interpretada pela imprensa como dirigida a Dilma, por causa do temperamento dela.
O ministro explicaria depois que a palavra “idiota” se referia justamente a uma jornalista, mas, como o mundo político também se move por leitura de sinais, é ruim para a imagem presidencial que fique no ar a suspeita de que Jobim deseja sair do governo e desafia Dilma a demiti-lo.
De acordo com um ex-colaborador de Jobim, os episódios envolvendo o ministro são fruto da personalidade dele, um gaúcho que não se preocupa em dourar a pílula. O ministro não estaria tentando forçar uma exoneração porque considera ainda ter uma missão especial a cumprir: ajudar o governo a aprovar, no Congresso, o projeto que cria a Comissão da Verdade para esclarecer tortura e morte na ditadura militar.
Da Redação, com informações da Carta Maior