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No Vietnã, Socorro Gomes repudia o uso de armas químicas

O Vietnã realiza desde o último domingo (7) a 2ª Conferência Internacional das Vítimas do Agente Laranja, para debater as consequências do uso do desfolhante químico pelas tropas americanas no país durante a Guerra do Vietnã, a partir de agosto de 1961.

Socorro Gomes

Cerca de 4,8 milhões de vietnamitas foram atingidos pela arma química e os sobreviventes sofrem os efeitos da contaminação até os dias de hoje. A contaminação atinge inclusive a segunda e terceira gerações das pessoas atingidas pelo desfolhante.

A presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e do Conselho Mundial da Paz (CMP), Socorro Gomes representa o Brasil na conferência. Na segunda-feira, Socorro apresentou um discurso em nome do CMP, em Hanoi. A conferência se encerra na quarta-feira (10).

Leia abaixo a íntegra do pronunciamento de Socorro Gomes:

Queridos camaradas e amigos,

É com imensa honra que voltamos a este belo país, onde o seu heróico povo realiza um frutífero trabalho construtivo em busca da prosperidade econômica e do desenvolvimento social.

Mais uma vez, temos a oportunidade de compartilhar com os camaradas vietnamitas e especialistas internacionais opiniões sobre o crucial tema das conseqüências guerra imperialista, particularmente os efeitos do chamado agente laranja, arma criminosa de destruição em massa usada pelos agressores contra o povo vietnamita.

Nesta oportunidade, relembramos também o holocausto de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, onde o Conselho Mundial da Paz renovou sua solidariedade àquelas pessoas que vivem até nossos dias sob a desgraça da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos. Os sinais profundos daquele ataque genocida estão lá até hoje, clamando para nos mostrar de maneira clara o quanto o imperialismo é capaz de usar armas letais, de destruição em massa, para atingir os seus interesses hegemônicos.

O genocídio de Hiroshima e Nagasaki jamais será esquecido pelo ser humano, enquanto o povo japonês sofre e morre ainda hoje por sua causa. Mas os que cometeram os crimes nunca foram punidos por isso. Até hoje, os Estados Unidos jamais assumiram o compromisso de não ser o primeiro país a fazer uso da arma nuclear.

No momento em que nos reunimos no Vietnã, reiteramos nossa condenação a outro grande crime contra a Humanidade, que é o uso, pelo mesmo imperialismo estadunidense, de armas químicas, como fez durante a guerra de agressão ao Vietnã nas décadas de 60 e 70 do século passado, quando praticou genocídio e massacrou o povo vietnamita que estava lutando por sua libertação nacional e por autodeterminação.

As bombas de Napalm geraram monstruoso efeito de destruição e morte, e meio século após serem lançadas sobre as plantações e florestas vietnamitas, a dioxina do agente laranja está ainda presente, afetando milhões de pessoas e demonstrando ao mundo sua força letal. E, mais uma vez, os criminosos não foram punidos.

Estudos científicos já demonstraram que o agente laranja contém grandes quantidades de dioxina, uma substância cancerígena, que causou doenças e incapacidades tanto em soldados quanto em civis. Hoje, dois milhões de vietnamitas e dezenas de milhares de norte-americanos veteranos da guerra do Vietnã sofrem seus efeitos no organismo. Durante a Guerra do Vietnã (1964-1975), Washington e seus aliados despejaram 83 milhões de litros de herbicidas altamente tóxicos sobre centenas de milhares de hectares do Sudeste Asiático, a maioria no Vietnã.

Os aviões norte-americanos arrasaram até 25% das florestas do Vietnã com o agente laranja.

Filhos e netos das vítimas diretas do bombardeio químico estão afetados por mutações genéticas. Além dos danos causados aos seres humanos, o agente laranja devastou o meio ambiente vietnamita. Os mangues desapareceram totalmente. O solo e as colheitas sofreram envenenamento a longo prazo.
O Vietnã tem pleno direito de exigir dos Estados Unidos uma reparação de guerra por esses danos. Associações de vítimas vietnamitas e norte-americanas entraram, em 2004, com um processo na Justiça Federal de Nova York contra 36 empresas que forneceram o produto químico. A petição foi negada, em primeira instância, pelo juiz Jack Weinstein.

Também o Tribunal de Apelações julgou a causa improcedente, alegando que o agente laranja não foi usado como arma de guerra contra a população, mas para proteger as tropas norte-americanas. A Corte Suprema, em março de 2009, indeferiu recurso das vítimas sem proferir comentários.
Estamos convencidos de que se tratou de uma violação maciça dos direitos humanos da população civil, e do uso de uma arma de destruição em massa, o que configura crime de lesa-humanidade e contra o direito internacional.

Camaradas e amigos,

A humanidade e o povo vietnamita aprenderam com aquela guerra. O povo vietnamita despertou o mundo inteiro para a certeza de que o imperialismo pode ser derrotado. Guiados pelo saudoso presidente Ho Chi Minh, este heróico povo, mesmo preferindo o caminho da paz, foi capaz de resistir e lutar por décadas.
Vocês, meus queridos amigos e camaradas, são os sobreviventes de uma agressão suja e, por isso, são exemplos para todos no mundo, da Ásia às Américas, da África à Europa.

Mas, os EUA e seus aliados na Otan não retrocedem de seu propósito de controlar territórios e recursos naturais estratégicos, inclusive a água, em todo o Planeta, e continuam a perpetrar agressões e cometer crimes de lesa-humanidade. A ocupação do Iraque e do Afeganistão e a atual agressão à Líbia e outros países do Norte da África e Oriente Médio demonstram que as potências imperialistas não mudaram seus métodos de ação.

No Oriente Médio, segue a execução da política de genocídio do Estado de Israel contra o martirizado povo Palestino que há mais de seis décadas é vítima das agressões de sucessivos governos sionistas com o apoio incondicional dos EEUU com o objetivo de expulsão dos Palestinos de suas terras através da criminosa ocupação através das armas, e da criação do muro do apartheid.

O Conselho Mundial da Paz expressa sua incondicional solidariedade ao Povo Palestino e conclama todos os defensores da paz , organizações e personalidades progressistas a integrarem-se à campanha pelo Estado da Palestina Já.

Apesar da crise econômica do capitalismo, os gastos militares dos EUA estão crescendo ano após ano, com novas armas, novas bases, onde milhares de mísseis nucleares estão apontados para nós, onde quer que estejamos.

Sob falsos pretextos, especialmente uma suposta campanha contra o terrorismo e o tráfico de drogas, as forças imperialistas espalham seus tentáculos pelo mundo.

Devemos ressaltar, neste momento, nossa preocupação com a crescente presença da Marinha dos EUA na Península Coreana. É uma presença que aumenta a tensão na região, se considerarmos também as existência de mais 130 bases militares norte-americanas no Japão e 70 outras bases na Coréia do Sul, com 28 mil soldados, o que representa uma ameaça à paz e à segurança de toda a região. A mesma preocupação deve ser levantada a respeito do Atlântico Sul, onde os EUA reforçaram grandemente sua presença marítima, assim como o Oceano Índico e o Mediterrâneo.

Em abril de 2011, o Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz se reuniu em Havana, Cuba. Na ocasião, o CMP conclamou todos os amantes da paz a fazer uma frente mundial contra as agressões militares e guerras, e contra a dominação imperialista e as injustiças sociais. O CMP se compromete a despender mais energias e esforços em ações concretas em contra as guerras imperialistas, de modo a mobilizar as massas contra as potências agressoras, suas políticas e estruturas militaristas.

O CMP exige o imediato desmantelamento das armas nucleares existentes. Da mesma forma, nos preocupa o terrível arsenal de armas químicas em poder das forças imperialistas. Uma eventual Terceira Guerra Mundial certamente colocaria um fim à espécie humana.

Pela crescente ameaça que representa a um mundo de progresso social, soberania nacional e justiça, nós exigimos também o desmantelamento da Otan e das bases militares estrangeiras ao redor do mundo.

Por fim, clamamos por um esforço ainda maior dos setores progressistas de todas as sociedades para fortalecer uma cultura de Paz em todo o mundo.

Apreciamos os esforços da República do Vietnã, do seu governo e organizações sociais para construir uma nova sociedade, reforçando sua independência nacional, prosperidade econômica e justiça social. A existência de um Vietnã desenvolvido e com sua soberania reforçada contribui para a paz na região e em todo o mundo.

Saudamos o empenho do Vietnã no fortalecimento da paz mundial, sua política exterior voltada para o reforço da independência e autodeterminação e no fomento da amizade e cooperação com todos os países e povos. O Vietnã destaca-se como exemplo de país que reforça a cooperação internacional, o direito e as organizações multilaterais.

De modo especial, regozijamo-nos com o povo vietnamita pela contribuição que dá ao fortalecimento dos laços de solidariedade com os povos da Ásia, África e América Latina, com o Movimento dos Países Não Alinhados e com as causas da independência nacional, do desenvolvimento e da paz, em contraste com as políticas neocolonialistas, agressivas e militaristas do imperialismo.

O Conselho Mundial da Paz reitera sua decisão de reforçar a solidariedade com o povo vietnamita, através da realização de ações comuns e do desenvolvimento dos mais estreitos laços de amizade e cooperação com o Conselho da Paz do Vietnã e demais organizações sociais vietnamitas, assim como a VAVA – Associação Vietnamita das Vítimas do Agente Laranja.

Viva o povo vietnamita!
Muito obrigada,
Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz.

Fonte: Cebrapaz