PCdoB de Fortaleza debate papel dos Partidos Progressistas

Com o auditório lotado, o Comitê Municipal do PCdoB de Fortaleza realizou no último final de semana o Fórum dos Movimentos Sociais com debate sobre o “Papel dos Partidos Progressistas no Século 21”. O evento contou com as exposições do professor de Ciências Políticas da UECE, Hermano Freire Lima, e do secretário de Comunicação do Comitê Central do PCdoB, José Reinaldo Carvalho.

Antes de iniciar o debate, os presentes dedicaram um minuto de silêncio em homenagem ao comunista Francisco Monteiro, o Chico Passeata, que faleceu no último dia 12. Natan Alves, secretário de Movimentos Sociais do PCdoB de Fortaleza, fez a abertura do encontro afirmando que a iniciativa de realizar o debate sobre o tema também teve o intuito de reforçar a instalação do Fórum dos Movimentos Sociais em Fortaleza. Natan aproveitou o momento para lançar o novo site da Secretaria e convidou os participantes para contribuir com o instrumento de comunicação.

Para o presidente do PCdoB de Fortaleza, Luis Carlos Paes, o debate proposto se insere em um cenário importante que o Partido está vivendo, com ênfase no engajamento de novas lideranças, disputas mais ousadas e a participação em diversos segmentos sociais. “Para isso é preciso garantir o crescimento quantitativo e qualitativo do PCdoB. É necessário continuar enraizando o Partido ao lado do povo, para que seja possível a sequência do projeto ousado que definimos”.

Luis também alertou para o processo de Conferência do PCdoB e afirmou que a meta do Comitê Municipal é realizar centenas de Assembleias de Bases, que se organizam nos doze comitês auxiliares. “O momento é para fortalecer os organismos partidários e colocar o PCdoB em um nível mais elevado, tornando o Partido forte para as batalhas que se aproximam”.

O dirigente comunista afirmou ainda que o debate sobre o papel dos Partidos Progressistas é um tema extremamente atual e torna-se uma discussão fundamental porque “sem partidos revolucionários ou progressistas, o máximo que se pode fazer é diminuir a existência de alguns problemas”, considerou.

Partidos na atualidade

O cientista político e professor da Universidade Estadual do Ceará, Hermano Freire, iniciou sua intervenção exaltando a tradição do PCdoB em realizar fóruns com a militância para debater os diversos temas. Hermano manifestou a preocupação com relação à imagem disseminada pela mídia, que tem como intuito denegrir a política brasileira. Para reforçar seu pensamento, utilizou como exemplo a novela global, Insensato Coração. “Utilizaram a imagem da mulher de forma vulgarizada para representar o parlamento. Então que país é esse que queremos construir, explorando desta forma a imagem feminina e retratando de forma depreciativa a função de quem elabora as leis?” questionou.

Hermano avalia que há uma crise dos partidos na atualidade. Para fundamentar a hipótese, o professor recorreu ao processo histórico e o dividiu em dois momentos. O primeiro foi destacado pela industrialização e a necessidade da regulamentação da relação capital-trabalho. “Foram inúmeras propostas e essa foi a grande questão dos partidos progressistas: a de regulamentar a jornada dos trabalhadores”. O segundo momento foi durante a 2ª Guerra Mundial, com o pensamento da construção de uma política de bem-estar social promovida pelo Estado. “A necessidade era garantir educação, habitação, transporte público, saindo da questão capital-trabalho”.

Para Hermano, com a derrocada do bloco soviético, houve uma tensão nas formas organizativas dos partidos. Como exemplo, a Europa, onde os partidos são sustentados pelos sindicatos, mas com o esgotamento de algumas circunstâncias abriu-se caminho para outros discursos. “Com o Estado interferindo na economia, surgiu o discurso liberal, então toda política de nacionalização ou estatização era considerada socialista. A partir desse contexto, o eixo mundial estava se modificando para além da relação partido-sindicato”.

Segundo o professor, hoje é necessário realizar uma leitura da realidade a partir dos novos fenômenos, dentre eles ecologia, estruturação da família, sexualidade e outros. Hermano defende que existem questões que se confrontam e precisam de uma atenção social, como por exemplo, o aborto. “Essa questão não deve ser tratada como casualidade ou a partir da religião, e não pode ser pensada como se estivéssemos na Idade Média. A decisão de ter um filho deve ser da mulher, a partir da sua avaliação de vida ou até vontade de ser mãe ou não”, defendeu.

Na avaliação do cientista político, depois da onda neoliberal, o mundo está se organizando de forma mercadológica. As relações sociais foram transformadas em comércio, a linguagem econômica é reforçada em todos os ambientes. “As relações afetivas perdem cada vez mais a possibilidade do acaso, de se desenvolver a sexualidade a partir das circunstâncias. É rotineiro encontrar várias pessoas se oferecendo na internet como se fossem mercadoria”, lamentou.

Hermano destacou que os partidos avançados devem continuar a luta pelo poder e, uma vez conquistado, não podem descansar. “Se não nos dispusermos a criar uma nova sociedade, o capitalismo não vai acabar. Portanto, quando se luta contra essa ordem vigente, onde pessoas vendem seus corpos como mercadoria, você contribui para a construção de outros valores. As circunstâncias de agora são outras e por isso é útil debater sobre esses temas e refletir sobre as ideias do Partido para atuar de acordo com essa realidade”, defendeu. Ele encerrou sua palestra opinando que na época atual é necessária a existência do partido comunista.

O papel do Partido Comunista do Brasil 

O dirigente do PCdoB José Reinaldo Carvalho compartilhou da ideia de que não se pode fazer um debate sobre o papel dos Partidos na atualidade nem a partir de dogmas e muito menos desconhecendo as mudanças ocorridas no mundo com o fim do sistema soviético, no século 20. Mas afirmou que o Partido Comunista não se afasta de suas origens e se reivindica como partido marxista-leninista, que defende o legado da Revolução de Outubro, das demais lutas revolucionárias do século 20 e da construição do socialismo onde isto ocorreu, obviamente com espírito autocrítico, visando ao aperfeiçoamento, nunca o liquidacionismo.

José Reinaldo lembrou que desde a queda dos países socialistas na última década do século 20, o PCdoB defende que não deve haver modelo único de socialismo. Isto continua válido nos dias de hoje. O PCdoB é solidário com as experiências atuais de construção do socialismo no mundo, cada qual com suas peculiaridades, mas não adota nenhum modelo de edificação da nova sociedade ou de construção partidária. O PCdoB não segue modelos estrangeiros, esforça-se para pensar com a própria cabeça, enfatizou.

Reinaldo chamou a atenção para o processo político vigente, principalmente na América Latina, e a constatação de que, por diversas razões, o sistema capitalista passa por crises profundas.

O dirigente comunista destacou que o PCdoB, em análise sobre a crise mundial, qualificou-a como uma crise estrutural, sistêmica, profunda e duradoura. “O sistema capitalista encontra na melhor hipótese saídas apenas passageiras, porque a crise tem um componente estrutural que exerce influência para seu agravamento”. O PCdoB, segundo Carvalho, também observou que os intervalos entre as crises estão se tornando mais curtos e cada depressão é mais aguda. “A discussão sobre os partidos políticos de esquerda hoje está objetivamente condicionada à existência das crises e da falta de saídas viáveis nos marcos do capitalismo, que se tornou incapaz de curar as chagas sociais”, completou.

Para José Reinaldo, o desafio é construir alternativas consequentes de esquerda, abrir um caminho de acumulação revolucionária de forças, fazer um exame apurado sobre a crise do sistema burguês. “Este sistema se mostra incapaz de promover o bem-estar social. A lógica do capitalismo na atualidade é o corte dos direitos trabalhistas e as limitações à vida democrática”.

Ainda para José Reinaldo, a classe operária, representada por um partido comunista, de esquerda e revolucionário, não se deve isolar. Tem de fazer alianças políticas, mantendo a independência política, ideológica, programática, de objetivos estratégicos e de ações, para assim conquistar as massas em geral. “Existem momentos em que o Partido Comunista tem de apresentar suas bandeiras próprias para que outras pessoas ingressem em suas fileiras. Portanto, é necessário um Partido Comunista classista, anti-imperialista e independente, e centrado na luta pelo socialismo".

Programa socialista do PCdoB

No 12º Congresso Nacional do PCdoB, os comunistas aprovaram o novo programa socialista em que o Partido defende um conjunto de reformas necessárias para garantir mudanças no país e que servem como etapas intermediárias para aprofundar acumular forças e abrir o caminho para o socialismo.  “Apresentamos o nosso programa aos governos democráticos e estamos dispostos a articular um movimento político e social para, lado a lado com o governo da presidente Dilma, tal como fizemos com o ex-presidente Lula, avançar na realização de reformas democráticas. Isto é indispensável, pois o obstáculo à realização de tais reformas são as classes dominantes retrógradas cujo poder permanece intacto”.

O dirigente afirmou que a base conceitual dessa plataforma de reformas estruturais é o entendimento que o Partido tem quanto aos três eixos que constituem o caminho da revolução brasileira – o nacional, o democrático e o social – com rumo socialista.

José Reinaldo alertou que, diante dos desafios, é preciso construir uma frente política e social, que tenha por núcleo a esquerda, com base numa plataforma avançada, sem hegemonias decretadas.

O dirigente comunista destacou ainda o nível de preparação em que se encontra o PCdoB na atualidade. Com ênfase na luta pela aplicabilidade do Programa Socialista do Partido e buscando elevar o nível de organicidade desde a base até as direções. “Temos programa para enfrentar esses desafios e contamos com uma militância que se reconhece como lutadora e ligada ao povo para avançar na luta por mudanças democráticas estruturais, defender a soberania nacional, aprofundar a democracia e conquistar o progresso social, tudo isto voltado para o grande objetivo estratégico – o socialismo. O PCdoB tem tudo para afirmar-se e crescer como força revolucionária no país”, finalizou.

De Fortaleza,
Ivina Carla (estagiária do Portal Vermelho)