Orozimbo Souza Júnior: Aécio Neves é um senador no diminutivo
Antes, pois, um esclarecimento: este texto não segue a lógica da briga de emissoras de TV por pontos na audiência. O dono do canal que está em segundo lugar nos levantamentos disse que a tática para destronar o primeiro colocado é mesma de um boxeador a nocautear seu oponente, ou seja, “bater no fígado até ele cair” (sic).
Por Orozimbo Souza Júnior*
Publicado 02/09/2011 09:15
A insistência em criticar o tucano mineiro não tem a pretensão de minar as forças dele até 2014, nada mais é do que uma decepção (sem ironias) com o desempenho do mandato de Aécio no Senado.
Sendo um dos líderes da oposição, esperava-se que o ora parlamentar tivesse atuação destacada naquilo que ele chamou de “oposição republicana” ao definir, no começo do ano, qual seria sua postura frente ao governo Dilma. Os oito anos dele no comando de Minas Gerais renderam muitos elogios, especialmente por parte de quem não vive no estado. Com mais uma derrota de outra liderança peessedebista, José Serra, o caminho estaria aberto para o neto de Tancredo na disputa presidencial.
Mas a cada dia parece se confirmar que senador não se sustenta politicamente. Durante os dois mandatos no governo mineiro, o silêncio da mídia de Minas sobre suas ações fizeram mal. Sem críticos, Aécio nadou em um mar de rosas, com altos índices de aprovação e sem destaque aos erros – que foram muitos – de sua gestão. A Assembleia Legislativa, onde sempre teve ampla maioria, também colaborou para que todos pensassem que o tucano tivesse transformado Minas em uma nova Suíça, que começava na Linha Verde e terminava na Estrada Real, lá pelas bandas de São João Del Rei. Quando os aspectos de Haiti se afloravam no estado, mídia e aliados corriam para dizer que a culpa era do governo federal (eles fazem isso até hoje). Que dizer, no que cabia ao Palácio da Liberdade, íamos bem, obrigado.
No Senado, Aécio justifica a forma como é chamado pelos amigos – Aecinho. Sempre achei que, a rigor, esse apelido não combinava com um senhor de quase 50 anos e que nem é tão baixinho. Mas o “inho” agora faz sentido, sinto-me até no direito de chamá-lo pela forma reduzida. Pouco ou nada se vê sobre o que ele anda fazendo em Brasília. A liderança oficial do PSDB no Senado é Álvaro Dias, do Paraná. Extraoficialmente, a legenda é comandada por José Serra, que continua tendo espaço na imprensa com suas proposições ultrapassadas e, a cada dia, mais raivosas. Por onde anda o Aécio?
Soube que ele deu recente entrevista à respeitada revista Carta Capital. O conteúdo (por que não dizer a falta dele?) foi sofrível, com menção à “confusão entre público e privado no governo Dilma”; “maioria heterogênea na base de apoio”; “necessidade de corte de gastos”. Como se em Minas Gerais isso não ocorresse, né? Mas na cabeça de Aécio e de sua tropinha de choque, ele reinventou a roda com tais declarações. Já sob um olhar com um mínimo de crítica, mais uma vez está justificado o apelido no diminutivo.
A bem da verdade, Aécio Neves só apareceu de forma destacada, desde o começo do ano, quando perdeu a carteira de motorista na blitz da Lei Seca no Rio. Outro destaque foi o chamado “passa, moleque!” que levou do senador Magno Malta (PR-ES). Durante uma discussão no Senado, o tucano cobrou do capixaba sua assinatura para criar uma CPI da corrupção. Em resposta, Malta relembrou que Aecinho, então deputado federal, votou contra todos os pedidos de CPI no governo FHC e agora estava dando uma de bonitão, querendo investigar.
Os mais de sete meses de mandato no Senado foram pouco produtivos, com propostas sem conteúdo e, segundo especialistas, quando as faz Aécio demonstra desconhecer as regras daquela casa legislativa. Sem a presença de Itamar Franco, com quem pegava carona em debates, o tucano vai confirmando o que alguns previram no começo de 2011: “Aécio Neves não sobreviverá por seis meses no plano nacional”.
A propósito disso, tomo licença para plagiar Paulo Henrique Amorim em seu impagável blog Conversa Afiada. Ele diz que se não fosse a imprensa golpista, os tucanos de São Paulo não passariam de Resende. Digo que não fosse pelo silêncio da mídia mineira, Aecinho não sairia de Cláudio.
* Orozimbo Souza Júnior é jornalista mineiro, pós-graduado em jornalismo político