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Filme italiano fala sobre imigração no Festival de Veneza

A imigração na Itália é um tema importante no festival de cinema de Veneza deste ano, com vários filmes domésticos assumindo uma visão crítica sobre como as autoridades do país e o povo italiano estão lidando com uma onda crescente de recém-chegados.

A questão não poderia ser mais atual em um ano em que dezenas de milhares de imigrantes ilegais, fugindo dos distúrbios políticos no norte da África e da guerra civil na Líbia, chegaram na Itália e em que outras centenas se afogaram no mar.

"Terraferma" (ou Terra Firme), do diretor Emanuele Crialese, explora como as vidas de um pescador e sua família em uma ilha remota na costa da Sicília é transformada quando ele resgata uma etíope grávida do mar e a esconde em sua casa.

O filme, que está na principal competição do festival, fala de uma história ficcional e não identifica a ilha, mas seu elenco inclui uma ex-imigrante que sobreviveu à perigosa jornada no mar e a história poderia facilmente se passar em Lampedusa – um pedaço de terra italiano que vem suportando o peso dos refugiados da Tunísia e Líbia.

O número de africanos que arriscam suas vidas para cruzar o mar Mediterrâneo em barcos frágeis frequentemente sobrepuja a população de Lampedusa, que é de cerca de 5.000 pessoas, transformando a ilha em um campo de refugiados a céu aberto, onde os imigrantes são deixados por conta própria e os moradores locais se sentem abandonados pelo Estado.

Em "Terraferma", o pescador Ernesto conhece apenas a lei do mar – ele sente uma obrigação moral em ajudar as pessoas em águas turbulentas, não importa o que dizem as autoridades.

Mas alguns parentes não estão tão convencidos. O fluxo de imigrantes ilegais está arruinando a reputação da ilha como paraíso turístico, e a guarda-costeira pune os moradores que não relatam os imigrantes para a polícia tomando seus barcos.

Crialese decidiu fazer o filme em 2009 depois de ler a história de uma africana que foi um dos cinco sobreviventes em um barco lotado que passou 21 dias à deriva no mar sem ajuda antes de chegar a Lampedusa.

"Fiquei hipnotizado pelo rosto dela, por sua expressão. Ela tinha acabado de passar pelo inferno, três semanas em alto mar, com pessoas que os viam, se aproximavam e jogavam água e então os abandonavam novamente. E ela parecia ter chegado ao paraíso", disse.

Crialese ofereceu à mulher, identificada apenas como Timnit T., a parte da etíope grávida em "Terraferma", um filme que é uma denúncia clara à repressão da imigração ilegal do governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi e a sua falta de preparo em frente de emergência humanitária.

"Para mim, a resposta do Estado é totalmente inadequada", disse Crialese depois que o filme foi bem recebido em uma exibição para a imprensa no domingo.

"Deixar as pessoas morrerem no mar é um sinal de uma grande falta de civilização, para um país que se diz civilizado", disse.

Uma mensagem similar, embora em um estilo diferente, também permeia "Cose dell'altro mondo" (coisas do outro mundo), uma comédia de Francesco Patierno que imagina o que aconteceria à Itália se seus quatro milhões de trabalhadores imigrantes desaparecessem de repente.

A resposta do filme: o país iria parar, com fábricas fechando por falta de pessoal, os idosos abandonados em cadeiras de rodas e sem ninguém para cuidar deles, hospitais sem enfermeiras e o lixo se acumulando nas ruas.

Fonte: Reuters