Líderes sindicais vão a Brasilia debater a desindustrialização

Líderes sindicais de diversas regiões do Brasil desembarcaram em Brasília nesta segunda-feira com o propósito de aprofundar o debate sobre os impactos na vida do trabalhador com a atual conjuntura do mercado global, especialmente no Brasil. Os trabalhadores querem ser protagonistas e buscar subsídios técnicos para compreender os avanços e embaraços do Plano Brasil Maior, lançado pela presidente Dilma Rousseff (PT) no início de agosto.

seminário bsb - Roberto carlos Dias

“Só seremos um país desenvolvido quando a política brasileira fortalecer o mercado interno, reduzir os juros, valorizar o salário mínimo, aumentar o financiamento do BNDES e diminuirmos as desigualdades sociais”.

Com esta frase, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Márcio Pochmann, abriu o Seminário “A Valorização do Trabalho na nova Política Industrial Brasileira”, promovido pela Federação de Metalúrgicos e metalúrgicas do Brasil (Fitmetal) na Câmara dos Deputados, em Brasília. A atividade contou ainda com o apoio da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e Frente Parlamentar em defesa do Desenvolvimento Econômico e de Valorização do Trabalho, presidida pelo deputado federal Assis Melo (PCdoB-RS).

Pochmann reforçou que a maioria política trabalha com dois projetos contraditórios, um seria o Brasil da Fama, que defende as commodities, montadoras e altas taxas dos juros e, um Brasil do Vacuo, classificado por ele como Valor Agregado de Conhecimento, que, no seu entendimento, defende o valor agregado e o conhecimento tecnológico na cadeia produtiva.

O presidente do IPEA apontou ainda que outra estratégia de desenvolvimento deve ser a defesa nacional da indústria e o investimento desta com a inovação da ciência e tecnologia voltadas para o trabalhador.

“Precisamos nacionalizar o nosso parque produtivo e até comprar as empresas estrangeiras estratégicas”, finalizou.

Ex-líderes sindicais e atualmente um dos intelectuais mais respeitados na área econômica, o professor da Universidade Federal da Bahia, Renildo de Souza, fez um passeio pela história, desde a década de 30, para mostrar as fases da industrialização vividas pelo Brasil. O país, na sua avaliação, tem vários problemas, mas a maior está na falta de financiamento do crédito interno.

“Nosso sistema bancário é concentrado no lucro em curto prazo e não no investimento financeiro do crédito na produção”, avaliou Renildo.

O professor alertou sobre o absurdo que existe no Brasil, quando apenas só 5% dos técnicos em pesquisas tecnológicas estão no Nordeste e 90% concentradas no Sudeste e Sul do país.

“O país precisa ter competitividade tecnológica, investir na formação do trabalhador, pois enquanto exportamos bens primários para a China, o Japão exporta aos chineses, máquinas sofisticadas com alta tecnologia”.

O deputado Assis Melo, que preside o Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região e é membro da executiva nacional da CTB, fez duas intervenções no seminário. Em ambas as manifestações apresentou um cenário preocupante para os trabalhadores com as sucessivas derrotas sofridas no Congresso Nacional, especialmente na Comissão do Trabalho, Administração e Serviços Públicos (CTAPS), da qual é membro titular. Assis foi enfático ao reafirmar que o desenvolvimento do país passa pela industrialização e valorização do trabalho.

“Qual a ação, a tática, do movimento sindical? Hoje, na minha opinião, nós estamos muito dependentes do Palácio (do Planalto). Não passa nada que seja a favor dos trabalhadores na Comissão do Trabalho. Para terem uma ideia, não aprovaram a licença de três para cinco dias quando morre um ente querido próximo da família”, destacou Assis.

O deputado listou ainda outras matérias importantes para o mundo do trabalho que têm recebido parecer contrário e outros projetos prontos, à espera de votação, como a redução da jornada do trabalho, de 44 horas para 40 horas semanais, que está conclusa para ir a plenário há 16 anos.

“A redução da jornada não será aprovada sem mobilizações e paralisações no país. No meu entendimento, derrotamos o projeto neoliberal no voto, mas as ideias neoliberais continuam”, ponderou.

Assis ainda destacou projetos de sua autoria que dependem de articulação e mobilização dos trabalhadores como a proibição de câmeras de vídeos para vigiar os trabalhadores e a revisão o vale-transporte, para que passe a ser assumido pelas empresas, porque quando entrou em vigor da forma como está atualmente a inflação era de 30% por mês.

“Vamos elaborar um documento especial sobre as discussões e deliberações deste seminário como contribuição a este novo processo e distribuí-lo aos sindicatos participantes e filiados”, esclareceu o presidente da Fitmetal, Marcelino Rocha, que também planeja estender esse formato de seminário para outras regiões do país.

O evento contou ainda com palestras de representantes do Dieese, do Diap, da CGTB, da CTB e do Ministério do Trabalho, além de representantes da indústria.

Para o Vermelho,
Roberto Carlos Dias