Capistrano: Apenas uma reflexão

A autocrítica e o centralismo democrático são princípios basilares de um Partido Comunista e dos seus militantes.

A autocrítica é a capacidade de reconhecer um erro, de ajustar posição e seguir enfrente em defesa das suas bandeiras de luta.

O centralismo democrático possibilita a coesão na aplicação das decisões partidária em todas as suas estâncias. Decisões essas resultado de um amplo debate através da participação do maior dos militantes. Já era assim na clandestinidade, imagine na legalidade. No PCdoB só não participar das nossas plenárias quem não quer, todos os militantes são convidados, insistentemente convidados, a levar sua opinião, a expressar as suas propostas, a debater as questões de interesse coletivo.

Acho que para ser filiado ao Partido Comunista o pretendente tem que no mínimo ser comunista, claro que não precisar ser um teórico do marxismo, mas, um adepto do ideário socialista.

Iniciei a minha militância no PC em 1961, portanto, vivi o partido antes e depois do golpe de 64, vivenciei os anos de chumbo e a Nova República, isso me deu condição de avaliar as nossas estratégias de luta, os nossos erros e acertos. O partido e seus militantes nunca tiveram vida fácil. Acompanhei um dos momentos mais duros na vida do partido e dos seus militantes (1964/1984). Durante esse tempo muitos foram presos, torturados e assassinados, mas, o sonho de um mundo socialista continuou vivo. Um exemplo dessa garra é o camarada Mery Medeiros, parecendo um jovem militante da Juventude Socialista, presente em todos os eventos, sempre dando a sua contribuição para o fortalecimento do partido e das esquerdas no nosso estado.

Durante a minha militância como comunista fiz diversas autocríticas, às vezes por erro individual e às vezes por um erro coletivo, mas, sempre buscando concretizar, dentro dos princípios marxista/leninista, o ideário socialista.

Sinto, hoje, a necessidade de uma reflexão sobre nossa participação no processo eleitoral. Processo esse que tem ocorrido dentro de um contexto político/eleitoral liderado pelas oligarquias. Processo viciado por uma prática política que não se coaduna com o nosso perfil partidário, muitas vezes obrigando a atitudes não condizentes com os nossos princípios ideológicos, atitudes que nos desacredita perante a opinião pública.

O nosso histórico de alianças eleitorais tem sido desgastante, fazer alianças com as oligarquias tem maculado, junto ao eleitorado, a nossa credibilidade, muitas vezes, nos igualando a eles. É a velha história, todo político calça 40. Embora não seja verdade essa afirmativa, é essa a imagem que a elite divulga através dos seus meios de comunicação com o intuito de nos desqualificar. Aqui no estado a nossa situação é muito difícil, já fizemos aliança com “deus e o diabo”, avançamos muito pouco.

O quadro eleitoral que se próxima, 2012 e 2014, é desanimador, as forças conservadoras já estão loteando entre si os cargos, sem nenhuma novidade, são os mesmos, as mesmas famílias, os de sempre. As oligarquias tupiniquins têm uma enorme capacidade, dentro desse processo eleitoral feito por eles de, nos transformar em mero penduricalho, servimos apenas aos seus interesses, depois do pleito somos descartados.

Acho que devemos participar do processo eleitoral, mas, dentro de objetivos claros, sem purismo, sem alianças esdrúxulas de difícil explicação, sem servir a interesses alheios aos nossos propósitos, vetando os oportunistas, aqueles que se filiam ao nosso partido apenas com objetivos eleitoreiros.

Portanto, temos de repensar a nossa postura eleitoral. Não podemos ter uma política apenas voltada para as eleições, sabendo que as nossas chances são ínfimas dentro de um jogo eleitoral de cartas marcadas. Temos que pensar em uma nova estratégia de luta. A disputa eleitoral, dentro da realidade do nosso país, é desgastante. O partido acaba entrando no mesmo esquema dos partidos conservadores, e o pior, não temos armas nem munição para enfrentá-los, eles dominam a mídia e tem o poder econômico, fazem o jogo suja e sem ética da política. Basta ver as dificuldades que George Câmara enfrenta para se eleger, mesmo sendo um excelente parlamentar.

Não conheço nenhum outro partido com maior democracia interna do que o nosso, mesmo na clandestinidade, durante os anos de chumbo quando os nossos militantes eram perseguidos, presos e muitos assassinados, o centralismo democrático existia. Muitas vezes somos criticados pelo excesso de reuniões que realizamos, às vezes exageradamente. O próprio Lênin criticava essa postura, ao falar sobre a poesia de Maiakovski ele disse: “li ontem uma poesia de Maiakovski. Não sou admirador do seu talento poético, embora não seja competente nesse assunto. Mas, há muito tempo não experimentava um prazer tão grande do ponto de vista político. Nesse poema ele fala das reuniões e zomba dos comunistas que se reúnem demais. Não posso julgar o aspecto poético, mas no que se refere à política, está perfeitamente correto”.

 

Antonio Capistrano é filiado ao PCdoB