A primeira década do PCdoB no Rio Grande do Norte

O Partido, no estado, tem seguido um curso complexo e contraditório. Sua existência legal, no RN, há uma década, reflete dificuldades nas deversas instâncias. Ressalta-se da saída que, sem fugir à assertiva da responsabilidade maior estar situada no núcleo dirigente, ocorre uma inevitável relação dialética entre a direção e as bases.

Por Nildo Cabral*

Tal relação, sem tergiversações, manifesta o nível geral do coletivo partidário, com a diferenciação positiva, ou negativa, imposta pelo seu conteúdo.

A direção que conduziu, praticamente, a primeira fase do partido legal, no RN, vítima, em 1990, de fatos trágicos, cujos danos perduram ainda, cumpriu a tarefa de inseri-lo na sociedade potiguar, nos movimentos sociais, no âmbito das disputas institucionais e eleitorais, conferindo-lhe respeitabilidade entre os trabalhadores, em especial na frente sindical, no interior das lutas democráticas e no conjunto das forças de esquerda.

A figura histórica de Glênio Sá e a liderança ascendente de Alírio Guerra foram presença marcante nos embates travados, nos anos oitenta, e, em consequência, até o acidente que os vitimou, em 26 de julho de 1990, no transcurso de uma campanha eleitoral, concentraram o trabalho de ampliação, legalização e direção do Partido, no RN.

Pode-se afirmar que, até 1990, interna e externamente, os dois camaradas simbolizaram o PCdoB norte-rio-grandense. Em decorrência, o exemplo de militância e dedicação que nos legaram são patrimônios inestimáveis do Partido. Não cabe, não cabe, nos marcos deste documento, até porque tal já foi realizado, promover nenhum balanço critico do período referido. Glênio e Alírio integram com honra e glória a história mais recente do nosso Partido.

Partindo do que foi construído, após as eleições de 1990, o PCdoB/RN buscou os instrumentos de recomposição do centro dirigente, num quadro local, nacional e internacional caracterizado pelas dificuldades colocadas á atividade organizada dos comunistas forçados á defensiva frente á ofensiva neoliberal e á derrocada do leste europeu.

No Brasil e no mundo foram os comunistas, dentre todos os seguimentos da esquerda, que tiveram que se posicionar e responder às interrogações suscitadas pelo desmantelamento do sistema socialista e agressividade do imperialismo. Como já foi visto, nossa resposta está contida nas Resoluções do 8º Congresso.

Não podemos subestimar a diversidade do contexto. Muito menos, a inexperiência dos novos quadros alcançados às funções dirigentes. As condições objetivas e subjetivas estavam nitidamente adversas. Nesse, mesmo com o impulso representado pela convocação do 8º Congresso, com um forte apelo revolucionário contido a partir das teses, o componente pequeno-burguês desagregador, penetra no organismo partidário, dificulta o trabalho político geral e obriga a direção a ficar voltada para questões intestinais. Tais fatores, mesmo depois do 8º Congresso, vão está presentes nos elementos de luta interna desde da Conferencia Extraordinária de 1991.

Merece destaque, contudo que houve assimilação da política eleitoral nacional e a direção, com todas as barreiras que lhe foram postas, conseguiu articular a Frente Popular e apesar das derrotas nas eleições à Câmara Municipal, somou forças diferentes e suficientes para impor uma importante aos grupos oligárquicos, nas eleições majoritárias municipais de Natal, elegendo, inclusive, entre seus quadros, a vice-prefeita.

A participação na administração municipal de Natal, no entanto, aprofundou a distancia entre a direção e as bases. Corporativismo, vacilações dos aliados, pressões de grupos e partidos de fraseologia esquerdista, além da espontaneidade do trabalho na frente institucional, não fizeram o Partido, considerado em conjunto, trabalhar e avançar na direção política que permitiu derrotar conjuntamente as oligarquias. Pode-se constatar que, nesse terreno, a direção foi envolvida pelos fatos, perdeu a capacidade de dirigir, oscilando, interna e externamente, entre as conciliações e a excessiva centralização, afastando-se das bases e do movimento de massa, com exceções.

Os quase dezoito meses de participação na administração municipal traduzem um traço prioritário: o defensivismo político. A forma com se deu a analise desse fato está, em linhas gerais, explicitadas na avalição das eleições de 1994.

Paralelamente, nas demais frentes da ação partidária, entre 1991/1994, podemos assinalar recuos e vitórias. Na área Sindical, crescemos em quantidade e qualidade a organização do Partido na Petrobras, elevamos nossa influencia política junto aos petroleiros, preservamos (com entraves que reclamam urgência) o Sinditêxtil e abrimos uma nova perspectiva de trabalhos nos Correios.

No sindicalismo dos servidores públicos (união, estado e município), temos presença pontual e artesanal em algumas categorias (UFRN, SINTE, SINDISAÚDE, SINSENAT), fomos golpeados no SINDILIMP e perdemos posições nos sindicalismos de estatais (TELERN, CAERN, REFFSA, SINDIPREV).

Nossa participação na CUT/RN, de resto pouco representativa e “aparelhada”, sofreu revés. Apesar do crescimento constatado em 1991 quando elegemos o vice-presidente da central, no último congresso estadual da central nossa participação foi espontaneísta, claramente débil.

O trabalho junto à CUT/RN reflete a realidade partidária nesta frente, ou seja, mesmo registrando avanços, inclusive de qualidade, em algumas categorias não funcionamos como uma corrente política organizada. Estamos em relação às lutas sindicais, com exceções a categoria petroleira, no mais completo alheamento, a reboque dos fatos, quando muito, seguindo os acontecimentos. A prática sindical de natureza corporativista é um desserviço generalizado.

O trabalho nas frentes comunitárias e de mulheres permaneceu estagnado. A frente juvenil, com enorme potencial, acumula tarefas e eventos carentes de linha políticas; mesmo vitórias em colégios importantes não são capitalizadas pelo Partido. A UJS é um enigma político e o paralelismo em matéria de organização.

Fonte: Documento – Tese: Conferência Extraordinária de Organização (Partido Comunista do Brasil – Rio Grande do Norte): Natal, 24 de novembro de 1994.

 
*Nildo Cabral é secretário de Finanças do PCdoB – Mossoró