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Bancários: Greve atinge quase 8 mil agências no país

Sem proposta dos patrões, a greve nacional dos bancários completa, neste sábado (1º), 5 dias de paralisação. O número de agências fechadas conforme dados colhidos na sexta-feira (30), pela Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), chegou perto de oito mil (a categoria parou 7.865 agências e centros administrativos de bancos públicos e privados em 25 estados e no Distrito Federal), configurando o movimento como uma das maiores greves da história da categoria.

Greve dos bancários - Manoel Façanha

Com as negociações paralisadas desde última sexta-feira (23), os bancários reivindicam não apenas reajuste salarial com ganho real de 5% e melhor distribuição na Participação dos Lucros e Resultados (PLR), mas também melhores condições de trabalho e, acima de tudo, uma política eficaz para frear as metas abusivas impostas aos trabalhadores dentro das agências. Outras duas importantes reivindicações dizem respeito à segurança dentro e fora das agências e à saúde dos bancários.

Na última negociação, ocorrida antes do início da greve, a Fenaban ofereceu 8% de reajuste (0,56% de ganho real). A oferta foi rechaçada ainda na mesa de negociação e rejeitada nas assembléias dos trabalhadores na segunda-feira (26).

No primeiro dia de greve, pouco mais de 4 mil agências amanheceram fechadas, mas com a mobilização e piquetes o número de estabelecimentos parados dobrou. Os clientes tiveram que buscar canais alternativos para efetuar pagamentos e outros serviços da rede bancária.

A presidente do Sindicato dos Bancários do Acre, Elmira Farias, faz uma avaliação positiva da greve, apesar de reconhecer as dificuldades para construir o movimento em algumas agências, principalmente naquelas onde o número de bancários comissionados ultrapassa 50% (caso do Banco do Brasil), isso sem falar na pressão de alguns bancos privados, como é o caso do Bradesco, onde uma participação em uma greve poderá custar o emprego do bancário, avalia a sindicalista.


Lucros bilionários

Apesar do aumento dos lucros, os bancos não querem elevar a distribuição da PLR aos bancários, desrespeitando quem produz esses ganhos bilionários, denuncia o presidente da Contraf e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, Carlos Cordeiro.

De acordo com Cordeiro, os bancos aumentaram expressivamente seu lucro anual. A maior alta foi no Bradesco. O conselho de administração, que havia faturado R$ 18,5 milhões em 2009, recebeu R$ 32 milhões no ano passado – um acréscimo de 72,9%.

O presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, recebeu do banco em 2010, em salários e bônus, a impressionante quantia de R$ 10,4 milhões, conforme informação da Folha de S.Paulo. Já o bancário do Bradesco que recebe o piso da categoria acumulou cerca R$ 26,4 mil no período, incluídos a PLR, vale refeição e cesta-alimentação. O maior executivo do banco recebeu, assim, 394 vezes mais que os funcionários com os menores salários do banco.

Comparação

O piso dos bancários brasileiros é mais baixo que o praticado pelos bancos da Argentina e Uruguai, segundo pesquisa feita pela Subseção do Dieese da Contraf. O salário de ingresso nos bancos no Brasil é equivalente a US$ 735, mais baixo o dos uruguaios (US$ 1.039) e quase metade do recebido pelos argentinos (US$ 1.432).

A comparação do valor por hora trabalhada também é bastante desfavorável para os bancários do país. O piso dos brasileiros é equivalente a US$ 6,1 por hora de trabalho, enquanto os argentinos ganham US$ 9,8/hora, seguidos pelos uruguaios, que recebem US$ 8/hora. Segundo o levantamento, cerca de 140 mil bancários recebem o piso no Brasil, o que significa aproximadamente 30% ou quase um terço da categoria.

A "disposição" Fenaban

A Federação Nacional de Bancos (Fenaban) divulgou em nota que quer dar continuidade às negociações com as representações dos bancários, visando à construção de proposta que leve a um acordo. "A solução não é apresentar propostas sucessivas unilaterais para serem liminarmente rechaçadas, como o foram as duas já apresentadas. Isso criaria mais entraves à negociação e, consequentemente, ao acordo", disse o diretor de Relações do Trabalho da federação patronal, Magnus Apostólico. Ele acrescenta que "uma nova proposta deve resultar de negociações, de conversas entre bancos e bancários, que levem à construção de pontos consensuais".

Por outro lado, o coordenador do Comando Nacional dos Bancários, Carlos Cordeiro, explica que, enquanto a Fenaban não apresentar uma proposta decente, o movimento seguirá crescendo em todo o país. "Mantemos a disposição para o diálogo para construirmos uma convenção coletiva com avanços econômicos e sociais para a categoria. A retomada das negociações depende dos bancos e do governo", declara.

Carlos afirma, ainda, que o silêncio dos bancos e do governo tem indignado os trabalhadores e fortalecido ainda mais greve, que caminha para ser uma das maiores dos últimos anos.

Fonte: O Rio Branco