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O Rock in Rio não é mais o mesmo?

Gente para todos os lados. Jovens, adultos, crianças e até bebês. Roqueiros ou não. A diversidade do público foi um dos pontos fortes do Rock In Rio 2011. Famílias inteiras aceitaram o desafio de enfrentar o trânsito e sol forte para ouvir os rifes das guitarras em um grande festival de música. Para quem não viu, a Rede Globo exibe os melhores momentos no final da noite deste domingo (9).

Por Deborah Moreira

Muitos com a conveniência de um confortável ônibus leito, fretado, com direito a ar condicionado. Outros não. Foram mesmo nos coletivos da cidade. Correria, aperto e muito calor humano. Mas não faltou animação a essa gente. Afinal, estavam indo curtir seus ídolos. – Hoje é dia de rock, bebê, declarou Cristiane Torlone a uma TV a cabo, diretamente de algum camarote lotado de gente famosa. Provavelmente, a atriz brasileira não enfrentou três horas de congestionamento nas avenidas da capital fluminense. No céu, os helicópteros faziam uma dança bem diferente.

Para entrar nada de empurra-empurra, gente pisoteada, falta de educação ou cara feia. Houve quem perdeu o ingresso, mas logo encontrou. Sim, fui eu. Senti o coração saindo pela boca ao abrir o envelope e constatar que o danado não estava lá dentro. Instantes de pânico, vertigem, aflição… Dou meia volta e sou abençoada pelos deuses do rock: estava lá o bilhete reluzente estendido no chão. Sem novo vacilo, pego-o e retorno com o coração ainda palpitando da angústia de ter sentido a possibilidade de não viver os momentos que agora conto.

O impacto de entrar e ganhar os espaços na cidade do rock é igual para todos. Olhos arregalados, aquele arrepio que vem da espinha, vontade de ver tudo e aproveitar ao máximo cada momento. Quem me dera ao menos uma vez.

Houve muitas filas. Para comer, beber, e ir aos banheiros, que poderiam estar melhores distribuídos no vasto território do rock. O palco mundo, onde as principais atrações se apresentaram, ficava longe de tudo e de todos também. Até por isso o som que dele saia poderia ser mais amplificado. Tá certo que melhorou muito desde a primeira edição, em 1985, quando a importação de equipamentos era cara e complicada. Havia uma tremenda distrorção entre as apresentações das bandas. As internacionais traziam uma parafernália de altíssima qualidade, deixando as nacionais no chinelo.

No palco sunset um problema semelhante. Em um dos encontros mais esperados, entre Milton Nascimento e Esperanza Spalding cantora de jazz e contrabaixista estadunidense, faltou volume e acústica para ajustar jazz com MPB.

Estre os palcos, uma roda gigantesca e toda iluminada enfeitava o ambiente. Ali, todos pareciam viver um enterno final de Grease nos tempos da brilhantina. We Go Together. Só faltou um carro voador.

Por falar em voar, a cantora baiana Claudia Leite soube como marcar presença no evento. Não bastasse entrar no palco dentro de uma bolha grande transparente, ao encerrar sua apresentação se atirou aos céus, pendurada em uma corda, simulando um sobrevoo. Em alguns trechos de sua apresentação, não faltaram vaias e até arrastão – quando em uma de suas músicas as pessoas são obrigadas a ir de um lado para o outro, alguns gatunos aproveitaram o movimento para levar a carteiras de algumas. Nos espaços da mídia dedicados à música, não faltaram críticas. Em seu blog, a baiana se defendeu atacando. “Misturar meu Leite com preconceito e falta do que fazer ia dar em mer… rs Certamente, essas pessoas queriam estar na plateia do Rock in Rio, quiçá naquele palco.”

Sobrou até para a cantora Rihanna, uma das atrações internacionais que deu uma festa em seu camarim e acabou atrasando o show em duas horas. Mais uma vez a competição entre nacionais e internacionais. Até a Rita Lee entrou em cena na defesa da atração que voou no rock in rio – será que é assim que ela quer ser lembrada?

E não faltaram vaias também aos políticos brasileiros e até aos magistrados. “Existe corrupção no mundo inteiro. Mas apenas no Brasil existe a impunidade do jeito que é. Fiquem atentos aos tribuniais superiores de justiça”, disse Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas, usando uma máscara do filme V de vingança (símbolo de manifestações políticas em diversas partes do mundo). Tico se referia às declarações dadas pela corregedora-geral do CNJ, Eliana Calmon, de que há “bandidos de toga na magistratura”. O momento registrado em vídeo, já publicado pela TV Vermelho, foi um dos pontos altos do festival.

Outro momento marcante do festival foi a apresentação de Stevie Wonder, que tocou com o coração e emocionou o público. Preferiu não seguir qualquer regularidade, variando entre as baladinhas românticas e sons mais pops dançantes. Contou com a participação da cantora Janelle Monae, cantando Supertition e Another Star. Antes disso, o público foi convidado a cantar Garota de Ipanema, com a filha de Wonder puxando o coro, e , logo depois, para surpresa de todos, Stevie entoou o refrão de Você Abusou, de Antônio Carlos e Jocafi.

Claro que sempre vai ter gente dizendo que o primeiro Rock in Rio foi melhor. E provavelmente tenha sido. Também contou com participação de Queen, Iron Maiden, George Benson, Scorpions, ACDC, Ozzy Osbourne, B-52, Barão Vermelho, Rita Lee, Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Baby do Brasil (então Baby Consuelo), Gilberto Gil, entre outros.

Mas os tempos são outros e o público tem um perfil completamente diferente. A influência das mídias eletrônicas, por exemplo, faz a plateia parecer uma árvore de Natal com flashs disparados de câmeras fotográficas a todo momento. Mas algo importante vem à tona a cada edição do festival (seja no Brasil ou em outro país, onde o evento já aconteceu, como em Portugal) até os dias de hoje: a vocação do Brasil para os grandes espetáculos.