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Tony Murphy: Ocupação de Wall Street desperta a solidariedade

Em 7 de outubro um grupo pertencente à comunidade haitiana marchou a do Brooklin cruzando a ponte para se unir ao Acampamento Ocupar Wall Street na Praça da Liberdade, no centro do distrito financeiro de Manhattan. Em 5 de outubro estudantes da Universidade de Columbia planejaram abandonar as aulas e unir-se a uma grande marcha sindical no mesmo lugar. Um grupo de negros faz agora parte do acampamento e reúne-se com regularidade.

Ocupar Wall Street (OWS) é hoje oficialmente o centro dos protestos em Nova Iorque e se alastra a outras cidades como um rastilho de pólvora.

A repressão policial e as detenções em massa de manifestantes do movimento Ocupar Wall Street fizeram reviver a afirmação de que “a repressão engendra resistência”. Também aumentou a solidariedade entre Ocupar Wall Street e os sindicatos, os estudantes e outros grupos.

O comitê de aproximação aos sindicatos de OWS, integrado por umas 50 pessoas, tem organizado ações como a interrupção de um leilão no famoso Sotheby’s em apoio aos trabalhadores desta empresa de leilões de arte que se encontravam sob ameaça de lock-out. Em 4 de outubro a Federação Americana de Empregados do Estado, Condados e Municípios (AFSCME na sigla inglesa), Local 372, realizou uma reunião no município com o apoio de OWS para protestar contra a demissão de mais de 700 auxiliares escolares.

A notícia mais relevante é que os maiores sindicatos da cidade – o AFSCME DC 37, os EIU 32BJ, a Federação Unida dos Professores, o sindicato United Auto Workers e a União dos Trabalhadores dos Transportes – juntaram forças numa grande marcha desde o município até à Praça da Liberdade, local da OWS.

Isto aconteceu logo após uma grande manifestação de solidariedade empreendida pelo Sindicato dos Transportes, que apresentou queixa contra o município por este ter obrigado membros do sindicato a conduzir ônibus municipais para transportar para a prisão manifestantes detidos. A queixa foi apresentada depois da detenção de cerca de 800 pessoas que participavam numa grande marcha sobre a ponte do Brooklin no dia 1º de outubro.

Qualificando as prisões como um “flagrante ato de retaliação política”, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes (TWU), John Samuelsen, afirmou: “A Local 100 do TWU apoia os manifestantes em Wall Street e considera como um grande insulto que o presidente da câmara e a polícia de Nova Iorque tenham ordenado aos condutores para transportarem cidadãos que se encontravam no exercício do seu direito constitucional ao protesto – e que em primeiro lugar nunca deveriam sequer ter sido presos (Daily News, 2 de outubro).

Já antes das prisões na ponte do Brooklin se tinha verificado uma violenta repressão policial no decurso de uma marcha em 24 de setembro. Mas que teve como única consequência que mais pessoas se viessem a integrar nas iniciativas de protesto.

A ampla cobertura dada pelos meios de comunicação, mostrando os manifestantes a ser atacados com gás pimenta nos olhos galvanizou a indignação na marcha que em 30 de setembro se dirigiu ao quartel da polícia. Havia cartazes dizendo: “Polícia de Nova Iorque: tirem as mãos do Ocupar Wall Street”, “Prisão para os banqueiros, não para os manifestantes, e “Polícia de Nova Iorque protege banqueiros e multimilionários”.

A cobertura da repressão policial incluiu a utilização da internet pelo movimento para ajudar a identificar Anthony Bolonia não só como o agente que lançou gás pimenta sobre os manifestantes, mas como alguém sobre quem decorrem já processos judiciais por comportamento similar quando dos protestos contra a Convenção Nacional Republicana em 2004.

Não há dúvida de que os ataques da polícia contribuíram para aumentar a adesão a Ocupar Wall Street. Mas o que contribui também para a dinâmica de crescimento do movimento, e sobretudo para a difusão dos movimentos “Ocupar” em outras cidades, é a devastadora crise de desemprego.

Para além das ocupações em grandes cidades como Washington, Boston, São Francisco, Filadélfia, Chicago, Minneapolis y Baltimore, há outras como Memphis, Tennessee, Hilo, Hawaii, e McAllen, Texas.

Segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, mais de 2 milhões de pessoas têm estado desempregadas há 99 semanas ou mais – limite a partir do qual são suspensos os subsídios de desemprego nos estados com maiores taxas de desemprego.

“Neste momento, pela primeira vez na minha vida, estou desempregado, aos 55 anos de idade”, disse Albert Sgambati, um manifestante de OWS, a quem a Administração de Nova Iorque informou que o seu trabalho de professor na fundação para a investigação na Universidade da Cidade (City University) foi primeiro reduzida de tempo completo para tempo parcial e, em Outubro, foi reduzida a nada, quando o financiamento à fundação foi cancelado (2 de outubro).

Ao mesmo tempo, muitos estudantes que participam no movimento estão sobrecarregados com dívidas de dezenas de milhares de dólares e sem qualquer perspectiva de emprego. Outra conclusão do relatório do Congresso é que, embora os trabalhadores sem formação escolar superior sejam os que mais facilmente perdem o emprego, os trabalhadores desempregados com formação superior, e por isso com maior dívida pelos encargos educativos por pagar, têm a mesma probabilidade de se integrar nos 99% da população sacrificada que têm os restantes desempregados com formação secundária.

Em 2 de outubro o manifestante Robert Cammiso empunhava na Praça da Liberdade um cartaz dizendo: “Preso ontem, hoje de novo aqui”. Na outra face do cartaz lia-se: “prendam um de nós e dois novos surgirão”.

Os membros de Ocupar Wall Street têm demonstrado uma grande determinação ao enfrentar o incessante assédio policial. À medida que se agrava a crise do desemprego, este dinâmico movimento continuará a crescer.

Fonte: Resistir.info