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Filme de Silvio Tendler sobre Tancredo Neves chega a BH

Tancredo – A travessia, novo documentário de Silvio Tendler, será exibido esta noite, em Belo Horizonte, para convidados. O longa vem compor a trilogia de presidentes: Os anos JK – Uma trajetória política, de 1980, e Jango, lançado em 1984. Esses dois filmes atraíram 1,8 milhão de espectadores nas salas de cinema e faturaram 10 prêmios em festivais.

Silvio Tendler conta que, desta vez, o processo foi mais fácil. “O Tancredo… foi rápido porque há 35 anos trabalho com a temática dos presidentes da República. O mais difícil de fazer foi o JK, porque não era conhecido e, em pleno AI-5, as pessoas tinham medo de se comprometer cedendo imagem e material. Era perigoso, porque eu seria comunista”, lembra o diretor.

Tendler agradece às novas tecnologias. “Ficou mais fácil, graças à internet e ao computador, que facilita a edição. Levei em média dois anos e meio para concluir os filmes anteriores. Este saiu em um ano, mas, na verdade, é consequência de todo um projeto de vida”, conta.

A ideia do documentário surgiu em 1985, para registrar a transição da ditadura para a democracia. “Tanto que montei uma equipe, a única do Brasil, para filmar em película o que seria a posse de Tancredo. Filmei no Congresso Nacional de manhã e à noite no Itamaraty. Jamais imaginei que Tancredo estaria morto 38 dias depois”, relembra.

Tancredo – A travessia é uma aula de história, com detalhes, testemunhas e pontos de vista de diferentes pessoas envolvidas na eleição do mineiro e em sua trajetória política. Além de entrevistas com Fernando Henrique Cardoso, Carlos Chagas, Miro Teixeira, Paulo Maluf, Fernando Brant, Cristóvam Buarque, Roberto Freire, José Sarney, Fafá de Belém, Fagner, Wagner Tiso e Milton Nascimento, o filme exibe extenso arquivo de fotos e vídeos.

“Isso veio do Brasil inteiro. A Bandeirantes me abriu todos os arquivos, a Globo cedeu imagens, porque todos reconhecem a importância de contar a história do Tancredo. Também estive em Minas Gerais: no Memorial Tancredo Neves, em São João del-Rei, e no Palácio das Mangabeiras, em BH, onde entrevistei Aécio Neves”, conta.

O senador Aécio Neves concedeu apenas uma entrevista a Silvio Tendler, na qual denuncia o que considera negligência médica na morte do avô. Mas a presença dele em várias cenas gerou comentários sobre a eventual intenção do filme de favorecê-lo. Tendler nega.

“Imagine, passar 35 anos de minha vida fazendo isso, ser pitonisa e descobrir que Aécio vai ser candidato. Em qual eleição? Era para o filme ficar pronto no ano passado, quando ele poderia ter se candidatado. Não deu tempo. A equipe concordou em não sacrificar a qualidade pela pressa. Não se trata de uma peça eleitoral, mas de filme biográfico sobre o Tancredo como os que fiz com Jango e JK”, garante.

Caso se tratasse de peça eleitoral, argumenta, teria de esperar até 2013 para lançá-lo. “Além disso, dinheiro de campanha pode ser muito mais bem empregado em mídia de TV, em vez de documentário que vai atingir 70 mil pessoas, plateia que já vem convencida de suas ideias. Meu público é de elite, gente que vê cinema e documentário, que gosta de política. Então, ninguém vai se convencer de nada”, conclui.

Ao voltar-se para Tancredo Neves, Tendler focaliza um político que, embora nunca tenha sido presidente, ocupou sempre um espaço privilegiado nos círculos do poder por mais de 40 anos. Tendler procura assinalar não só a fibra deste homem sutil, mas de têmpera dura, negociador incansável, como enfatizar a vocação democrática em sua linha de conduta.

Produzido pelo jornalista Roberto d’Ávila, Tancredo – A travessia é distribuído pela Downtown Filmes. Em Belo Horizonte, será exibido no Usiminas Belas Artes a partir desta sexta (28).

Com Pernambuco.com