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Filme Bróder será exibido na ocupação da USP

Cerca de 800 estudantes se reuniram ontem (31) em ato em frente à reitoria da USP, contra a presença da Polícia Militar no campus Butantã da universidade. Como consequência direta do ato, a Congregação da FFLCH da USP, por meio da reitoria, acenou positivamente para os manifestantes e concordou em reavaliar pontos do convênio com a PM. Quinta-feira (3), o Núcleo de Consciência Negra da USP exibirá o nacional Bróder, seguido de debate, em frente ao prédio da administração da FFLCH.

A Congregação, instância máxima da Unidade, em reunião extraordinária durante a noite de segunda-feira, criou uma comissão de três professores e dois funcionários para negociar a desocupação do prédio da administração. Para tanto, os estudantes reivindicam a saída da PM da Cidade Universitária, o fim do convênio e a revogação dos processos administrativos contra funcionários e estudantes.

“A Congregação reconhece que os termos do convênio firmado entre a USP e a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo são vagos, imprecisos e não preenchem as expectativas da comunidade uspiana por segurança adequada. Reconhece igualmente que a intervenção da Polícia Militar extrapolou os propósitos originalmente concebidos com o convênio”, diz a nota da Congregação.

Os estudantes questionaram principalmente, na segunda-feira, o papel repressor assumido pela corporação dentro e fora do campus. Munidos de cartazes contra a PM e pela descriminalização das drogas, os alunos questionaram, a partir de sátiras, a postura autoritária da reitoria. Também esteve presente o ex-diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Claudionor Brandão, e também o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Henrique Carneiro, do Departamento de História, que apoiam o movimento.

Durante a mobilização de ontem, destacaram a política de criminalização adotada pelo reitor João Grandino Rodas contra militantes, estudantes e trabalhadores que se posicionam politicamente contrários à sua gestão.

“É preciso pensar quem é o nosso inimigo central para não dividirmos nossa força e hoje nosso inimigo central, responsável pela presença da Polícia, pela forma em que ela tem se manifestado, é o reitor [João Grandino Rodas]”, argumentou Carneiro, sob aplausos e gritos dos presentes.
Depois do ato, os estudantes saíram pelo campus com gritos “Fora PM” e “Educação, polícia não!”. Na Faculdade de Economia e Administração (FEA), a manifestação foi impedida de entrar no prédio.

Repúdio

A Congregação repudiou o uso da força no episódio. “É oportuno lembrar que a intervenção da PM ocorreu em um espaço social sensível à presença de forças coercitivas, face ao histórico, ainda recente na memória coletiva da comunidade acadêmica, de intervenções policiais violentas durante a ditadura militar”, diz o comunicado.

O texto fala também da importância de haver clareza com relação ao alcance da política de segurança nos campi: “Uma moderna política de segurança pública prescinde da criminalização de comportamentos.”

Entre as sugestões dos alunos que podem contribuir para a melhora da segurança no campus, citadas pela Congregação, estão: iluminação; mais ônibus e circulares; guarda universitária constituída por funcionários de carreira, desempenhando preferencialmente funções preventivas e com formação compatível com direitos humanos; criação de um corpo de guardas femininas, capacitadas para o atendimento de vítimas de assédio sexual e estupro.

Pela liberdade de expressão

Segundo o documento Manifesto da ocupação na USP-Butantã, divulgado no blog do movimento, 26 alunos estão sofrendo processos administrativos movidos pela Reitoria. A maior parte esteve envolvida na ocupação de um bloco administrativo do Conjunto Residencial da USP (Crusp), com a finalidade de garantir mais vagas para a permanência estudantil. Outro grupo que sofre processo participou da ocupação da Reitoria em 2007. Cinco diretores do Sintusp também podem ser demitidos por justa causa por terem prestado apoio ao movimento de trabalhadores terceirizados da Universidade.

No manifesto consta ainda que os processos administrativos com base no Decreto 52.906, de 1972, Regime Disciplinar instituído na época da ditadura militar, que vigora no estatuto da USP como “disposição transitória” há algumas décadas.

O juiz José Henrique Rodrigues Torres, presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia, criticou hoje (1º) a postura da reitoria da USP, de se apoiar no policiamento ostensivo como solução para a questão. Para ele, trata-se de um debate mais amplo sobre o enfrentamento das drogas, que deve ocorrer fora do sistema criminal.

“É o momento de refletirmos sobre alternativas. É evidente que a colocação de policiamento militar, de câmeras, de ampliação de vigilância não vai resolver um problema maior. Isso tem que ser resolvido, numa universidade, por um sistema democrático, de debate, discussão, do encontro de soluções pedagógicas, democráticas, com a comunidade”, disse Torres, referindo-se ao conflito ocorrido na quinta passada quando três jovens que, segundo a PM, estavam com porções de maconha, foram detidos dentro do campus. Para evitar que fossem levados na viatura, centenas de estudantes cercaram o carro e entraram em confronto direto com os policiais.

O fato, afirma o juiz, trouxe à tona uma importante reflexão sobre o tema do conflito e também cobra responsabilidade da instituição. “No fundo os estudantes acabam fazendo o papel que caberia a toda universidade. Fazem o papel de criticar o sistema e reivindicar outra solução. Acho que chegou o momento de escutarmos a voz dos estudantes que me parece mais coerente neste sistema, do que toda a estrutura da USP, que não encontrou outra solução.”, afirmou.

José Henrique Torres é um dos tantos defensores da descriminalização das drogas. Para ele, é preciso encontrar caminhos fora do sistema penal. “Ninguém está dizendo que deve se liberar tudo, que a droga faz bem ou mal. Mas enfrentar com polícia, com repressão, isso não tem dado certo. Não sei como as pessoas não percebem uma coisa dessa. Quanto mais se investe em armas, prisão, polícia, em guerra, mais ocorrem mortes, mais se fomenta a corrupção, mais se fomenta a guerra entre traficantes e polícia”, concluiu.

Exibição do filme


Trailer do filme nacional Bróder

Segundo o Núcleo da Consciência Negra da USP, que apoia o movimento de ocupação, o filme Bróder será exibido por volta das 16h30 em frente ao prédio da administração da FFLCH, no campus da USP, na quinta-feira (3). Depois, haverá debate sobre a temática do mesmo: racial, jovens e drogas.

Saiba mais no blog da Ocupação na USP

Da Redação do Vermelho, com Brasil de Fato e Rede Brasil Atual