Luciano: “Renildo está dedicado à gestão de Olinda”

A sucessão em Olinda e a relação entre o ex-prefeito do Recife, João Paulo, e o atual prefeito João da Costa, ambos do PT, foram temas da entrevista concedida pelo deputado Luciano Siqueira (PCdoB) à Rádio Folha, por telefone, na manhã desta quinta-feira (24).

Leia abaixo, os principais momentos da conversa.

Rádio Folha – O senhor foi vice-prefeito de João Paulo e diversas vezes afirmou que tem um bom relacionamento com o atual prefeito João da Costa. Como o senhor avalia essa tentativa de aproximação dos dois? O senhor torce também por isso?

Luciano Siqueira – Eu sempre disse que na política as pessoas podiam se unir ou se afastar por razões políticas. Eu sou amigo-irmão de João Paulo e tenho um relacionamento fraterno com João da Costa. Fui testemunha por quase oito anos que, quando o prefeito João da Costa foi secretário nosso havia um relacionamento estreito entre ambos. Confesso que até hoje não tenho clareza do que de fato os separou. Penso que é sempre positivo quando duas pessoas do mesmo campo de forças, que em tese lutam pelo mesmo projeto político e estejam temporariamente afastadas, se encontram. O caminho de reaproximação é sempre positivo.

Agora, é preciso sublinhar que as forças que compõem a Frente Popular não devem aguardar essa reaproximação como elemento definidor do projeto eleitoral de 2012. Isso porque, este é um assunto interno do PT, não cabendo aos demais partidos direta ou indiretamente contribuir para resolver o problema. O que nos cabe é aguardar que em tempo hábil se defina que proposição se tem a oferecer para o pleito do ano que vem. Provavelmente depois do carnaval vamos sentar à mesa para analisar a proposta do PT. Assim também vamos considerar outras manifestações que estão colocadas na cena política por parte do PSB, PTB, etc. Penso que para dois companheiros que defendem o mesmo projeto político a reaproximação é positiva, mas isso não pode ser definidor da conduta da Frente Popular.

Rádio Folha
– O prefeito João da Costa deixou em aberto essa possibilidade de reconciliação, mas falou que aguarda ainda a presença de uma pessoa que faça a intermediação, não necessariamente do partido, mas alguma pessoa que fizesse a intermediação. Ele até falou que na terra dele essa pessoa é chamada de corta jaca. O senhor disse que é amigo-irmão de João Paulo e tem uma boa relação com o prefeito João da Costa. Não seria o senhor o corta jaca?

Luciano Siqueira – Acho que eu não seria a pessoa mais indicada. Eu já fiz esse trabalho em outras ocasiões, na época em que todos os partidos estavam no PMDB, a grande agremiação da Frente, em 1992, a pedido de Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, para acompanhá-los em conversas inicialmente melindrosas, difíceis e posteriormente conversas mais soltas, no sentido de reaproximá-los, eles que estavam muito separados após o pleito de 1990. Eu fiz isso porque existia uma relação de confiança muito grande de Miguel Arraes para comigo, assim como Jarbas Vasconcelos. Coincidentemente ambos pediram que eu estivesse presente e pudesse colaborar com essa reaproximação. Uma reaproximação que foi temporária. Meses depois teve de fato uma grande divergência e Jarbas foi se candidatar com o apoio do PSB e outros partidos de esquerda.

Eu creio que esse assunto pode ser resolvido com a ajuda de alguém que seja do PT. Porque imagino que fatores do PT possam estar contribuindo para essa separação e só alguém e ou algumas pessoas do próprio PT, em minha opinião, é que estão mais habilitadas para contribuir nessa direção.

Rádio Folha – Quem seria do PT que poderia resolver essa situação?

Luciano Siqueira – Eu não sou dirigente do PT. Se fosse um problema parecido no PCdoB, onde isso geralmente não acontece, eu estaria muito à vontade até para aprofundar para o público, com os companheiros e companheiras que pudessem contribuir para essa reaproximação. Como é um assunto interno do PT, se eu sugerir alguém eu não estarei contribuindo para que as coisas fluam naturalmente, estaria me metendo onde não devia.

Rádio Folha – O senhor é amigo e irmão fraterno de Renildo Calheiros e tem uma boa relação com a deputada Teresa Leitão. Aqui no estúdio, ela até saiu em defesa do seu partido. Ao comentar afirmação da ex-deputada Terezinha Nunes de que Olinda quer se livrar do PCdoB, Teresa Leitão disse que “não é do PCdoB, o problema é Renildo”. O problema realmente é Renildo?

Luciano Siqueira – Não, eu acho que essa declaração da ex-deputada Terezinha Nunes, com todo respeito a ela, foi típica de alguém que não conhece a realidade de Olinda e se prejudica nas avaliações. Com todo respeito, eu repito, acho que a ex-deputada Terezinha Nunes está entrando no cenário de Olinda como o cego que entra em uma casa em que não sabe exatamente por onde caminhar, e é preciso a ajuda de alguém para saber onde estão os móveis. O que não é o caso da deputada Teresa Leitão, que tem vínculos reais com Olinda e conhece a realidade do município.

Eu vi a declaração da minha colega Teresa Leitão e faço reparos. Teresa sim conhece a realidade de Olinda, mas eu creio que a conclusão que ela tira é precipitada e incorreta. Precipitada e incorreta porque se todo governo tem seu tempo, tempo de maturação, tempo de realização intensa e tempo de colheita, em Olinda esses tempos estão duramente afetados por uma situação estrutural vivida por todo e qualquer prefeito, como foi vivido nos dois mandatos consecutivos pela nossa companheira Luciana Santos.

Qual é o problema estrutural de Olinda? Dito de maneira resumida é que Olinda tem a dimensão e problemas de cidade grande e uma receita própria de cidade pequena e, portanto, depende muito da capacidade política do gestor de buscar recursos junto ao Governo do Estado e junto ao Governo federal. Nossa companheira Luciana Santos enfrentou esse problema em dois mandatos, contando no seu segundo mandato com a contribuição decisiva do atual prefeito Renildo Calheiros, que era deputado federal pelo PCdoB, vice-líder do governo Lula e guarda relações muito estreitas com o governo e Congresso Nacional.

E assim mesmo, Luciana enfrentava essa época do ano muitas dificuldades. Primeiro, porque era período de chuvas e qualquer prefeito de cidade acidentada passa por um período de insatisfação da população por causa das chuvas, por mais que esteja preparado, e Renildo se preparou, por mais que tenha agido, e Renildo agiu. Em segundo lugar, é que no caso de Renildo agora há um paradoxo que a deputada Teresa Leitão e a população precisam prestar atenção. Qual é o paradoxo? É que nunca houve na historia recente de Olinda tantas obras, tantos recursos conquistados para benefício da população de Olinda, para melhoria de infraestrutura da cidade.

Acontece que, com a segunda fase da crise internacional, que veio muito aguda, e está afetando os EUA e a zona do euro e a Europa e, portanto, com ameaça sobre a economia brasileira, tanto o Governo do Estado quanto o Governo federal, embora os recursos estejam comprometidos, se seguraram muito e só agora no final deste ano e no começo do ano que vem é que vão liberar. Renildo, por exemplo, teve a oportunidade de dizer para vocês que faz mais de um ano que essa grande obra de restruturação da orla não recebe nenhum tostão e várias obras estão caminhando lentamente porque os recursos federais estavam contidos.

Mas, Renildo mercê da confiança que guarda com a presidenta Dilma, das ótimas relações com os ministérios, com a Câmara e o Senado, tem frequentado pessoalmente Brasília e tem o compromisso do Governo federal e governo de Eduardo Campos, que tem ajudado muito Olinda, de nessa fase atual em que há sinais claros de que embora a crise se aprofunde na Europa o Brasil responde bem, intensificando os investimentos públicos, sobretudo, em infraestrutura.

Não há duvidas de que a situação de Olinda não é com Renildo, é com a gestão, é com o PCdoB porque não há diferença entre Renildo e o PCdoB. Nós compreendemos o percurso que Renildo está cumprindo em Olinda.

Rádio Folha – Agora, quando a deputada Teresa Leitão faz uma afirmação dessas é sinal de que há intenção de o PT e o PCdoB se separarem em Olinda?

Luciano Siqueira – Não, eu não creio que seja essa a intenção da deputada Teresa Leitão e muito menos do prefeito Renildo Calheiros. A deputada, como tenho dito repetidas vezes, está no direito e tem legitimidade para se apresentar como alternativa de seu partido e de buscar apoio de outras forças da Frente Popular como opção da sucessão de Renildo Calheiros.

Assim como, Renildo tem agido de maneira absolutamente correta, presta atenção ao que a deputada Teresa Leitão fala, como presta atenção ao que esse bloco de oposição vem dizendo, mas evita esse debate agora porque está inteiramente dedicado à gestão, o que ele faz muito bem. O que ele tem dito à população de Olinda é que a pauta deste momento é trabalhar intensamente, é a superação dos problemas que estão em curso. Como prefeito, ele tem que garantir a liberação dos recursos que conquistou para completar as muitas obras que estão em andamento. Com todo respeito às declarações dos companheiros da Frente Popular e da deputada Teresa Leitão.

Fonte Site de Luciano Siqueira