PCdoB goiano realiza encontro sobre questão agrária

Em reunião histórica, diversas lideranças do setor se reuniram em Goiânia para debater "a realidade do trabalho no campo em Goiás" e estratégias de luta na área.
 

O PCdoB de Goiás promoveu, na última sexta-feira (09) um encontro que reuniu a militância ligada ao trabalho camponês de todas as regiões do estado.

O 1º Encontro de Questões do Campo foi realizado na Sala das Comissões, na Câmara Municipal de Goiânia e reuniu diversas lideranças rurais e representantes de entidades e cooperativas.

O encontro teve o objetivo de fazer um diagnóstico da luta dos camponeses em Goiás, identificando suas maiores dificuldades e seus principais avanços, a fim de traçar uma linha de atuação para o próximo período. A reunião, que começou pela manhã e só se encerrou no início da noite, foi avaliada pelos presentes como altamente produtiva e histórica para o movimento em Goiás.
Entre as várias lideranças presentes, destacam-se as presenças do Gerente da Central das Cooperativas de Agricultura Familiar (CECAF), Wilson Gottens, do superintendente do Incra em Goiás, Jorge Tadeu Jatobá Correia, do membro do Comitê Estadual e liderança na luta pela reforma agrária Luis Afonso, do diretor técnico da EMATER, Robson Luis, do Secretário de Política Agrícola da FETAEG, Divino Goulart, do membro do Comitê Central do PCdoB, Marcelo Cardia, entre outros.
O PCdoB e a luta no campo
Os trabalhos foram abertos com a fala do presidente estadual do PCdoB e vereador de Goiânia, Fábio Tokarski. Em sua fala, ele enfatizou o período de crescimento que o PCdoB vem atravessando nesse último ano, com muitas filiações dos trabalhadores rurais. Ressaltou também o período turbulento da economia mundial, com o agravamento da crise em diversos países da Europa e nos Estados Unidos e as consequentes guerras que aconteceram e estão em curso no mundo.
 
Fábio Tokarski também assinalou que a questão agrária está bastante presente no Programa Socialista para o Brasil, onde o partido apresenta o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND). “É necessário um empenho de todos os militantes do partido na aplicação das orientações do NPND. E isso só será possível quando nós trocarmos ideias sobre a melhor forma de fazê-lo em nosso estado”, finalizou Tokarski.
 
A presidenta do PCdoB em Goiânia e deputada estadual, Isaura Lemos (foto), ressaltou o papel histórico do encontro e afirmou que é papel do partido levantar a bandeira da reforma agrária e da defesa dos camponeses. Disse também que essa é uma luta difícil, pois envolve diversos setores poderosos da sociedade. “Falar de reforma agrária, mexer na questão da terra, é mexer em todos os poderes constituídos”, assinalou Isaura.
 
A deputada estadual também destacou a importância da agricultura familiar para o país e para Goiás, citando um estudo do Incra que indica que 70% dos alimentos consumidos nas cidades são oriundos desse formato de produção. Defendeu também a necessidade de se “formular uma nova proposta agrária para o Brasil, que vá além da luta imediata pela terra e que considere outros aspectos que são muito importantes no trabalho rural”.
Diagnóstico
Em seguida, falou o superintendente do Incra em Goiás, Jorge Tadeu. Em sua fala ele alertou que é fundamental que se adotem políticas que beneficiem a agricultura familiar e os assentamentos, que geram mais empregos no campo. “O seguimento alimentar do Brasil não pode estar nas mãos das grandes propriedades. Precisamos adotar uma nova forma de produzir, consumir e viver”, afirmou Jorge.
 
O superintendente disse ainda que é preciso estar atento à aquisição de terras por grupos estrangeiros e que, para que a reforma agrária avance, é necessária uma urgente atualização dos índices de produtividade. Citou ainda as dificuldades estruturais encontradas pelo Incra. “Em 1985, quando foi criado, o Incra tinha 10 mil funcionários. Hoje nós temos apenas 5 mil, e atendemos uma demanda 10 vezes maior".
 
O integrante do Comitê Estadual do PCdoB, Luis Afonso, ressaltou a importância do encontro e frisou que é preciso levar o debate dos problemas do campo para toda a sociedade. “É preciso desconstruir a ideia e que o debate da reforma agrária e da agricultura familiar está ultrapassado. A burguesia tem se utilizado desse instrumento para impedir qualquer avanço nessas áreas”.
 
Luis Afonso, que também é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou ainda que o investimento agrícola é sempre de alto risco e que é necessário que os pequenos produtores rurais, sejam assentados ou de agricultura familiar, recebam assistência técnica sobre a produção, sob pena de não conseguirem se sustentar no campo. “A produção agrícola é diferente de qualquer outro tipo de produção. Estamos sujeitos às intempéries e a diversas outras variáveis. Por isso, ninguém consegue produzir no campo sem uma orientação técnica”, disse Luis.
 
Saídas
 
O encontro contou com a presença de Marcelo Cardia, membro do Comitê Central do PCdoB e do Comitê Estadual do partido em São Paulo, onde exerce a tarefa de acompanhar a questão do trabalho rural. Em sua fala, ele fez diversas ponderações a cerca da questão agrária no Brasil, explicando que aqui tivemos um processo completamente diferente dos outros países e que, por isso, precisamos de uma política específica.
 
Marcelo ressaltou que os diversos problemas enfrentados no campo são fruto de um desmonte do Estado brasileiro, processo que começou a se reverter com a vitória de Lula em 2002.“Esse desmonte é responsável, por exemplo, pela falta de assistência técnica aos pequenos produtores. Todos sabemos que trabalhar com agricultura não é fácil. Por isso, essa orientação deve ser dever do Estado”, afirmou Cardia.
 
Outro ponto abordado pelo comunista foi a necessidade de inserir a agricultura familiar dentro das grandes cadeias produtivas, para que elas se tornem economicamente viáveis. Para isso, é fundamental que o governo atue. “Fora da política não há salvação”, finalizou.
 
Ao final de todas as falas, foi deliberado pelos participantes que será organizado um fórum permanente sobre a questão agrária no estado para que o partido possa acompanhar melhor e para que a intervenção dos comunistas na área se dê de forma mais qualificada. 
Texto e fotos: Artur Dias