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China pode ser a salvação da lavoura para América Latina

As relações entre a China e o Brasil têm despertado críticas e controversas pelo fato de o país asiático importar mercadorias de baixo valor agregado (commodities) e exportar produtos industrializados. Mas a verdade é que a China pode ser a salvação para a lavoura neste momento de crise não apenas para o Brasil como para o conjunto da América Latina, na opinião do economista Joseph Stiglitz.

Os chineses provavelmente vão estimular sua economia no ano que vem, elevando a demanda por commodities latino-americanas e blindando os países da região em relação à crise da dívida europeia, na avaliação do economista, que já foi presidente do Banco Mundial e ganhador (em 2001) do Prêmio Nobel de Economia.

Austeridade é o perigo

Pode-se confiar que a China irá usar suas enormes reservas para tentar evitar um declínio econômico, mas a maior ameaça à América Latina vem da reação de austeridade da Europa aos seus problemas financeiros, disse o ex-economista-chefe do Banco Mundial.

A América Latina não só deve sofrer uma redução nas suas exportações para a Europa como também será prejudicada pelo aperto na concessão de crédito pelos bancos espanhóis, que têm forte presença na região. Eventualmente, as filiais latino-americanas desses bancos serão obrigadas a fazer remessas para a matriz.

Recessão na Europa

O banco Santander, por exemplo, tem grande presença no Brasil, maior economia da região, além de ser também o maior banco do Chile.

“A Europa está entrando em recessão, e isso vai abalar a demanda", disse Stiglitz, conhecido por sua defesa de maiores gastos governamentais em épocas de crise.

“É difícil não ver que esses bancos espanhóis operando no Chile passarão por uma contração. Isso vai exigir uma gestão muito cuidadosa da oferta de crédito", afirmou.

Desaceçeração na China

Desde antes de 2008, quando o estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos desaguou na crise mundial, a América Latina desfruta de um forte crescimento econômico, alimentado parcialmente pelo insaciável apetite chinês por matérias primas. Agora estão surgindo sinais de desaceleração na China, enquanto a Europa luta para encontrar uma solução para o seu excessivo endividamento.

China e Europa são os principais parceiros comerciais de países produtores de commodities, como Argentina, Brasil (ambos ricos em grãos), Venezuela (petróleo) e Chile (cobre). A diferença é que a demanda chinesa, crescente, faz do país asiático um parceiro ainda mais importante que a União Europeia. A capacidade de consumo na China, no caso dado em grande medida pelas reservas, é também maior, uma vez que os ajustes para pagamento da dívida requerem uma redução da dimensão do mercado comum europeu.

Reservas
e estímulo

"Os chineses estão sentados sobre 3 trilhões de dólares em reservas, e quando eles mandam seus bancos emprestarem, eles emprestam", disse o economista norte-americano.

“Se a economia chinesa precisa de estímulo, eles têm recursos e vontade política para isso. Também, ao contrário dos Estados Unidos, eles não têm metade do país comprometida com uma ideologia que diz que a forma de resolver os problemas é cortar gastos", afirmou. "Se a economia deles desacelera, eles gastam para continuar andando."

Juros

“Apesar do estímulo chinês”, disse Stiglitz, as economias latino-americanas "quase certamente" se ressentirão da crise em 2012, o que levará os governos a facilitarem o acesso ao dinheiro.

No caso do Brasil, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff declarou na sexta-feira que ainda há bastante margem para cortes nos juros, de forma a estimular a economia frente à fraqueza global.

Deslocamento do poder

Em seu curso sinuoso e assimétrico, a crise internacional vai reforçando as mudança decorrentes do desenvolvimento desigual das nações, acentuando o declínio do chamado Ocidente (ou da tríade formada por EUA, Japão e União Europeia) e o deslocamento do poder econômico para o Oriente, sob a liderança da China, e os emergentes.

Não restam dúvidas de que, na atual conjuntura, os países latino-americanos que lutam por desenvolvimento e soberania, em contraposição ao imperialismo estadunidense, se beneficiam da ascensão da China e, conforme notou Stiglitz, têm no mercado daquele país um eficiente amortecedor contra a recessão na Europa, uma blindagem contra a crise mundial. Já foi assim, em certa medida, na crise de 2008, quando a demanda chinesa também se revelou um fator fundamental, ao lado do fortalecimento do mercado interno, para reduzir os impactos da crise no Brasil e outras economias da região.

É preciso ressalvar que nem tudo são flores nesta mudança do centro dinâmico do comércio e da produção para a China e a Ásia. Exportar commodities e importar mercadorias intensivas em tecnologia e com maior valor agregado não é bom negócio para ninguém, ainda que os preços das matérias-primas tenham alcançado níveis históricos elevados (e talvez inéditos) em função da demanda chinesa, que alterou os termos do intercâmbio internacional a favor dos países mais pobres que produzem commodities. Apesar dos lucros dos exportadores de commodities (minério de ferro e soja, principalmente), o Brasil não pode se furtar a proteger sua indústria, ameaçada pela concorrência, e investir na modernização do seu parque produtivo.

Da Redação, com agências