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Marcos Aurélio: Braguinha foi o arquiteto das músicas de carnaval

Há cinco anos perdíamos um dos grandes compositores na música popular brasileira. João de Barro ou Braguinha foi autor de grandes clássicos do carnaval.

Por Marcos Aurélio Ruy*


Braguinha em copacabana, Rio de Janeiro / foto: Guto Costa

Quando em 1931 Carlos Alberto Ferreira Braga entrou para o curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro adotou o pseudônimo de João de Barro, justamente o pássaro arquiteto. O apelido foi adotado também para não desgostar ao pai que não desejava ver o nome da família vinculado ao ambiente da música popular, na época visto como um ambiente de marginais, malandros, negros, pobres. Mas os tempos mudaram, embora o racismo persista.

Braguinha nasceu em 26 de março de 1907, no Rio de Janeiro e viveu a adolescência em terras de Noel Rosa, na Vila Isabel, portanto, a música popular atingiu cedo o garoto que se transformaria no “poeta do carnaval” brasileiro. Integrou o Bando dos Tangarás, ao lado de Noel Rosa, Alvinho e Almirante. Tornou-se célebre e emplacou grandes sucessos nos carnavais das décadas de 1930 e 1940. Foi ele também que, em 1937, escreveu a poesia para o samba-choro “Carinhoso”, feito 20 anos antes por Pixinguinha. Gravado inicialmente por Orlando Silva, “Carinhoso” se transformaria numa das canções mais executadas da MPB em todos os tempos.

Em suas cerca de 500 canções gravadas há inúmeros clássicos inesquecíveis que são executadas ainda hoje, principalmente no carnaval. Quem nunca entoou “As Pastorinhas”, composta em parceria com Noel Rosa em 1934, também uma das músicas mais executadas e conhecidas da MPB. Outros grandes clássicos do autor estão na memória popular como: “Pirata da Perna de Pau”, “Chiquita Bacana”, “Touradas de Madri”, “A Saudade Mata a Gente”, “Balancê”, “Turma do Funil”, “O Amor é um Bichinho” e inúmeros outros clássicos. Também fez músicas infantis.

Sua primeira gravação consta de 1929 e a última de 2000. João de Barro ou Braguinha morreu em 24 de dezembro de 2006, três meses antes de completar 100 anos de uma vida dedicada à música e a cultura popular. O “poeta do carnaval” vive, porém, na memória dos brasileiros, apesar da indústria cultural favorecer apenas o imediato suas obras insistem em permanecer como símbolos de uma resistência. Muitos cantores gravaram suas músicas como Dick Farney, Lúcio Alves, Paulinho da Viola, Caetano Veloso e Gal Costa, Elizeth Cardoso, Silvio Caldas, Orlado Silva, Marisa Monte, entre muitos outros.

Braguinha conta como conheceu Noel Rosa, como compôs As Pastorinhas em parceria com Noel, e sobre a formação do Bando de Tangarás:

Clássicos de Braguinha:

Carinhoso
com Pixinguinha ( melodia de 1917 e letra de 1937)

Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.

Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.

Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
À procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,
Bem feliz.

Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz

As Pastorinhas
com Noel Rosa, 1934

A estrela d'alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor

Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar

A Saudade Mata a Gente
com Antonio de Almeida, 1948

Fiz meu rancho na beira do rio
Meu amor foi comigo morar
E nas redes nas noites de frio
Meu bem me abraçava pra me agasalhar
Mas agora, meu Deus, vou-me embora
Vou-me embora e não sei se vou voltar
A saudade nas noites de frio
Em meu peito vazio virá se aninhar

A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente

Touradas de Madri:

Eu fui as touradas em Madri
Para tim bum, bum, bum
Para tim bum, bum, bum
E quase não volto mais aqui
Para ver Peri beijar Ceci
Para tim bum, bum, bum
Para tim bum, bum, bum
Eu conheci uma espanhola natural da Catalunha
Queria que eu tocasse castanhola
E pegasse o touro à unha
Caramba, caracoles, sou do samba
Não me amoles
Pro Brasil eu vou fugir
Que é isso é conversa mole para boi dormir
Para tim bum, bum, bum
Para tim bum, bum, bum


*Colaborador do Vermelho