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EUA usaram aterro secreto para enterrar soldados

No início do mês de dezembro revelou-se na mídia americana que a força aérea dos Estados Unidos utilizou secretamente um aterro para dispor dos restos incinerados de centenas de soldados mortos em ação durante a "guerra contra o terrorismo".

Por Guy Adams, no The Independent

Números publicados no início do mês mostram que os restos parciais de 274 homens e mulheres foram enviados para um local no condado King George, Virgínia, entre 2004 e 2008. As famílias, que tinham dado permissão para que os restos fossem dispostos de uma forma “digna”, nunca foram informadas dessa prática.

A escala do escândalo é muito maior do que se pensava previamente. Além de 976 fragmentos de corpos identificados, os registros do Pentágono mostram que 1762 restos adicionais não identificados do campo de batalha, demasiado danificados para serem submetidos a análise de ADN, também terminaram no aterro.

Os responsáveis dizem que não têm planos de contatar as famílias dos soldados para as informar do destino dos seus entes queridos. Dizem que estabelecer as identidades dos homens e mulheres afetados seria "demasiado dispendioso" e "demoraria muito tempo".

Uma carta do Pentágono a Rush Holt, uma congressista democrata que investiga o caso para uma eleitora cujo marido foi morto no Iraque, argumenta que determinar a quem pertencem os restos que foram para o aterro, "requereria um esforço massivo" e implicaria examinar os registros de cerca de 6.300 soldados.

"Que diabos!", respondeu Holt no Post. "Gastamos milhões, dezenas de milhões, para encontrar algum rastro de soldados mortos, e eles estão preocupados com o esforço 'massivo' de voltar atrás, puxar os arquivos e averiguar quantos soldados foram desrespeitados desta maneira? Eles simplesmente não querem fazer perguntas ou averiguar". Há um mês atrás, investigadores federais publicaram um relatório muito crítico revelando "má administração grosseira" por parte da morgue na base aérea de Dover, o principal porto de entrada para os corpos de soldados estadunidenses mortos em ação que regressam aos EUA.

Descobriu-se que partes de corpos foram deixados em congeladores durante meses e mesmo anos. Num incidente, o braço desfigurado de um marine morto foi removido com uma serra, sem permissão dos seus pais, para que pudesse caber no caixão.

Denunciantes que tentaram atrair a atenção para as más práticas na morgue foram ignorados ou ameaçados com demissão. O "padrão de falha" identificado no relatório estendeu-se a partes de corpos de soldados caindo de sacos de plástico e misturados com os restos de outros. Numa carta a uma viúva de guerra divulgada pelo Post, o diretor da morgue, Trevor Dean, afirmou que a prática tinha sido comum desde pelo menos 1996, quando ele começou a trabalhar ali.

Que o escândalo não tenha chegado ao conhecimento público mais cedo talvez seja um subproduto natural dos esforços de sucessivos presidentes para manter a base aérea de Dover afastada do escrutínio público. Durante a primeira guerra do Golfo, George H. W. Bush baniu a cobertura noticiosa do regresso dos caixões com os soldados mortos ali. A proibição foi continuada pelo seu filho durante a segunda guerra do Golfo, e levantada pelo governo Obama em 2009.

Fonte: Informação Alternativa