Indignados comemoram ano novo na Espanha
Os indignados voltam ao centro de Madri para celebrar o Ano Novo de olho em mudanças“Festa do ano do resgate” também comemora sucesso do movimento, que inspirou o Occupy Wall Street, em Nova York, Estados Unidos.
Publicado 31/12/2011 14:08
A tradicional comemoração do Ano Novo na praça Puerta del Sol, em Madri, que chega a reunir cerca de 30 mil pessoas por ano, será diferente neste sábado. O Movimento 15-M, que encabeçou os protestos de maio deste ano contra o sistema político espanhol e seus vínculos com o setor financeiro, planeja um ato lúdico-festivo para receber 2012 no mesmo local em que milhares de manifestantes estiveram acampados por vários meses.
As (A)campanadas en Sol 31-D, nome que está sendo divulgado nas redes sociais para divulgar o ato, é um trocadilho com acampamento (acampada em espanhol) e badaladas (campanadas), em referência às 12 badaladas do relógio da Real Casa dos Correios na Puerta del Sol, que soam todos os anos à meia-noite do dia 31 de dezembro. A tradição é comer 12 uvas nessa ocasião para ter sorte no ano seguinte.
Os indignados irão às (A)campanadas com roupas e assessórios amarelo-ouro, cor adotada pelo movimento, e terão como ponto de encontro a estátua de Carlos III no centro da praça, em que o antigo monarca está montado em um cavalo. A reunião será às 23h. A cor uniforme é um fator importante de identificação, já que os madrilenos geralmente comemoram o Ano Novo com várias peças coloridas.
A idéia dos manifestantes é mostrar à meia-noite, de forma criativa, diversas mensagens defendidas pelo movimento nos últimos meses (ambientais, pacifistas, econômicas, políticas, entre outras). O horário é estratégico, já que as câmeras de televisão transmitem ao vivo desde Sol as comemorações da virada do ano. O “Feliz Ano do Resgate” é uma das mensagens que circulam pelas redes sociais do 15-M.
A diretora de teatro Aurora López, de 32 anos, participa das assembléias de bairro do 15-M no distrito de Arganzuela. No domingo passado, o grupo se reuniu para organizar a “Cavalgada Indignada” no dia 28/12 – evento que fez alusão à tradicional Cavalgada de Reis na Espanha no dia dos Santos Inocentes, mas com bandeiras levantadas pelos indignados. Apesar de o assunto ser outro, ali já começaram os rumores sobre os preparativos para o ato no réveillon.
Aurora conta que, como o controle policial de Puerta del Sol no Ano Novo geralmente é rígido, não será possível levar objetos pontiagudos para sustentar os cartazes. Por isso, uma opção seria escrever as mensagens em guarda-chuvas, ou utilizar sua estrutura de metal para sustentar as cartolinas com as mensagens. “Seja como for, será algo inesperado”, comenta. Ela teme que, este ano, o acesso à praça seja mais restrito, já que o ato já é de conhecimento público e vem sendo divulgado pela imprensa.
“Espero que a situação melhore, que os políticos decidam enxergar as reais soluções dos problemas e tenham coragem de realizá-las”, disse. Aurora acredita que essa é a mudança de base que trará outras mudanças fundamentais. Ela gostaria de sair do aluguel e voltar a dedicar-se ao teatro, já que atualmente trabalha como operadora de telemarketing para sustentar a casa. No seu bairro, os maiores problemas enfrentados são o desemprego e o tráfico de drogas, e são esses os principais focos de ação da assembléia local do 15-M.
Maré Verde
Outra manifestação marcada para o réveillon foi convocada pela Maré Verde, o grupo de professores espanhóis dos níveis fundamental e médio que protestam contra o corte de gastos na educação pública. Eles integram a corrida de São Silvestre em Madri, que tem 10 quilômetros de extensão. Todos vestidos de verde, que é a origem do apelido do movimento.
Fonte: Opera Mundi