Átila Bezerra: A greve do fim do mundo
Os Maias, povo pré-colombiano habitante do México, já amedrontaram os místicos e pós-religiosos em todo o planeta, prometendo o final […]
Publicado 03/01/2012 19:13 | Editado 04/03/2020 16:30
Os Maias, povo pré-colombiano habitante do México, já amedrontaram os místicos e pós-religiosos em todo o planeta, prometendo o final do mundo para dezembro de 2012. Mas será que esse final de mundo já não começou por aqui? Nunca assistimos Fortaleza em pânico generalizado tão grande. Parece realmente que o mundo está prestes a acabar, essa é a sensação. As TVs e emissora de rádio não pararam de anunciar o Armagedom Iracemiano, os portais e as redes sociais construíram um espaço público, a ágora alencarina, onde o medo e a insegurança anunciavam as trombetas (dos arrastões) e os raios (sem trocadilho com o segmento da PM).
Sim, a situação é grave e exige respeito e atenção. Mas há algo faltando nesse entendimento que pode ser uma espécie de compreensão mútua entre uma força superior (o governo), uma força de tensão (os trabalhadores policiais e bombeiros) e os personagens kafkianos que não entendem muito bem o que está acontecendo, mas torna-se a principal vítima do conflito (a população, amedrontada e sem perspectiva). Fortaleza vive um clima de tensão nas ruas, casas, apartamentos, favelas, comércios, repartições públicas, bairros, carros com vidros levantados.
O Leviatã cearense está em algum lugar que não se sabe. O medo absurdo, a sensação de impotência é quase becketheana, onde Godot não vem para nos salvar, onde o Poder redentor nos deixa aflitos e sem perspectivas. O Governador está fazendo uma análise. O Caos está instalado e as nossas esperanças estão quase se esvaindo. Não há poesia, não há lirismo, o que há é uma sensação de pedra bruta, onde o horror está impresso em vermelho e o susto constante de branco em nossos rostos nas telas das redes sociais. Os boatos ajudam a pintar esses quadros, e a irresponsabilidade de quem os dissemina está custando caro.
Esse medo generalizado fala do medo do fim do mundo inconsciente, a pulsão de morte freudiana que acontece todos os dias. Com a fome, com o salário mínimo baixo, com a falta de hospitais, com a falta de escolas e creches, com o desemprego, com os juros altos, com as empresas que enganam o consumidor. O fim do mundo pode ser o fim da vida. Mas com o esse medo em nossa vida, esta se desfaz pouco a pouco. Assim, nós morremos aos poucos sem perceber. O fim do mundo, pra quem não tem esperanças, acontece todos os dias. E se no mundo dos meios de comunicação de massa e das redes sociais o fim do mundo vai ser televisionado e twittado, é importante que não fiquemos calados assistindo sentados, segurando um copo de suco, nossa vida se esvair com as mãos no controle remoto.
*Átila Bezerra é jornalista